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Por que as lhamas podem guardar o segredo para combater a gripe

Cientistas americanos estudam como usar o potente sistema imunológico dos animais para desenvolver um tratamento mais durável e efetivo contra a gripe.

5 nov 2018 - 14h31
(atualizado às 16h17)
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A lhama tem anticorpos menores que os dos seres humanos
A lhama tem anticorpos menores que os dos seres humanos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Cientistas americanos recrutaram uma curiosa aliada para desenvolver tratamentos contra a gripe: a lhama. O sangue desse animal sul-americano foi utilizado para produzir uma nova terapia com anticorpos que têm o potencial de combater todos os tipos de gripe.

A gripe é uma das doenças mais hábeis na hora de mudar de forma. Constantemente, modifica sua aparência para despistar nosso sistema imunológico. Isso explica porque as vacinas nem sempre são efetivas e, a cada inverno, é necessário receber uma nova injeção para prevenir a doença.

Por isso, a ciência está à procura de uma forma de acabar com todos os tipos de gripe, não importando de qual cepa provenha ou o quanto possa sofrer mutações. E aí que entra a lhama.

Estes animais, nativos dos Andes, têm anticorpos incrivelmente pequenos em comparação com os dos humanos. Os anticorpos são as armas do sistema imunológico, e aderem às proteínas que sobressaem na superfície dos vírus.

Os anticorpos humanos tendem a atacar as pontas dessas proteínas, mas essa é a parte em que o vírus da gripe muda com mais rapidez. Já os anticorpos da lhama, com seu tamanho diminuto, conseguem atacar as partes do vírus da gripe que não sofrem mutação.

As vacinas contra gripe nem sempre são efetivas
As vacinas contra gripe nem sempre são efetivas
Foto: AFP / BBC News Brasil

Anticorpos sintéticos baseados no que a lhama tem de melhor

Uma equipe do Instituto Scripps, nos Estados Unidos, infectou lhamas com múltiplos tipos de gripe, para estimular uma resposta do seu sistema imunológico. Em seguida, analisaram o sangue dos animais, procurando pelos anticorpos mais potentes, que poderiam atacar uma ampla variedade de vírus.

Os cientistas, então, identificaram quatro anticorpos das lhamas. Depois, começaram a desenvolver um anticorpo sintético, que une elementos desses quatro tipos.

Em uma outra fase do estudo, esse anticorpo sintético foi testado em ratos, que receberam doses letais de gripe. "É muito efetivo. Foram testados 60 tipos de vírus diferentes. Apenas um deles não foi neutralizado (pelo anticorpo sintético) - mas é um vírus que não afeta os humanos", explicou o professor Ian Wilson, um dos responsáveis pelo estudo.

"O objetivo é criar uma proteção que não precise ser renovada a cada ano, e que também proteja das possíveis pandemias, caso apareçam", justificou.

O trabalho, que foi publicado na revista científica Science, ainda está em estágios muito iniciais. A equipe de cientistas pretende realizar mais experimentos antes de fazer testes com humanos.

O vírus da gripe é capaz de modificar com muita rapidez as pontas das proteínas que sobressaem dele
O vírus da gripe é capaz de modificar com muita rapidez as pontas das proteínas que sobressaem dele
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Vacinas e terapias genéticas com o anticorpo sintético

Os pesquisadores utilizaram duas técnicas diferentes na hora de administrar os anticorpos sintéticos para ratos. A primeira delas foi uma injeção - como uma vacina.

A segunda foi uma terapia genética. Por esse processo, as instruções genéticas para desenvolver o anticorpo sintético são empacotadas em um vírus inócuo - ou seja, que não causa a doença. Em seguida, esse vírus inócuo foi usado para infectar os narizes dos ratos.

Uma vantagem de um tratamento com anticorpos sintéticos, baseados nos anticorpos mais eficientes das lhamas, é que ele pode ser mais efetivo na prevenção da gripe entre pessoas de mais idade - em geral, a população mais idosa tem sistema imunológico mais frágil.

"Ter um tratamento que possa funcionar contra uma variedade de cepas diferentes do vírus da gripe é algo muito desejado. É o Santo Graal da gripe", afirma o professor Jonathan Ball, da Universidade de Nottingham.

As lhamas são um dos quatro tipos de camelídeos sul-americanos.
As lhamas são um dos quatro tipos de camelídeos sul-americanos.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

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