PUBLICIDADE

Mesmo poluentes, fontes fósseis ainda são necessárias para o Brasil

País se volta novamente ao carvão para ajudar a suprir o aumento da demanda energética

29 mar 2013 - 13h16
(atualizado às 13h16)
Compartilhar
Exibir comentários

O governo brasileiro levanta a hipótese de incluir o carvão mineral como fonte de energia elétrica em leilão no segundo semestre deste ano. Apesar da oposição de ambientalistas, o carvão mineral torna-se um "mal necessário" devido ao crescimento do consumo de eletricidade e à necessidade de diversificação da matriz energética, que não pode se restringir à sazonalidade de fontes renováveis.

Atualmente, a matriz energética brasileira é considerada uma das mais "limpas" do mundo industrializado, com 45% proveniente de fontes renováveis, como energia hidráulica, etanol, biomassa, eólica e solar. A capacidade da energia elétrica nacional é de aproximadamente 120 GW, dos quais 85 GW vêm de hidrelétricas e 36 GW de termelétricas - destes, 10 GW operam à base de biomassa.

Em média, 80% da energia mundial é "suja", gerada a partir de combustíveis fósseis, como carvão mineral, gás natural e petróleo. Esse tipo de fonte energética é formada por compostos de carbono e origina-se da decomposição de materiais orgânicos, um processo que leva milhões de anos. Por isso, é considerado não renovável, ao contrário, por exemplo, do vento e do sol.

Crescimento

Como se estima incremento da demanda por energia elétrica no País de 3% a 5% a cada ano, entre 2011 e 2021, procuram-se novas fontes para supri-la. "O Brasil terá que acrescentar aproximadamente 50 GW a sua matriz até 2021. Esses números evidenciam a necessidade do aumento do parque termelétrico", aponta Susanne Hoffmann, pesquisadora da pós-graduação e pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Impacto ambiental

Mas o impacto ambiental provocado pelas térmicas a carvão ainda é motivo de preocupação. Embora já existam alternativas para lidar com o impacto local, desde que adotado o padrão internacional, ainda não há tecnologia disponível em grande escala para reduzir a emissão de gás carbônico, responsável pelo efeito estufa. "As usinas termelétricas (UTEs) a carvão emitem de duas a três vezes mais CO2 por unidade de energia gerada que UTEs a gás natural", compara Susanne.

Comparativamente, o carvão mineral constitui-se da fonte energética que mais emite gás carbônico. Para cada tep (tonelada equivalentes de petróleo) de carvão consumido na geração elétrica, são emitidos perto de 4 toneladas de CO2, de acordo com o portal do governo sobre a matriz energética nacional. No caso de petróleo e derivados, as emissões de CO2 ficam próximas de 3 toneladas por tep consumido.

Por isso, muitos desaprovam a liberação do carvão: "O Brasil tinha banido o carvão dos leilões e estava privilegiando opções mais limpas. Levando em consideração o nosso potencial eólico, de biomassa e gás natural, não faz sentido nenhum liberar o uso do carvão. É o mais poluente de todos. O custo também não vale a pena. É um retrocesso", critica Ricardo Baitelo, Coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil.

Tecnologia atual

Conforme Susanne, do ponto de vista local, modernas tecnologias de purificação de gás podem reduzir a emissão de enxofre, nitrogênio e material particulado a um nível que torna os impactos aceitáveis, como já ocorre nos EUA, Alemanha e Japão. A pesquisadora reforça, contudo, que, no Brasil, limites tão restritos, como o dos EUA e União Europeia ainda não foram aplicados.

Já a redução de emissões de CO2 ainda não é possível. Hoje existem diferentes linhas tecnológicas em desenvolvimento, chamadas de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (Carbon Capture and Storage). "Esses sistemas de CCS em larga escala ainda não foram aplicados, devido à dificuldade de scale-up (escalonamento) e à grande penalidade energética de processos de separação de CO2, que afeta diretamente na quantidade de energia gerada e no balanço econômico da planta", explica Susanne. Assim, por enquanto, elas vão seguir emitindo CO2.

Estabilidade

Apesar de poluente, em cotejo com fontes renováveis, como a energia eólica e a solar, o carvão mineral representa uma fonte energética mais estável. "A inclusão do carvão mineral no próximo leilão de energia ocorre para proporcionar segurança energética para o País. E isso é estratégico. O carvão mineral significa energia firme, que não depende do regime de chuvas nem de ventos", justifica Fernando Luiz Zancan, presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral.

