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Cadeia produtiva sustentável no Pará rende lucro 3 vezes maior que o estimado pelo IBGE, diz estudo

PIB gerado por produtos da floresta em pé, como açaí e cacau-amêndoa, é maior do que o registrado pelo IBGE; atividade tem potencial para render R$ 170 bilhões em 2040 se houver investimento adequado em políticas públicas

19 out 2021 - 21h59
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Campeão absoluto há 15 anos entre os Estados amazônicos que mais desmatam, o Pará está sentado sobre uma potencial fonte de recursos maior do que seu próprio Produto Interno Bruto (PIB). Para acessar essa riqueza, não precisa derrubar uma árvore sequer ou abrir uma só mina. Estudo realizado pela The Nature Conservancy (TNC) apontou pela primeira vez o tamanho e o impacto das cadeias produtivas da sociobiodiversidade locais.

Feita em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Natura, a pesquisa mostra que, em 2019, o PIB gerado por essas cadeias foi de R$ 5,4 bilhões. O valor é quase três vezes maior do que o registrado pelo IBGE, que revelava R$ 1,9 bilhão para o mesmo ano, considerando apenas a produção rural, primeiro elo da cadeia. Além disso, o estudo estima que essas produções tenham gerado cerca de 224 mil empregos.

A sociobiodiversidade deve ser entendida como a inter-relação entre a diversidade biológica e a diversidade de sistemas socioculturais. A pesquisa analisou a cadeia de 30 deles. Alguns exemplos dos produtos que se enquadram nessa definição, no Pará, são: açaí, cacau-amêndoa, castanha-do-pará, palmito, borracha, tucumã, cupuaçu-amêndoa, cumaru, murumuru e óleo de castanha-do-pará.

O estudo, que será apresentado nesta terça-feira, 19, em Belém, durante o Fórum Mundial de Bioeconomia, que reúne pesquisadores e especialistas no setor na capital paraense, vai além; e aqui entra a necessidade de políticas públicas adequadas para que essa riqueza seja, de fato, acessada.

Ao projetar os ganhos econômicos potenciais futuros nas próximas duas décadas, com políticas públicas adequadas, a pesquisa mostra que a renda total gerada pelas cadeias produtivas de dez produtos analisados pode chegar a R$ 170 bilhões em 2040. São eles: Açaí, cacau, castanha, copaíba, cumaru, andiroba, mel , buriti, cupuaçu e palmito.

Em 2018 , o PIB foi de R$ 161 bilhões, de acordo com dados divulgados em 2020 pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). Esse resultado colocou o Estado na 11ª posição entre as 27 unidades da federação e primeira na região Norte. "O próprio IBGE tem dificuldades, muitas vezes, de acessar esses locais", diz a vice-gerente da Estratégia Povos e Comunidades Indígenas e Tradicionais da TNC Brasil, Juliana Simões.

Ela explica que a pesquisa só pôde chegar a esses resultados graças ao mapeamento de comunidades e cooperativas locais, por vezes isoladas, coordenado pelo professor do Núcleo de Altos Estudos da Amazônia (NAEA/UFPA) Francisco de Assis Costa. Diferentemente do IBGE, os pesquisadores foram analisar todas as etapas da cadeia produtiva desde sua coleta ou produção, passando por cooperativas, indústria e delas para mercados em outros Estados. Todas as trocas econômicas foram contadas. "Faltavam dados sobre essa produção, e uma economia que não é vista não é lembrada", afirma.

"Podemos ser protagonistas na agenda global de sustentabilidade e da economia de baixo carbono, se escolhermos modelos compatíveis com conservação e regeneração dos biomas, inovando com investimentos na sociobioeconomia de floresta em pé, apostando em ciência e tecnologia, aliando desenvolvimento humano e valorização das comunidades e do conhecimento tradicional", explica a diretora de sustentabilidade de Natura para América Latina, Denise Hills.

"É uma oportunidade de desenvolvimento real", diz Juliana Simões. "Não é uma cadeia que concentra renda, não cria desigualdades e mantêm as pessoas vivendo com qualidade na floresta. Elas não vão para as cidades viver em condições precárias e deixam a floresta vazia para ser desmatada."

PIB (PA)

R$ 161,3 bilhões em 2018

PIB Potencial com exploração do açaí e do cacau-amêndoa, em 2040

R$ 170 bilhões

Desmatamento na Amazônia

1.417 km2 em julho

498 km2 no Pará

402 km2 no Amazonas

Estadão
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