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Futuro vai depender de decisões deste ano

Medidas do início desta década poderão ser marco definitivo entre preservar ou destruir

27 jun 2021 - 15h13
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O ano de 2021 é considerado fundamental para a sustentabilidade no mundo, por causa de uma soma de fatores. Além de uma maior conscientização decorrente da pandemia, que demonstrou a nossa vulnerabilidade diante do desequilíbrio do planeta, trata-se do início da década que demonstrará se a humanidade é capaz de se mobilizar em torno de grandes causas, como as estabelecidas pelo Pacto Global por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Há também o otimismo decorrente da ascensão ao governo dos Estados Unidos de Joe Biden, que estabeleceu um plano de recuperação econômica pós-covid amparado em iniciativas de baixo carbono - direção oposta à que vinha sendo estabelecida pelo seu antecessor, Donald Trump.

Até o fim da década, se depender do democrata, uma em cada cinco crianças nos EUA deve ir para a escola em ônibus elétricos. Serviços federais, como os correios, só usarão carros movidos a eletricidade. Prédios antigos terão maior eficiência energética. Dos pátios das fábricas americanas sairão painéis solares e sistemas de captura de carbono. Pela proposta do novo presidente americano, o governo investirá em inovação e pesquisa, abandonando os combustíveis fósseis, que movem o país hoje. A meta é ambiciosa: metade da energia virá de fontes renováveis.

Um grande termômetro do momento que estamos vivendo em relação à sustentabilidade será a COP-26, conferência sobre o clima da Organização das Nações Unidas (ONU), marcada para novembro em Glasgow, na Escócia. Há grande expectativa por avanços concretos nas definições de regras do mercado internacional de carbono e, também, pelo reforço dos compromissos governamentais com as metas estabelecidas no Acordo de Paris, firmado em 2015, durante a COP-21.

Na ocasião, representantes de 195 países - incluindo o Brasil - assinaram o compromisso pela redução das emissões de carbono, com o objetivo de limitar o aumento da temperatura global neste século a 1,5 ºC. O cumprimento do acordo exigia uma redução imediata e contínua da produção de gases do efeito estufa, mas o ritmo depois disso não tem sido suficiente, o que tem levado a um descompasso crescente entre o desejo manifestado no Acordo de Paris e a realidade.

Compensação

De acordo com estudo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a manutenção da meta de 1,5º C exige reduzir as emissões pela metade até 2030 e completamente até 2050.

Para o professor Eduardo Viola, do Instituto de Relações Institucionais da Universidade de Brasília (UnB), especialista em política ambiental, a meta definida pelo Acordo de Paris já se tornou impossível de ser alcançada. "No caminho em que estamos, o aumento da temperatura no século poderá chegar a 4 ºC. Se conseguirmos limitar a 2 ºC, já será uma grande vitória", afirma.

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Foto: Reprodução / Estadão

Quinto maior produtor de carbono do planeta, responsável por 3,2% das emissões globais, o Brasil se comprometeu, ao assinar o Acordo de Paris, a reduzir em 37% as emissões de gases do efeito estufa até 2025, e 43% até 2030, tendo como base de comparação o patamar de 2005. Essas metas se tornam cada vez mais distantes, no entanto, à medida que os índices de desmatamento no País continuam subindo - essa é a principal causa das emissões brasileiras, enquanto em outros países as questões principais costumam ser o transporte, a matriz energética e os processos industriais.

Ainda que não sejam as grandes vilãs das emissões brasileiras - ao menos não diretamente -, as grandes corporações do País estão contribuindo para o cumprimento do Acordo de Paris ao anunciar o projeto de eliminar suas emissões dentro de um determinado período - são as chamadas metas "Net Zero".

Aquelas que não conseguirem isso apenas com ajustes em seus processos contam com a possibilidade da compensação - ou seja, a compra de créditos de carbono para fechar a conta. "É importante que essa alternativa seja vista como complementar ao esforço máximo da organização. Não pode ser a estratégia principal, pois isso seria apenas transferir o problema", ressalta Lauro Marins, líder em ESG da consultoria Resultante Research.

Fazer o certo

"Quando falamos de ESG, estamos falando de oportunidades e de riscos", ressalta Sonia Favaretto, presidente do Conselho da Rede Brasil do Pacto Global e ex-diretora de Sustentabilidade da B3, a Bolsa de Valores do Brasil. "Por isso, além de se perguntarem sobre o que ganham ao seguir essa agenda, as empresas precisam se perguntar também sobre o que podem perder se não seguirem essa agenda."

Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV-Eaesp), lembra que investidores e acionistas costumam fazer um questionamento: será que tudo isso se paga?

Ela ressalta que não se trata de algo simples de responder, pois é difícil isolar o resultado de uma ação tomada de forma simultânea com várias outras. Assim, análises simplistas podem levar a distorções. "Tenho sempre receio de estudos que afirmam categoricamente que 'ESG traz valor financeiro' ou 'ESG não traz valor financeiro'." É por isso que a principal motivação da empresa deve ser, acima de tudo, a convicção de que isso é o certo a fazer.

Estadão
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