Outro fator para a utilização do carvão mineral é a quantidade disponível desse recurso no País, principalmente na região Sul. De acordo com Susanne, 2.487 Mt do carvão brasileiro é classificável como lavrável, isto é, de obtenção e uso economicamente viáveis. "Representando um combustível de menor custo e maior segurança de suprimento, quando comparado com gás natural, o carvão se mostra como alternativa interessante para alimentar usinas termelétricas no Brasil", explica. O Rio Grande do Sul possui cerca de 90% das reservas do material no País, além de projetos que poderiam ser retomados.

Projetos

Apesar de ser uma fonte "suja", o carvão é necessário - e sua participação na matriz energética, crescente. No período entre 2011 e 2013, projetos de UTEs a carvão, que venceram nos leilões A-5 de 2005 e 2007, estão entrando em operação, totalizando 1430 MW. "A capacidade instalada de UTEs a carvão até então era aproximadamente 1400 MW, portanto, a capacidade foi dobrada durante os últimos anos", salienta Susanne. E não para por aí. Projetos como o Jacuí, de 350 MW, Seival, de 600 MW, CTSul, de 650 MW, UTE Sulcatarinense, de 440 MW e a UTE Porto de Açu, de 2100 MW, que estão esperando participação em leilão, se forem viabilizados, acrescentarão capacidade de aproximadamente 4000 MW.

Entretanto, mesmo se todos os projetos de UTEs a carvão entrassem em operação, sua participação na matriz elétrica permaneceria menor do que a atual participação de biomassa, que é uma fonte renovável.

Gás natural

Segundo Alexandre Szklo, professor de planejamento energético da Coppe-UFRJ, as UTEs a gás natural (GN) normalmente geram menos poluentes de impacto local do que UTEs a carvão. O problema reside no custo do GN, bem mais oneroso do que o carvão. "Boa parte da nossa produção de GN está atrelada ao petróleo, é offshore (em alto mar), e não temos uma malha capilarizada de transporte de GN. O carvão tem um preço menor do que o GN, o que faz com que sua operação (custo variável) seja normalmente menos custosa", salienta Szklo.

Alternativas renováveis

Muitos apontam fontes renováveis, como energia eólica, solar e biomassa, como alternativas de investimento sustentável. Mas essas fontes, sozinhas, não dão conta da demanda. A ideia é conjugar forças: "O carvão não vai contra o desenvolvimento de fontes renováveis, pois a termoeletricidade a carvão e as fontes renováveis desempenham, neste momento, papeis diferentes na matriz elétrica", destaca Susanne.

Atualmente, o Brasil depende de hidrelétricas. E apenas 1/3 do potencial do País é utilizado. Então, por que não investir mais nessa energia? Além do custo financeiro e ambiental da construção de novas usinas, períodos com volume menor de chuva podem reduzir drasticamente os reservatórios e, com isso, colocar em perigo o fornecimento de energia do Brasil inteiro. Embora haja projetos para o setor, o consenso é de que se precisa diversificar.

A energia eólica vem se expandindo consideravelmente no Brasil e serve como uma fonte complementar, apesar de ainda responder por parcela mínima da matriz. Porém, Szklo alerta: "Não funciona encher de cata-ventos o Brasil inteiro, pois depende de uma fonte cuja existência é probabilística. Tem que ter alguma outra coisa pra trabalhar junto".

Também renovável, sazonal e variável, a energia solar conta com o agravante de não ter um custo competitivo. "Ainda falta pesquisa nessa área", reforça o professor.

Ou seja, para abastecer toda a demanda, não dá para depender de vento, sol ou água. "Para fases de seca ou falta de ventos, o sistema elétrico precisa ter a possibilidade de recorrer a fontes que podem ser acionadas independentemente dessas condições climáticas. Usinas termelétricas são, portanto, um elemento indispensável na matriz elétrica brasileira", afirma Susanne.

Na mesma linha, Zancan prega o uso de todas as fontes de energia, incluindo as fósseis, para garantir o crescimento do Brasil. "Podem ser prioritárias as renováveis, mas as fósseis, por questões estratégicas, de segurança energética, devem ser desenvolvidas. Não se coloca todos os ovos na mesma cesta", sentencia.

GHX Comunicação GHX Comunicação
Compartilhar
Publicidade
Publicidade