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Maneira mais fácil, rápida e barata de reduzir emissões é zerar o desmatamento; leia análise

Entre 1990 e 2020, segundo relatório da Organização Meteorológica Mundial, efeito do aquecimento do CO2 aumentou 47%

26 out 2021 - 17h04
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Relatório publicado segunda-feira pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) aponta que mesmo com a redução de emissões durante a pandemia do covid-19, a concentração de dióxido de carbono (CO2), principal gás responsável pelo efeito estufa, atingiu novo recorde com uma média de 413 partes por milhão (ppm), em 2020. Ou seja, as atividades econômicas estão alterando rapidamente a composição da atmosfera terrestre.

O crescimento das concentrações de gases de efeito estufa continuam, apesar dos alertas do último relatório do IPCC de que temos que reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa. Com a COP-26 acontecendo a partir da próxima semana em Glasgow, este é mais um alerta aos governos de que eles não estão fazendo suas lições de casa, inclusive o governo brasileiro.

A última vez que uma concentração comparável de CO2 foi registrada na Terra foi entre três e cinco milhões de anos atrás, quando a temperatura do planeta era 2 a 3 graus mais quente, com o nível do mar entre 10 e 20 metros mais alto que hoje. Mas, o aumento nas concentrações não é só do CO2, pois observamos que o metano tem hoje concentrações 262% maior que em 1750. O N2O tem concentrações 262% maiores que em 1750. Estes gases são emitidos principalmente pela produção de carnes e atividades agropecuárias.

A continuidade das emissões está associada ao aumento da temperatura e da ocorrência de fenômenos climáticos extremos, como a seca que estamos tendo no Brasil Central. Importante salientar que a maia vida atmosférica do CO2 é de vários séculos, portanto estamos realizando mudanças climáticas que podem ser muito duradouras, e trazem dificuldades enormes para que as próximas gerações possam produzir alimentos e tenham disponibilidade de água como atualmente.

O relatório da OMM também coloca que de 1990 a 2020, o efeito de aquecimento do CO2 aumentou 47%, e está sendo acelerado pela redução das absorções de CO2 pelos oceanos e ecossistemas terrestres pelo efeito de saturação.

O último relatório do IPCC coloca que temos que reduzir emissões a 5% ao ano, de 2020 a 2050, atingindo emissões líquidas zero em 2050, e emissões negativas entre 2050 a 2100 par limitar o aquecimento a 2 graus Celsius. Este novo relatório da OMM deixa claro que os negociadores na COP-26 têm maiores dificuldades ainda, pois as reduções de emissões do Acordo de Paris não estão ocorrendo, e as concentrações continuam aumentando e o aquecimento global se agravando. Eliminação da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento de florestas tropicais nunca foram tão urgentes. Importante salientar que a maneira mais fácil, rápida e barata de reduzir emissões é zerar o desmatamento. E isso trará benefícios enormes para o Brasil, entre eles a manutenção da rica biodiversidade a dos serviços ecossistêmicos, essenciais para a chuva no Brasil central.

*AUTOR-LÍDER DE UM DOS CAPÍTULOS DO RELATÓRIO DO IPCC E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP)

Estadão
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