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Estudo sugere que estilo da fonte pode ajudar no aprendizado

25 abr 2011 - 09h26
(atualizado às 09h32)
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Pegadinha: é mais fácil se lembrar de um novo fato se ele for escrito numa letra comum ou em letras grandes e grossas? A resposta: nenhuma das duas opções. O tamanho da fonte não tem qualquer efeito sobre a memória, embora a maioria das pessoas ache que maior é melhor. Já o estilo da fonte, esse faz diferença.

Uma nova pesquisa mostrou que as pessoas retêm significativamente mais material - seja ciência, história ou linguagem - quando o estudam numa fonte que seja não só desconhecida, mas também de difícil leitura.

Psicólogos sempre afirmaram que os instintos das pessoas sobre o grau em que aprenderam um assunto é, no geral, bastante distorcido. A sensação após uma sessão de estudos pode ser um fraco reflexo de seu valor nutricional: conceitos que pareciam perfeitamente claros se tornam confusos na hora da prova e aqueles mais complicados acabam surgindo na hora que importa.

Nos últimos anos, pesquisadores começaram a esclarecer os motivos dessa ocorrência e, em alguns casos, como evitá-la. A descoberta é especialmente relevante nos dias de hoje, dizem especialistas.

"Uma parte tão grande do aprendizado atual ocorre sem supervisão, por conta própria", afirmou Robert A. Bjork, psicólogo da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, "que é crucial conseguirmos monitorar esse aprendizado cuidadosamente, ou seja, analisar até que ponto sabemos o que sabemos para evitar que enganemos a nós mesmos".

Os erros ao julgar o que sabemos - metacognição, como isso é conhecido - surgem parcialmente de simples ideias pré-concebidas. Por exemplo: ao estudar, a maioria das pessoas deduz que os fatos recém-aprendidos serão lembrados por muito tempo e que a prática adicional não fará grande diferença. Essa crença é subconsciente e automática, segundo estudos, embora as pessoas saibam mais quando param de pensar a respeito.

Mas também surge um excesso de autoconfiança, como resultado da tendência natural do cérebro de buscar atalhos - e de rapidamente esquecer que os usou. Num recente artigo na revista PNAS, pesquisadores de Harvard e da Duke University fizeram estudantes realizarem o que eles pensavam ser um teste de QI. Alguns receberam um gabarito junto ao teste, "para conferir suas respostas após o término", e outros não.

Previsivelmente, os estudantes com a folha de respostas espiaram os resultados e, na média, se saíram melhor no teste do que os outros. Após avaliar seus testes, os dois grupos fizeram suposições de como se sairiam num segundo teste hipotético, mais longo e sem a folha de respostas. Os que haviam visto o gabarito esperavam uma nota muito maior no teste futuro do que os outros estudantes.

"A descoberta foi que as pessoas que usam um gabarito durante o teste veem sua nota como sinal de uma habilidade inata, esquecendo-se seletivamente de que a folha de respostas os ajudou a obter aquele resultado", explicou a principal autora, Zoe Chance, estudante de doutorado em marketing na Harvard Business School. Sem as respostas em mãos, aqueles confiantes alunos tiveram o mesmo desempenho dos outros num segundo teste.

Qualquer um que tenha espiado as respostas no final do livro de física ou química já suspeitava disso. Uma coisa é estudar a solução quando o problema em si é totalmente desconhecido, exigindo técnicas que ainda não foram aprendidas. Outra coisa é examinar as respostas quando os problemas são familiares, mas difíceis. Estes últimos correm com mais suavidade, a autoconfiança sobe, a tentação de fazer uma pausa nos estudos fica mais forte. Essas sensações refletem mais do que uma simples autoilusão.

Mesmo dicas ou respostas que não são conscientemente lembradas alteram como o cérebro processa um problema ou pergunta, tornando a experiência muito distinta de uma pergunta sem ajuda. Num estudo de 1996, pesquisadores do Macalester College e da Universidade de Nova York fizeram com que os participantes solucionassem 60 anagramas e avaliassem o grau de dificuldade de cada um deles para outras pessoas. Um grupo dos participantes já havia visto as respostas de metade dos enigmas numa fase anterior do estudo, espalhadas numa longa lista de palavras aleatórias. Como resultado, eles resolveram aqueles anagramas com maior rapidez e os avaliaram como significativamente mais fáceis do que a outra metade - sem se lembrar conscientemente de que haviam visto as respostas.

"Estudar algo na presença da resposta, seja isso consciente ou não, influencia como você interpreta a pergunta", afirmou Bjork. "Você acaba não avaliando todas as outras coisas que viriam à mente se a resposta não estivesse ali".

"Digamos que você esteja estudando capitais, e vê que a da Austrália é Camberra. Certo, isso parece bastante fácil. Mas quando aparece a pergunta na prova, você pensa: 'Era Sidney? Melbourne? Adelaide?"'. É por isso que alguns especialistas veem com desconfiança sites como Cramster, Course Hero, Koofers e outros, que oferecem resumos, soluções de problemas passo a passo e cópias de provas anteriores - e vêm sendo cada vez mais usados pelos alunos. A ajuda extra pode proporcionar um valioso complemento a cursos complexos e disputados, mas pode também deixar os estudantes com uma falsa sensação de domínio.

