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Petróleo deve ser o foco pelas emissões no Brasil após 2030

Estudo aponta como causa o grande aumento previsto para a produção de combustível e gás natural nos campos do pré-sal

21 out 2021 - 16h32
(atualizado às 17h18)
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Extração de petróleo na França
 REUTERS/Christian Hartmann
Extração de petróleo na França REUTERS/Christian Hartmann
Foto: Reuters

Relatório internacional elaborado por cientistas, entre eles quatro da Coppe/UFRJ, aponta que o Brasil está entre os países que mais despertam preocupação em relação ao aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Para eles, o desmatamento poderá deixar de ser o foco no País pelas emissões entre 2030 e 2050, devido ao grande aumento previsto para a produção de petróleo e gás natural nos campos do pré-sal.

De acordo com o estudo 2021 Production Gap Report (Relatório de lacuna de produção de 2021), que detalha as estratégias e os planos de governo para a produção de combustíveis fósseis em 15 dos principais centros produtores, lançado na quarta-feira (20), os grandes produtores mundiais planejam produzir mais do que o dobro da quantidade de combustíveis fósseis em 2030 do que seria consistente para limitar o aquecimento global a 1,5°C, em linha com expectativas do Acordo de Paris.

O Brasil pretende quase dobrar sua produção de petróleo até 2030, e ressuscitou o carvão mineral com um programa de substituição das atuais usinas térmicas que usam a fonte poluente.

"A atual projeção do governo brasileiro é incompatível até mesmo com sua promessa recente de ser neutro em carbono em 2050. Por isso, imagino que os responsáveis pelas áreas de energia em geral, e de petróleo em particular, não estão conversando com aqueles da área ambiental no Brasil", avaliou o professor Roberto Schaeffer, um dos autores do relatório.

De acordo com Schaeffer, ao projetar dobrar sua produção de petróleo em um momento em que é necessário conter as emissões, o País fica em uma posição equiparável a Estados Unidos e Arábia Saudita, que também pretendem ampliar suas produções.

"Com isso, o principal foco de preocupação climática no país, que é o desmatamento, pode se tornar outro, entre 2030 e 2050, passando a ser a área de petróleo, gás natural e seus derivados", afirmou.

Produzido pelo Instituto de Meio Ambiente de Estocolmo (SEI), Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD), ODI, E3G e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o relatório mede a lacuna existente entre a produção de carvão, petróleo e gás natural planejada pelos países e os limites de produção globais que seriam necessários para o cumprimento do Acordo de Paris.

A maior lacuna é a do carvão, cuja produção está prevista para ser aproximadamente 240% maior do que o recomendável em 2030. Em seguida vem a do óleo cru, ultrapassando o limite em mais de 57%, e na sequência a do gás, com 71% a mais do que seria consistente com a limitação do aquecimento global em 1,5°C.

O relatório mostra ainda, que o total do volume planejado pelos grandes produtores de combustíveis fósseis para 2030 acarretará na produção anual de 36 bilhões de toneladas de CO2, uma quantidade que supera o dobro das 17 bilhões de toneladas, que seria a quantidade máxima de emissões associada à queima de combustíveis fósseis, conforme o Acordo de Paris.

Além do Brasil, fazem parte do grupo de grandes produtores: Austrália, Canadá, China, Alemanha, Índia, Indonésia, México, Noruega, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Estados Unidos.

Outra preocupação levantada pelo documento se refere aos recursos destinados para os combustíveis fósseis durante a pandemia da covid-19, que foram superiores aos destinados à energia limpa.

"Além disso, vários grandes produtores de carvão estão planejando continuar ou aumentar a produção para além de 2030, e tudo ocorre mesmo esses países tendo reduzido significativamente as finanças públicas internacionais para a produção de combustíveis fósseis nos últimos anos", alerta.

Para os 40 autores que assinam o relatório, os governos deveriam fortalecer a transparência, divulgando seus planos de produção nos documentos relacionados a seus compromissos climáticos para com o Acordo de Paris, levando em conta que os governos têm um papel primordial, que é fechar a lacuna de produção de uma forma que garanta que a transição para o abandono dos combustíveis fósseis seja justa e equitativa.

"Os governos podem restringir a exploração e extração de combustíveis fósseis, eliminar gradualmente os subsídios aos produtores e as finanças públicas para projetos de combustíveis fósseis, e redirecionar o apoio para a descarbonização e para esforços de transição justa", conclui o relatório.

Estadão
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