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Garimpeiros no AM falam em buscar representação política para barrar ação policial

Rio Madeira teve 'invasão' de balsas após informação sobre descoberta de minério; grupos tentam apoio de autoridades locais

25 nov 2021 - 23h52
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BRASÍLIA - Garimpeiros que atuam de forma ilegal na Amazônia demonstram ter recursos em abundância para financiar incursões criminosas nos rios e florestas da região, mas reclamam da falta de proteção política. Como revelou o Estadão, a Polícia Federal articula ações para tentar conter o avanço de centenas de balsas de garimpo que estão reunidas há dias no Rio Madeira, num local onde teria sido encontrada uma grande quantidade de ouro por embarcações clandestinas. Outros órgãos federais participam dessa operação, como o Ibama e o Ministério da Defesa.

O Estadão teve acesso a mensagens de áudio e texto trocadas em grupos de garimpeiros que estão aglomerados nas águas do Rio Madeira, no Amazonas. Na conversa, um deles deixa clara a preocupação de ter proteção política. "Se não tiver um representante no governo para brigar pelos garimpeiros, pode ter certeza que, todo ano, vai ser essa frescura", diz o homem, referindo-se às operações de repreensão ao crime ambiental. "A polícia trabalha para o governo, pô. Depois que o governo dá a canetada, pode ter certeza. 'Aí, mano, deixa os garimpeiros trabalharem'. Não vai ter mais ninguém que embaça", afirma.

Os garimpeiros têm conversado com membros da Câmara Municipal de Autazes (AM), na tentativa de conseguir apoio de autoridades locais, sob o argumento de que suas atividades têm movimentado a economia no município. As movimentações políticas, porém, não se limitam à região.

Ouça abaixo:

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Em maio, o deputado estadual Cabo Maciel (PL-AM) pediu a senadores e deputados federais que integram a bancada do Amazonas em Brasília para que procurassem o presidente Jair Bolsonaro e tratassem da liberação do garimpo e da produção agropecuária na região sul do Amazonas.

Na bancada da Assembleia Legislativa, Cabo Maciel já dizia que as balsas dos garimpeiros começavam a se movimentar nas regiões dos municípios de Novo Aripuanã, Distrito do Matupi e Humaitá, para partirem para a extração de ouro no leito do Rio Madeira. Sua queixa era de que essas atividades careceriam de uma legislação específica que as liberassem, quando, na realidade, são proibidas.

A liberação do garimpo é um tema que sempre esteve presente na agenda de Bolsonaro, ainda durante a sua campanha presidencial. Em 2019, o presidente chegou a dizer que estava na hora de liberar a extração.

Em maio, Bolsonaro saiu em defesa dos garimpeiros e disse que "não é justo" criminalizar a atividade no País, que historicamente é marcada pela informalidade, falta de fiscalização pelo governo e invasão de áreas protegidas por lei, como unidades de conservação ambiental e terras indígenas.

"Não é justo, hoje, querer criminalizar o garimpeiro no Brasil. Não é porque meu pai garimpou por um tempo. Nada a ver. Mas, no Brasil, é muito bacana o pessoal de paletó e gravata dar palpite em tudo que acontece no campo", disse Bolsonaro, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada.

A afirmação foi feita na semana em que os indígenas Yanomami que vivem em Roraima foram surpreendidos por garimpeiros que, a partir de barcos, dispararam tiros de fuzis contra a população.

Há garimpeiros que atuam legalmente no Brasil, por meio de cooperativas. Essa atuação, porém, é ínfima em relação ao que, de fato, prolifera em todo o País, de forma descontrolada e praticando crimes de toda ordem.

A liberação da mineração em terras e rios, somente na área da Amazônia Legal, atingiria diretamente 40% da região, onde estão as florestas de proteção integral e as terras indígenas. A Amazônia Legal abrange nove Estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, além de parte do Maranhão. Procurados, Cabo Maciel e o Planalto não comentaram até a publicação desta notícia.

Estadão
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