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Estados Unidos, França, China e Holanda concentram importação de madeira brasileira

No total, mercado legal de madeira exportou cerca de R$ 3 bilhões nos últimos cinco anos; americanos lideram compras nesse setor

17 nov 2020 - 18h56
(atualizado às 19h36)
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BRASÍLIA - A importação da madeira que sai das florestas do Brasil está concentrada em 20 países. Dados compilados pela área técnica do Ibama obtidos pelo Estadão mostram que, entre 2007 e 2019, os Estados Unidos lideram o consumo da madeira nacional, tendo adquirido 944 mil metros cúbicos (m³) de produtos do Brasil. O segundo maior comprador foi a França, com 384 mil m³, seguida por China (308 mil m³), Holanda (256 m³) e Bélgica (252 mil m³). No total, o mercado legal de madeira exportou cerca de R$ 3 bilhões nos últimos cinco anos. São aproximadamente R$ 600 milhões anuais.

A lista traz ainda, em destaque, o Reino Unido (163 mil m³), Portugal (155 mil m³), Suíça (115 mil m³), República Dominicana (105 mil m³), Dinamarca (102 mil ³) e Alemanha (87 mil m³). Em volumes históricos menores aparecem, nesta ordem, Japão, Itália, Espanha, Argentina, Uruguai, Canadá, Panamá, Suécia e Antilhas Holandesas.

Esses dados do Ibama referem-se às exportações oficiais, ou seja, trata-se de madeiras que deixaram o Brasil de forma legalizada. Isso não significa, porém, que a origem de toda essa madeira é legal. Essa situação acontece por causa da forte informalidade e criminalidade que domina o mercado madeireiro no Brasil. Quando o presidente Jair Bolsonaro afirma que vai "revelar" quais são os países "receptadores" de madeira ilegal da Amazônia, não tem como fugir desses destinos, a não ser que se baseie apenas em dados específicos de uma operação da Polícia Federal, por exemplo, o que não poderia ser representativo de todo o cenário.

Antes de uma chapa de ipê ou mogno chegar ao porto de Santos ou qualquer outra porta de saída do território nacional, ela percorre uma cadeia que, invariavelmente, é marcada pela corrupção.

O crime se baseia, basicamente, em uma indústria de papeis falsos. Por meio de agentes públicos que atuam de forma criminosa, documentos são emitidos para "esquentar" a madeira roubada de terras indígenas e unidades de conservação, por exemplo. O governo tem digitalizado há anos esse tipo de informação, por meio do Ibama, com o propósito de concentrar no órgão federal todos documentos de origem de madeira do País e, a partir disso, confrontar esses papeis com o inventário legal de madeira de corte. Esse cruzamento de dados, porém, ainda não está consolidado nacionalmente, além de conter brechas para manipulações de dados por seus gestores.

Na prática, portanto, um país que importa madeira do Brasil pode até achar que está adquirindo um produto 100% legal, quando, na realidade, sua origem pode ser fruto de um esquema fraudulento, que costuma inviabilizar o preço do mercado entre aqueles poucos madeireiros que desejam atuar de forma 100% legal.

Os dados do Ibama mostram que, de toda a produção nacional de madeira registrada entre 2012 e 2017, cerca de 90,81% foi consumida no Brasil após beneficiamento, sendo que apenas 9,19% de produtos beneficiados tiveram como destino o comércio exterior. Os dez maiores compradores internacionais de madeira do Brasil consumiram 73,47% de todos os produtos madeireiros exportados pelo País no período de 2012 a 2017.

Entre as espécies mais cobiçadas pelos estrangeiros, o principal alvo é o ipê, com 91,97% do total exportado, seguido pela cerejeira-da-Amazônia, jacarandá-violeta e mogno.

Um compilado de informações de exportação coletadas de 2007 a 2020 mostra uma forte concentração nas exportações entre as empresas que atuam no setor. Apesar de 895 empresas terem vendido o material neste período, as 50 maiores foram responsáveis por quase 50% de todas as transações históricas.

A atividade de base florestal legalizada representa cerca de 3% do PIB brasileiro, segundo dados do Ibama. Em média, o País produz oficialmente algo entre 10 milhões a 12 milhões de metros cúbicos de madeira ano. Estudo publicado pelo Ibama no ano passado indica que a atividade de Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS), ou seja, a retirada de madeira de áreas voltadas a essa finalidade, é responsável por pelo menos 88% desta produção, sendo os estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia os principais produtores.

Procurados, os países que lideram a lista de maiores exportadores de madeira brasileira não se manifestaram até a publicação da notícia.

Estadão
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