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Relatório da ONU fala em 'apartheid climático' e critica medidas do governo Bolsonaro

Conselho de Direitos Humanos alerta que efeitos do aquecimento global será mais severo contra populações vulneráveis. Defesa da mineração na Amazônia é criticada

25 jun 2019 - 21h32
(atualizado às 21h50)
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Um relatório do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) citou o Brasil como um dos exemplos de nação que está tomando medidas na direção contrária à necessária para enfrentar as mudanças climáticas. A promessa do governo Bolsonaro de liberar a floresta amazônica para atividades de mineração, o fim das demarcações de terras indígenas e o enfraquecimento das proteções e agências ambientais são medidas criticadas pela instituição.

O documento, que é assinado pelo relator sobre pobreza extrema do Conselho de Direitos Humanos da instituição, Philip Alston, tem foco nos efeitos do aquecimento global sobre a parcela da população que já é mais vulnerável. O mundo está caminhando para um "apartheid climático", onde os ricos compram saídas para os piores efeitos do aquecimento global enquanto os pobres têm de suportar o peso, descreve o relatório.

O documento aponta que as empresas têm um papel vital nas questões da mudança climática, mas não podem ser confiadas a observar as condições dos mais pobres. "Uma dependência excessiva do setor privado poderia levar a um cenário de apartheid climático em que os ricos pagam para escapar do superaquecimento, fome e conflitos, enquanto o resto do mundo é deixado a sofrer", escreveu.

Alston mencionou a situação de nova-iorquinos vulneráveis que sofreram sem energia elétrica ou atendimento médico quando o Furacão Sandy atingiu a região em 2012, enquanto a sede da Goldman Sachs foi protegida por dezenas de milhares de sacos de areia e força do seu próprio gerador".

Confiar exclusivamente no setor privado para proteção contra o clima extremo e a elevação do nível do mar "quase garantiria violações massivas de direitos humanos, com os riscos tendo as necessidades atendidas e os pobres sendo deixados para trás", ele escreveu. "Ainda no melhor dos cenários, centenas de milhões terão de encarar insegurança alimentar, imigração forçada, doenças e morte."

O relatório criticou governos por fazer pouco mais que enviar representantes para conferências para discursar, apesar de cientistas e ativistas estarem realizando alertas desde os anos 70. "Trinta anos de convenções parecem ter feito muito pouco. De Toronto a Noordwijk, do Rio a Kyoto e até Paris, a linguagem tem sido similar enquanto Estados continuam a evitar o problema", escreveu Alston.

Desde os anos 1980, só os Estados Unidos sofreram 241 desastres climáticos, o que custou mais de US$ 1 bilhão. Houve algumas evoluções positivas, como a queda no preço das energias renováveis, a perda de competitividade do carvão, a queda nas emissões de 40 países e o acordo entre 7 mil cidades e 6 mil companhias na mitigação desses efeitos climáticos.

Apesar disso, a China ainda exporta energia de usinas a carvão e tem falhado em reduzir suas emissões de metano. No Brasil, Bolsonaro planeja permitir mineração na floresta amazônica, restringir demarcação de terras indígenas e tem enfraquecido a proteção ambiental. O governo Bolsonaro desistiu de sediar neste ano a COP, conferência mundial sobre clima.

"Nos Estados Unidos, até recentemente o maior produtor global de emissões, o presidente Trump emprega ex-lobistas em cargos de supervisão, adotou o ponto de vista das indústrias, esteve à frente de uma redução agressiva em regulações ambientais, e está ativamente silenciando e ofuscando a ciência que trata do clima", escreveu Alston.

A presidência do Brasil não quis comentar o conteúdo do relatório. /COM INFORMAÇÕES DA REUTERS

Estadão
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