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Com chuva na capital, Rio Tietê é tomado por 'correnteza de lixo'

Composta por garrafas pet, galhos de árvores e até móveis irregularmente descartados, mancha de poluição se espalha pelo leito do rio

4 jul 2019 - 20h08
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SÃO PAULO - Composta por garrafas pet, galhos de árvores e até móveis irregularmente descartados, uma correnteza de lixo tomou o leito do Rio Tietê durante as chuvas que atingiram a capital paulista nesta quinta-feira, 4, após 28 dias de estiagem. Segundo especialista, a cena, que se repete a cada temporal, resulta de deficiências de saneamento e põe em risco a saúde pública.

Quem costuma trafegar pela Marginal ou trabalha na região já deixou de se surpreender com a crosta de poluição que se forma no rio sempre que chove. Outros até se habituaram ao fedor de ácido sulfídrico que exala das águas - o popular "cheiro de ovo podre".

"Tem de tudo no rio: é garrafa de plástico, tambor, balde... até um guarda-roupa inteirinho eu já vi boiando", disse o frentista Anselmo Caires, de 32 anos, funcionário de um posto de gasolina às margens do Tietê. "Começa a garoar e já vai descendo lixo. Infelizmente, nem todas as pessoas se preocupam com o rio e o resultado é este aí."

Incontáveis garrafas pet se espalharam pelo Tietê à tarde. Também havia bolas de futebol, embalagens, pedaços de isopor, um objeto que parecia um para-choque de carro e até um sofá aparentemente em bom estado. "Sinceramente, eu me sinto triste, até porque todos nós somos responsáveis", comentou o motoboy Anderson de Paula, de 38 anos.

Coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro diz que o cenário é fruto de falta de saneamento nas cidades distribuídas ao longo dos 1.150 quilômetros do rio. "O canal do Tietê em São Paulo, por exemplo, está recebendo lixo de Mogi, de Suzano, de Guarulhos. Não necessariamente é da própria cidade de São Paulo", disse.

"Os 34 municípios da bacia do Alto Tietê são responsáveis por não deixar que o lixo vá parar no rio a cada chuva", afirmou Malu. Segundo explica, como o lixo acaba acumulando nas ruas, a tendência é que chuvas como a de ontem, que acontecem após vários dias de estiagem, levem um volume ainda maior de resíduos para o leito.

Estudo da SOS Mata Atlântica, divulgado em 2018, aponta que 122 quilômetros, ou 11% do Rio Tietê, são considerados mortos. Ou seja, não há condição de vida para peixes e a água não pode ser usada para lazer, irrigação ou consumo. "Um rio contaminado também passa a ser vetor de contaminação para doenças como hepatite e cólera, por exemplo", disse.

Mancha de poluição reduziu 77% desde a década de 1990, diz governo

Em nota, a Secretaria Estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente afirma que, desde 1992, a mancha de poluição no Rio Tietê reduziu 77%, diminuindo de 530 quilômetros para os atuais 122 km. "Apenas a Sabesp investiu mais de US$ 3 bilhões no projeto, que resultou na ampliação da coleta de esgoto de 70% para 87% e do tratamento de 24% a 70%", afirmou. "Paralelamente o DAEE vem desassoreando diversos trechos do rio que somam 85,2 quilômetros."

Segundo o governo estadual, quase 2 mil toneladas de resíduos foram coletadas este ano no Rio Pinheiros, afluente do Tietê, cujo projeto de limpeza está previsto em R$ 1,5 bilhão.

A nota afirma, ainda, que a limpeza dos rios também depende de prefeituras e do "apoio de toda a população". "Isso porque é necessário que o descarte correto do lixo para que as prefeituras realizem a coleta e destinação", disse. "Caso contrário, os resíduos são levados pela chuva às galerias pluviais e córregos e, posteriormente aos rios."

Estadão
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