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Caatinga é o bioma mais afetado por incêndios em todo o País

Neste ano, área teve 157% mais fogo que em 2020; no Estado de São Paulo, o aumento dos focos chegou a 28%

25 ago 2021 - 05h11
(atualizado às 09h45)
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Embora a média geral das queimadas no País esteja estável desde o ano passado, algumas regiões apresentam elevação preocupante no número de incêndios. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que a Caatinga é o bioma mais afetado, com aumento de 157% nos focos de incêndio na comparação de janeiro a agosto deste ano com igual período de 2020. Também sofrem com o aumento da devastação o Cerrado (33%) e a Mata Atlântica (28%).

Considerando-se os Estados, a tendência também é de crescimento. Das 26 unidades da federação mais o Distrito Federal, 19 apresentaram elevação. O Estado de São Paulo, onde um incêndio devastou 80% do Parque Estadual do Juquery no último fim de semana, apresentou aumento de 28% nos focos de incêndio. O número absoluto passou de 2.383 para 3.070 na comparação até 23 de agosto. Neste mês de agosto já foram identificadas 1881 queimadas até o dia 24/8. Este número já é 69% maior que o observado no mês completo de agosto do ano passado. Em todo o País, foram 78.339 queimadas até 23 de agosto - número quase igual ao de mesmo período do ano passado (77.415).

O bioma que apresenta a situação mais preocupante é a Caatinga, predominante no Nordeste brasileiro - em especial Piauí e Ceará. "Percebe-se uma alta variabilidade de ano para ano nesse bioma. Em 2019, o registro foi maior do que neste ano. Pode haver um problema de subnotificação em outras datas. Mas é preciso destacar a questão da seca", explica a pesquisadora Ana Ávila, diretora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas em Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Cerrado

No Cerrado, que ocupa grande parte do território do Mato Grosso do Sul, o avanço dos focos já é 33% maior. "Nele a vegetação sempre acaba queimando mais. Nesta época do ano (período de seca), o risco de incêndios aumenta muito", explica a professora Alessandra Fidelis, do departamento de Botânica do Instituto de Biociências da Unesp.

O pesquisador Carlos Nobre, um dos maiores especialistas em mudanças ambientais, aponta a baixa média de chuvas como uma das principais razões para as queimadas deste ano. "No Centro-Oeste e no Sudeste, temos uma estação chuvosa bem abaixo da média. Quando entramos na estação seca, o solo tem pouca água", adverte.

Cinco Estados brasileiros, entre eles São Paulo, enfrentam a que já é considerada a pior seca em 91 anos, de acordo com o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), que representa o comitê de órgãos do governo federal. Em maio, o órgão emitiu um alerta de emergência hídrica para o período junho-setembro.

Ana Ávila acrescenta a ocorrência de duas frentes frias rigorosas no centro-sul do País neste inverno. "Além da seca extrema, foi um ano de geadas intensas nessa área. Esses dois fenômenos meteorológicos fizeram com que a vegetação fosse drasticamente danificada. Houve a morte dos tecidos vegetais de muitas culturas. Esses fatores potencializam o risco de rápido alastramento dos focos de fogo na vegetação."

Alessandra, da Unesp, diz que o fenômeno pôde ser observado em São Paulo. "Neste ano, tivemos vários eventos de geada, com mais dias muito frios, o que contribuiu para a vegetação ficar mais seca do que geralmente fica. Assim, o risco de incêndio aumenta. As matas de galeria geralmente não queimam porque são mais úmidas. Porém, quando o ano é mais seco, ou por causa das geadas, essa vegetação perde umidade e o fogo acaba entrando nessas áreas mais sensíveis", explica.

Alexandre Correia, professor do Instituto de Física da USP, lembra que o Brasil como um todo atualmente já convive com um aquecimento causado pelas atividades humanas (aquecimento global) variando entre cerca de +1,2 graus C no extremo sul da região Sul, até +1,7 graus C na região Nordeste, tendo como referência a temperatura média entre 1880 e 1900. "Essas temperaturas mais elevadas aumentam a probabilidade de ocorrência de queimadas descontroladas", afirma.

A ação humana tem sido um fator preponderante para as queimadas, na visão de Alberto Setzer, coordenador do programa de queimadas do Inpe. Não há, como em outros países, incêndios causados por descargas elétricas, ou outros fatores naturais. "Praticamente todos os casos resultam de ações humanas, propositais ou acidentais."

Essa é a mesma visão de Carlos Nobre. "No Cerrado, Pantanal e Amazônia, os incêndios são provocados pela ação humana. É a prática atrasada da pecuária brasileira de botar fogo antes de preparar a pastagem. Na Amazônia, o fogo é sinônimo da posse", opina.

Juquery

"O incêndio do Parque do Juquery aparentemente foi causado por balões", exemplifica o especialista. Ele começou na manhã de domingo e só foi oficialmente controlado ontem. Criado em 1993 para conservar mata nativa e áreas de mananciais do Sistema Cantareira, o parque abriga remanescentes de Mata Atlântica entre Caieiras e Franco da Rocha.

A prefeitura de Franco da Rocha suspeita de que o incêndio tenha sido causado pela queda de um balão. Sete pessoas foram detidas no domingo, e soltas após o pagamento de fiança. A Polícia Ambiental estuda a possibilidade de multar os baloeiros por infração ambiental.

Estadão
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