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'É uma questão de empresas', diz Mourão sobre envolvidos em exportação de madeira ilegal

Bolsonaro culpou países e prometeu esta semana revelar nações que compram produto irregular da Amazônia

19 nov 2020 - 17h01
(atualizado às 19h02)
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BRASÍLIA - O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou nesta quinta-feira, 19, que a relação de importadores de madeira ilegal da Amazônia é "uma questão de empresas", e não de países. A declaração vai, mais uma vez, na contramão do presidente Jair Bolsonaro, que prometeu revelar uma lista com os países que atuam como "receptadores" do produto extraído no País.

"Revelaremos nos próximos dias os nomes dos países que importam essa madeira ilegal nossa através da imensidão que é a região amazônica", disse Bolsonaro na ocasião, em reunião da cúpula do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Para Mourão, no entanto, Bolsonaro se referia a empresas. "É uma questão de empresas. O presidente deixou muito claro", afirmou para jornalista na chegada à vice-presidência na tarde desta quinta-feira, 19.

No encontro internacional, Bolsonaro se referiu aos países mais de uma vez, mas não mencionou empresas. O presidente citou que a Polícia Federal desenvolveu técnica que identifica o "DNA" da madeira e permite identificar a sua origem, e por isso era possível saber quais países compravam o produto. Uma falha técnica na transmissão da reunião fez o presidente repetir sua fala: "Estaremos revelando nos próximos dias, países que tenham importado madeira de forma ilegal da Amazônia, e alguns desses países são os mais severos críticos ao meu governo tocante a essa região Amazônica", disse na ocasião.

No mesmo dia, nas redes sociais, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, publicou ainda imagens com amostras de madeira feitas pela Polícia Federal. Nas fotos, é possível ver o nome de países como Dinamarca, Reino Unido, Holanda, Bélgica, França e Portugal.

Bolsonaro e Mourão tem dado declarações contraditórias nos últimos dias, o que causou um estremecimento na relação. Como revelou o Estadão, menos de 24 horas após terem acordado uma trégua, o presidente voltou a se incomodar após o vice afirmar que a vitória de Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos era "cada vez mais irreversível". O governo brasileiro é um dos únicos no mundo a não reconhecer a derrota de Donald Trump, de quem Bolsonaro é aliado.

Embaixador da Dinamarca

Em entrevista ao Estadão, o embaixador da Dinamarca no Brasil, Nicolai Prytz, rebateu Bolsonaro ao dizer que "não se culpa países por importação ilegal de madeira" e que esse tipo de situação, se de fato existir, estaria restrita a empresas. "Mas se ele existe, se tiver alguma alegação substancial sobre um crime supostamente cometido, seria a ocasião de as autoridades brasileiras, pelos canais já estabelecidos, contatarem as autoridades da Dinamarca para ver esse assunto. É assim que funciona, e isso vale para qualquer matéria, não só sobre um crime com madeira, mas qualquer outro assunto", disse o embaixador.

Hoje, ao amenizar a fala de Bolsonaro, Mourão disse que se trata de uma questão de "cooperação internacional". Ele afirmou que os dados sobre a madeira brasileira exportada já haviam sido apresentados para embaixadores durante a viagem coordenador pelo Conselho da Amazônia, colegiado presidido pelo vice-presidente.

"Isso já tinha sido informado de forma geral na nossa viagem para os embaixadores. Foi uma apresentação que o superintendente regional da Polícia Federal em Manaus fez", afirmou o vice-presidente.

Na ocasião, Mourão citou que o representante da União Europeia reagiu ao saber que parte das madeiras extraídas de forma ilegal iam para países da região, mas não entrou em mais detalhes. "O embaixador da União Europeia, óbvio, ele reagiu. Uma reação normal", disse.

Para os jornalistas nesta quinta-feira, Mourão disse ainda que desconhecia a medida do governo que flexibilizou exigências para exportação de madeira brasileira. O Estadão revelou que em março o Ibama acabou com as inspeções que eram feitas nos portos do País. O órgão suspendeu os efeitos de uma instrução normativa e, assim, eliminou a necessidade de uma autorização de exportação do Ibama. Uma guia de transporte estadual passou a valer no lugar de um documento do tipo.

Estadão
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