Até mesmo resumos de curso oferecidos pelo professor, livros escolares ou outras fontes externas podem criar uma falsa sensação de segurança, segundo algumas pesquisas. Em um experimento, pesquisadores descobriram que alunos estudando um capítulo complexo, sobre usos industriais de micróbios, aprendiam mais quando recebiam um resumo fraco - que eles tinham de retrabalhar para igualar ao material - do que com resumos mais precisos.

Um motivo para isso é relacionado a uma qualidade cognitiva conhecida como fluência, a medida do grau de facilidade com que uma peça de informação é processada. O cérebro associa automaticamente a fluência perceptual, ou o fácil armazenamento, com a fluência de recuperação, a fácil lembrança. Essa é uma boa forma de "aproximação" para inúmeros fatos novos: algumas pessoas são especialmente boas para se lembrar de caminhos, outras são melhores com nomes, ingredientes de receitas, estatísticas de esportes e piadas. Mas não é uma orientação tão útil quando uma pessoa estuda conceitos complexos, que não se encaixam em suas áreas de conhecimento ou interesse.

"Por exemplo, sabemos que se você estuda algo duas vezes, em sessões espaçadas, fica mais difícil processar o material na segunda vez - e as pessoas pensam que é contraproducente", afirmou Nate Kornell, psicólogo do Williams College. "Porém, o oposto é verdadeiro: você aprende mais, mesmo que pareça mais difícil. Fluência significa pregar uma peça no próprio julgamento". Um estudo a ser publicado neste ano na revista Psychological Science, conduzido por Kornell, mostra a força que esse efeito pode ter.

Participantes estudaram uma lista de palavras impressa em fontes de variados tamanhos e julgaram a probabilidade de se lembrarem delas num teste posterior. Obviamente, eles se sentiram mais confiantes em lembrar das palavras impressas em letras grandes, avaliando o tamanho da fonte (facilidade de processamento) como mais importante para a memória - mais importante até mesmo do que a prática repetida. Experimentaram exatamente o oposto. Em testes reais, o tamanho da fonte não fez nenhuma diferença e a prática gerou resultados, afirmou o estudo.

E assim ocorre, segundo os pesquisadores, com a maioria das sessões de estudo: a dificuldade cria músculos mentais, enquanto o conforto acaba criando apenas confiança. Pelo menos um grupo demonstrou esse princípio de maneira dramática, também usando letras. Num recente estudo publicado na revista "Cognition", psicólogos de Princeton e da Universidade de Indiana fizeram 28 homens e mulheres ler sobre três espécies de alienígenas - cada um com sete características, como "possui olhos azuis" e "se alimenta de pétalas e pólen". Metade dos participantes estudou o texto na fonte Arial tamanho 16, e a outra metade em Comic Sans MS ou Bodoni MT tamanho 12. As duas últimas são relativamente desconhecidas e mais difíceis para o cérebro processar.

Após uma rápida pausa, os participantes fizeram uma prova. Aqueles que haviam estudado nas fontes de leitura difícil obtiveram resultados melhores do que os outros - em média, 85,5% a 72,8%.

Para testar o conceito na sala de aula, os pesquisadores conduziram um grande experimento, envolvendo 222 alunos numa escola pública de Chesterland, Ohio. Um grupo recebeu todo seu material complementar para os cursos de Inglês, História e Ciências alterado para uma fonte incomum, como a Monotype Corsiva. Os outros estudaram com o material de sempre. Após o término das aulas, os pesquisadores avaliaram os exames relevantes de cada sala. Conclusão: alunos que usaram o material com letras estranhas tiveram resultados significativamente melhores do que os outros, em todas as disciplinas - particularmente em física.

"A razão dessa eficácia das fontes incomuns é que elas nos fazem pensar mais profundamente sobre o material", afirmou Daniel M. Oppenheimer, psicólogo de Princeton e coautor do estudo, por e-mail. "Mas somos capazes de pensar com profundidade sem nos sujeitarmos a fontes estranhas. Pense desta forma: você não consegue se distrair com uma fonte de difícil leitura, então colocar o texto numa fonte dessas deve forçá-lo a ler com mais atenção".

Novamente, o mesmo resultado pode ser obtido com puro esforço, segundo ele e outros pesquisadores: tentar se concentrar mais, traçar diretrizes a partir do zero, resolver conjuntos de problemas sem olhar as respostas e estudar com colegas de classe, testando uns aos outros. O pagamento pode ser maior do que uma nota mais alta.

"Os estudantes de hoje estão sobre uma esteira, há tanta coisa acontecendo em suas vidas", disse Bjork. "Porém, o monitoramento do aprendizado não é simplesmente buscar uma média maior nas notas, ele é mais eficiente - e potencialmente uma grande economia de tempo".

The New York Times
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