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Óleo em praias do Nordeste preocupa setor de turismo; Petrobrás diz não ser dona do produto

Primeiras ocorrências foram registradas no dia 2 - oito dos nove Estados da região já foram atingidos; autoridades ambientais investigam origem do poluente

26 set 2019 - 11h41
(atualizado em 27/9/2019 às 11h17)
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RECIFE E SÃO PAULO - Um vazamento de petróleo cru se espalha por ao menos 105 pontos do litoral de Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe (8 dos 9 Estados do Nordeste). O poluente foi identificado em uma faixa de mais de 2 mil quilômetros da costa brasileira. O governo federal afirma que análises da Petrobrás já apontaram ser petróleo cru, de origem desconhecida e de tipo não produzido no Brasil.

O setor turístico afirma que ainda não há uma onda de adiamentos ou desistências, mas que o avanço da mancha pelo litoral preocupa. Entre as regiões afetadas, estão destinos bastante procurados, como João Pessoa, Ponta Negra (praia de Natal), Porto de Galinhas (na Grande Recife) e a Praia do Futuro, no Ceará.

Em nota, a Petrobrás disse que ter verificado "que o material encontrado não é produzido e nem comercializado pela companhia". Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a análise feita por Marinha e Petrobrás "apontou que a substância é petróleo cru, ou seja, não se origina de nenhum derivado de óleo". Conforme o órgão, a substância se trata de hidrocarboneto, conhecido como piche, e é a mesma em todos os pontos analisados. O Ibama avalia ser um acidente de extensão não vista antes, pela quantidade de praias onde a mancha de óleo já foi verificada em um período curto.

O Ibama recolhe amostras para identificar o responsável pelo vazamento. As primeiras manchas foram identificadas no dia 2. Desde então, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do governo federal, e a Marinha também investigam a situação. Até agora, o consenso dos órgãos ambientais é de que o problema tenha sido causado por uma embarcação no alto-mar. Segundo o governo sergipano, dois barris - um deles aberto - foram achados na costa do Estado, mas as autoridades não sabem se eles têm relação com a mancha.

O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema), informou que o resíduo foi classificado como de Classe D, segundo o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), e Classe 1, pelo padrão NBR (Norma Técnica Brasileira). Por isso, recomendou que a coleta do produto seja feita com ferramentas específicas para evitar contato direto com banhistas. A medida é "preventiva contra irritações e processos alérgicos", indica o documento sobre o piche, que provoca reações adversas no corpo, especialmente na superfície da mão, nos olhos e na boca. Não há evidência de contaminação de peixes ou crustáceos, mas a orientação é para que as autoridades locais de vigilância sanitária avaliem o pescado capturado nas áreas afetadas.

O Ibama já constatou a morte de seis tartarugas-marinhas - outras três sobreviveram - e uma ave, mas a fauna atingida pode ser maior. Se o responsável pelo despejo for identificado, mesmo que seja estrangeiro, poderá ser multado em até R$ 50 milhões, com base na Lei 9.605/1988, que pune condutas lesivas ao meio ambiente. O culpado por poluir o oceano terá, ainda, de responder pelo crime ambiental.

No Ceará, após sobrevoo pelo litoral por cinco horas nesta quinta, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente informou que não identificou mais manchas de óleo numa faixa até 12 quilômetros distante da costa. Para a pasta, isso significa que a mancha de óleo se dissipou no oceano ou foi levada pela corrente marinha. Equipes também têm feito observações por terra.

Sujeira chega a cartões-postais

O óleo já deixa o setor turístico em alerta. "Como você vai atrair visitantes para uma região que está sendo afetada por uma substância química?", lamenta o presidente da Associação Brasileira de Turismólogos e Profissionais do Turismo, Elzário Pereira. "O turista é atraído principalmente pelo litoral do Nordeste. Apesar de outros atrativos, o sol e a praia são os mais fortes. Certamente acontecerão cancelamentos de viagens."

Já Ruth Avelino, presidente da Empresa Paraibana de Turismo, ligada ao governo do Estado, acredita que os efeitos não serão tão grandes. "João Pessoa e Baía da Traição, no Litoral Norte, foi onde houve algum impacto. As pessoas começaram a perceber porque iam à praia e pisavam no que a gente chama de piche, que deixava o pé preto", conta. "Faz um mês que isso começou a aparecer. Mas é algo bem pontual. Não acredito que vai impactar, porque foi muito pouco, em algumas praias só."

Marcos Barbosa, proprietário de um restaurante no município de Pirambu, em Sergipe, onde o óleo chegou esta semana, afirma que já houve redução no movimento de turistas no local. "Desde quando começou a aparecer a mancha, reduzimos em 70% o fluxo de turistas. Se isso permanecer, até o fim de semana podemos perder até 90% dos turistas", projeta.

Funcionária de um hotel na Barra de São Miguel, na Grande Maceió, outra área afetada, Deyse Marinho indica que a insatisfação de clientes com a situação está preocupando a rede hoteleira. "O pessoal está reclamando muito no hotel e está sendo constante a reclamação de turistas indo à praia. A expectativa é de que esse tipo de acidente não ocorra mais e que sejam sanados os problemas."

O secretário de Turismo e Comunicação de Sergipe, Sales Neto, afirmou que ainda é cedo para fazer um diagnóstico, mas que certamente vai "trazer um prejuízo" se as manchas chegarem com intensidade às praias. A CVC, uma das principais companhias do setor turístico, informou monitorar e orientar suas equipes sobre cancelamentos ou questionamentos de clientes, mas disse até agora não ter chegado nada a eles.

É importante não tomar banho nem comer nas praias afetadas, diz professora

Para a professora Mônica Costa, do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco, a melhor solução é manter distância do produto, isolando as praias até conseguirem informações mais complexas sobre a substância. A fim de preservar a vida e a saúde das pessoas, é importante não tomar banho, pescar ou comer nas praias afetadas, diz ela.

A Petrobrás descartou a hipótese de a substância ter sido produzida ou comercializada pela companhia, mas afirmou que está cooperando para a limpeza das praias. Em nota, o Ibama disse que mais de 100 pessoas trabalham na limpeza das praias durante a semana.

Veja as praias do Nordeste afetadas pelo vazamento de petróleo:

Estadão
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