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Blogueira lança livro com dicas para reduzir lixo no dia a dia

Autora da página "Um Ano Sem Lixo", Cristal Muniz reúne alternativas para todos os cômodos da casa e apresenta receitas de cosméticos, comidas e produtos de limpeza

20 jul 2018 - 10h08
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Há quatro anos, a blogueira Cristal Muniz, de 27 anos, começou a perceber que produzia muito lixo e lançou um desafio para a própria vida: tentar produzir menos resíduos. Era 2014 e ela se planejou para, no ano seguinte, iniciar um projeto que trouxe novos hábitos para sua rotina, a página Um Ano Sem Lixo, que mostra alternativas para alcançar esse objetivo dentro e fora de casa.

O site e sua página no Instagram, que tem mais de 100 mil seguidores, apresentam informações de como fazer isso com iniciativas que estão ao alcance de qualquer pessoa, como ter um kit para evitar o uso de talheres descartáveis, não comprar mais do que é necessário para o dia a dia e usar o resto de frutas para fazer vinagre caseiro, por exemplo.

Natural de Florianópolis, Cristal cresceu vendo o pai, artista plástico, utilizando objetos que eram descartados em seu trabalho e os avós aproveitando os produtos até o fim. "Como coisas que vêm em casca e não em caixas, faço tudo em casa." Nesta quinta-feira, 19, ela vai lançar o livro "Uma Vida Sem Lixo" (Editora Alaúde) na Livraria da Vila, na Vila Madalena, na zona oeste da capital, e falou com o Estado sobre o tema.

Como nasceu o o seu projeto?

Quando fui morar sozinha, percebi que eu gerava muito lixo para quem morava só com uma gata. Fiquei incomodada, mas não sabia muito bem o que fazer, não sabia outro jeito de comprar comida, não via outro jeito de escovar os dentes sem ser usando pasta de dente, mas ficou o incômodo. Vi uma matéria sobre lixo zero, falava poucas dicas, mudanças que uma blogueira tinha feito, que eram muito simples e objetivas. Entrei no blog dela e vi os posts. No final de 2014, criei o blog para tentar viver sem lixo no ano de 2015.

Quais foram as primeiras mudanças que você fez na sua vida?

A primeira foi ter um kit zero lixo, porque eu comia muito fora e usava muitos descartáveis. Fiz os meus guardanapos de pano. Sei costurar e aproveitei uns retalhos para fazê-los. Passei a levar um pote de vidro para usar como copo, para beber na rua, levava talheres e um hashi, pois comia bastante em restaurantes japoneses. Depois, tinha duas coisas que me incomodavam bastante: os absorventes descartáveis e o lixo orgânico. Então, comprei um coletor menstrual e uma composteira.

Qual foi o impacto desses novos hábitos?

Minha vida ficou mais simples. Ia o tempo inteiro no mercado, estava sempre carregando coisas novas para casa, tinha um monte de papel, sacolinhas. (Com a mudança) Vi que entrava menos tralha em casa. Também começou a simplificar, porque tinha menos lixo orgânico, já que colocava na composteira. Comecei a gastar menos energia com coisas que a gente faz. Falo muito de fazer coisas em casa e parece que gasta muito tempo fazendo isso, mas vai sobrando mais tempo.

No seu livro, você apresenta o conceito de produzir menos lixo em cada área da casa. Como foi pensada essa divisão?

Eu fui olhando para cada coisa de uma vez, foi muito espontâneo. Conforme eu resolvia uma coisa, ia vendo uma alternativa. O que eu não achava uma alternativa, via outra substituição. Conforme as coisas foram acabando, como xampu e produtos de limpeza, fui descobrindo outras formas de fazer as substituições. A ideia do livro foi separar em cômodos foi para ficar mais organizado para quem vai ler. Tudo que tem a ver com cozinha, como comprar comida, receitas, como descartar. Se a pessoa quiser, já pode escolher por onde vai começar.

Como as pessoas podem trabalhar o conceito do zero lixo dentro do que já adquiriu, com o que elas já têm em casa?

As pessoas desperdiçam muito porque não olham o que têm. Eu busco reaproveitar as coisas da minha casa, passar a usar como substituto do que é mais bonito e glamuroso. Não precisa comprar nada para ser sustentável. Precisa transformar, usar de outras formas, é importante que se olhe para as coisas e repense. Coisas que estão paradas em casa não têm sentido, podemos ver se encaminhamos para alguém que vai usá-las. É importante ter as coisas em uso para não ter desperdício, porque você gasta dinheiro com o que você retém. Acho desperdício trocar coisas por algo sustentável, jogar algo que funciona, que cumpre função para colocar outra mais sustentável. Eu tenho um batom que não é natural, o único que sobrou, e vou usá-lo até acabar.

Atualmente, tem se falado muito sobre os prejuízos do uso do canudo e sobre o excesso de plástico no dia a dia das pessoas. O que você pensa sobre esse debate?

A gente precisa ter leis que proíbam plástico de uso único, sim. Não adianta dizer que o produto não pode ser descartável, mas pode ser biodegradável. Tem de diminuir a demanda por esses materiais, mas precisa ter um período de transição para o incentivo fiscal do comércio desses materiais que são sustentáveis. Outra coisa é que tem a questão das pessoas com deficiência que precisam dos canudos para comer, beber e o canudo de plástico ainda é a melhor opção. Mas é importante que comece a ter restrição para que o de plástico seja caro e inviável, porque ele é usado sem necessidade na maior parte das vezes. Sabe-se que 40% de todo plástico foi usado como plástico descartável.

O lixo costuma ser um indicador de como é a alimentação das pessoas. Você passou a ter hábitos mais saudáveis após esse projeto?

Sempre fui bem saudável, sempre me alimentei direito, é uma herança da minha criação. Comia o que minha avó plantava na horta. Isso sempre fez parte da minha vida e só fui aprimorando. Uma coisa que mudou muito é que sempre tive rinite e quase zerou nesse processo. Entramos em contato com coisas alergênicas, cosméticos, produtos de limpeza. Como coisas que vêm em casca e não em caixas, faço tudo em casa, não como comida pronta

Quais dicas o seu livro dá e como as pessoas podem também fazer uma mudança de hábitos para produzir menos resíduos?

O livro é simples e objetivo, um guia de como reduzir o lixo, repensar e ter autonomia. Tem receitas de cosméticos, comidas, produtos de limpeza. As pessoas podem evitar os descartáveis, levar um guardanapo de pano, copo, talheres, que, assim, conseguem comer na rua. Ter uma ecobag para levar as compras para casa é o primeiro passo para perceber quanto lixo deixa de gerar. A composteira é simples de cuidar, demanda cuidado, mas tem zero manutenção. Nessa ação única, a pessoa reduz metade do lixo que produz, mas tem de ser aos poucos para ver que lixo você produz. Quem tem um bebê, quem tem um animal de estimação, tem outro tipo de produção de lixo e precisa ver o que gera resíduos para fazer uma troca. Tem de fazer aos poucos para ir se habituando. É um processo, uma coisa de cada vez para fazer trocas e não sobrecarregar as pessoas.

Lançamento do livro Uma Vida Sem Lixo

Quando: Hoje, 19 de junho

Horário: 19 horas

Onde: Livraria da Vila - Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena

Estadão
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