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Queimada na Amazônia em junho é a maior dos últimos 13 anos

De acordo com o Inpe, foram registrados mais de 2,2 mil focos de calor, volume que não era atingido desde 2007 e representa um aumento de 19,57% em relação a junho de 2019

1 jul 2020 - 12h02
(atualizado em 2/7/2020 às 11h47)
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BRASÍLIA - O Brasil fechou o mês de junho com o maior número de focos de queimadas na Amazônia dos últimos 13 anos. Foram registrados 2.248 focos de calor neste último mês na região, um volume que não era atingido desde 2007 e que representa um aumento de 19,57% em relação ao registrado em junho de 2019, quando 1.880 focos foram detectados.

São dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os números alarmantes colocam em xeque as medidas que o governo tem adotado para evitar que se repita o cenário catastrófico ocorrido no ano passado. O que tem ocorrido, porém, é uma devastação ainda pior.

Desde maio, o controle do desmatamento saiu do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e migrou para o chamado Conselho Nacional da Amazônia, liderado pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Numa tentativa de dar uma resposta à situação, o governo iniciou a operação militar "Verde Brasil 2". Os resultados da iniciativa, porém, como revelou o Estadão, estão inflados e embutiram em seu balanço operações de combate ao desmatamento que não tiveram nenhuma ligação com o apoio militar.

O emprego das Forças Armadas na floresta gerou um custo mensal de R$ 60 milhões, quase 80% do orçamento anual de fiscalização do Ibama, mas a resposta aos altos índices de desmatamento não chegou. "As queimadas contribuem para as crises globais do clima, da biodiversidade e com a catástrofe sanitária. O Brasil precisará fazer mais, se quiser detê-las", diz Rômulo Batista, da campanha e Amazônia do Greenpeace.

Para o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini, trata-se de um reflexo de uma abordagem permissiva do governo com o tema ambiental. "O governo optou por atacar todos os que defendem o meio ambiente no Brasil e enfraquecer a capacidade do Estado de combater o crime nesta área. O aumento das queimadas e do desmatamento na Amazônia são resultados diretos de um presidente que fez da destruição ambiental uma política de governo", critica.

O consultor jurídico do Instituto Socioambiental (ISA), Maurício Guetta, lembra que, "no primeiro dia do atual governo, em 2019, retirou-se do MMA a competência expressa para o combate ao desmatamento ilegal e às mudanças climáticas".

Na semana passada, um grupo formado por quase 30 instituições financeiras em todo o mundo divulgou uma carta na qual exige que o governo brasileiro freie o desmatamento no País. Para o grupo, a situação cria "uma incerteza generalizada sobre as condições para investir ou fornecer serviços financeiros ao Brasil".

O assunto foi comentado pelos presidentes dos bancos brasileiros. O presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, disse que o tema é o principal "perigo" que ameaça o Brasil. O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, destacou que "todo mundo falava de sustentabilidade", mas que, "de fato, nós temos de reconhecer que fizemos muito pouco em relação a isso".

A Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) acompanha o tema com preocupação. Sabe que pode ser diretamente atingida dentro e fora do País. "Quem queima é criminoso e merece ser punido. A FPA é contra qualquer queimada criminosa e trabalha pela aprovação da proposta de regularização fundiária", disse o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da FPA. "Sem escritura pública e identificação dos ocupantes, criminosos ficam livres para realizar queimadas e causar prejuízos ao meio ambiente, à agropecuária e à sociedade como um todo."

O diretor-executivo do WWF-Brasil, Mauricio Voivodic, lembra que as queimadas de 2019 ecoam até hoje no exterior. "O que vimos em junho certamente será muito mais dramático nos próximos meses, sem uma resposta contundente e eficaz", afirma.

Questionado sobre o assunto, o MMA não se manifestou. A Confederação Nacional da Agricultura também não comentou.

Por meio de nota, o Ministério da Defesa informou que a Operação Verde Brasil 2 contabilizou, até o dia 27 de junho, "10.404 inspeções, patrulhas, vistorias e revistas, 104 inutilizações de equipamentos como motores de garimpo, balsas, tratores, escavadeiras veículos, entre outros". "Também foram apreendidas 163 embarcações, 187 veículos diversos, 139 quilos de maconha, 218 quilos de pasta base de cocaína e 24.137 m3 de madeira", declarou.

Segundo o ministério, foram ainda embargados 31.880 hectares de terra e realizadas 133 prisões. "Somente neste último final de semana, foi realizada a apreensão de embarcações com mais de 1.000 toras de madeira", afirmou o ministério, que tem consolidado os dados da operação liderada pelo vice-presidente Hamilton Mourão.

Estadão
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