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Em áudio, prefeito diz que APA Alter do Chão é 'área de invasores', com 'policial por trás'

Gravação de Nélio Aguiar foi enviada ao governador do Pará, com pedido de ajuda para combater incêndios em setembro

2 dez 2019 - 11h02
(atualizado às 13h08)
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BELÉM - Em uma gravação de áudio enviada em setembro ao governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), o prefeito de Santarém, Nélio Aguiar (DEM), diz que os incêndios na Área de Proteção Ambiental (APA) Alter do Chão ocorriam em uma "área de invasores" e que havia policial "por trás".

A região entrou no foco recente das atenções depois de uma operação policial que resultou em buscas nas sedes de organizações ambientais e na prisão de quatro brigadistas, acusados de provocar incêndios para obter recursos. Eles foram liberados na quinta-feira, 28.

O áudio, de 51 segundos, foi obtido pelo site Repórter Brasil e confirmado pelo governo do Estado. Na mensagem, que teria sido enviada em 15 de setembro, quando um incêndio de grandes proporções atingiu a APA, Aguiar diz que a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santarém (Semma) já estava ciente dos incêndios e que a região seria uma área de invasão.

"A Polícia Militar, a companhia ambiental, tem que ir junto, armada, para identificar esses criminosos, isso é gente tocando fogo para depois querer fazer loteamento, vender terreno, prender uns líderes desses, esses criminosos aí e acabar com essa situação" afirmou o prefeito ao governador.

Aguiar diz ainda que "tem policial por trás".

"O povo lá anda armado, o bombeiro só está com a brigada, o bombeiro não está indo lá, já falei para o coronel Tito que precisa ir o bombeiro e combater o fogo, logo, imediatamente, está muito seco, muito sol e a Polícia Militar, a companhia ambiental, tem que ir junto, armada, para identificar esses criminosos."

Leia a íntegra da transcrição do áudio do prefeito de Santarém ao governador do Pará:

"Governador, bom dia. A Semma (Secretária Municipal de Meio Ambiente) municipal já tá envolvida, mas essa área é uma área de invasores... (ininteligível) Tem policial por trás, o povo lá anda armado, o bombeiro só tá com a brigada, o bombeiro não tá indo lá, já falei pro coronel Tito que precisa ir o bombeiro e combater o fogo, logo, imediatamente, tá muito seco, muito sol e a Polícia Militar, a companhia ambiental, tem que ir junto, armada, para identificar esses criminosos, isso é gente tocando fogo para depois querer fazer loteamento, vender terreno, prender uns líderes desses, esses criminosos aí e acabar com essa situação, mas a gente precisa de apoio do Corpo de Bombeiros?".

Confirmação da veracidade do áudio

Em nota, o governo do Pará informou que, assim que recebeu a solicitação, Barbalho "determinou que o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar dessem suporte à operação de combate ao incêndio - o que foi feito".

"Todos os recursos foram disponibilizados, inclusive aeronave de combate a incêndios florestais. Não houve nenhum flagrante para que houvesse prisões", informou ainda. "O governo reafirma que a decisão de prisões e solturas são do juiz competente, não do governo do Estado."

A nota informou também que "o governo não se pronunciará sobre o conteúdo das investigações até que elas sejam finalizadas" e que é "fundamental" chegar aos autores das queimadas.

"Mas que isso ocorra nos marcos do Estado Democrático de Direito, sem espetáculo, pré-julgamentos ou ideologias."

Já a prefeitura de Santarém afirmou, também em nota, que não poupou esforços para apagar o incêndio, com a ajuda do governo do Pará, do Corpo de Bombeiros, do Exército e das demais entidades, e que a responsabilidade de apurar as causas do fogo não cabe ao prefeito, mas à Polícia Civil.

A gestão municipal também confirmou a veracidade do áudio e explicou que as informações contidas no arquivo e repassadas ao governador foram "recebidas de comunitários que moram na região".

"O objetivo foi manter o governador informado para repasse aos órgãos de segurança do estado e conseguir ajuda. Em nenhum momento houve a afirmação de condenar, acusar ou responsabilizar alguém", declarou a prefeitura de Santarém. "Por fim, a prefeitura reitera que não é parte integrante das investigações. Não está sendo citada no processo e aguarda a conclusão e espera que o responsável ou os responsáveis possam ser punidos, de acordo com o que determina a lei."

Estadão
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