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Óvnis: o que se sabe sobre relatório inédito do Pentágono

Um novo relatório deve revelar o que as Forças Armadas dos EUA sabem sobre objetos voadores não identificados.

24 jun 2021 - 08h07
(atualizado às 08h19)
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Versão sigilosa do aguardado relatório feito pela força-tarefa foi fornecida a membros do Congresso americano no início deste mês
Versão sigilosa do aguardado relatório feito pela força-tarefa foi fornecida a membros do Congresso americano no início deste mês
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Um aguardado relatório do governo dos Estados Unidos sobre óvnis (objetos voadores não identificados) deve ser finalmente publicado no fim deste mês.

O documento será divulgado após um pedido do Congresso americano e a revelação de uma série de textos escritos por militares que relatam "veículos movendo-se de forma errática no céu".

A liberação dessas informações também está alinhada com uma mudança cultural, com representantes militares e políticos passando do ceticismo para a curiosidade sobre esses supostos objetos voadores.

Vale notar, no entanto, que são poucas as evidências conclusivas que confirmam qualquer "visita intergalática". Resta saber agora se o novo relatório mudará alguma coisa.

Porta-vozes do governo e do meio militar americano alegam que, caso essa tecnologia não seja alienígena, ela pode muito bem pertencer a adversários geopolíticos, como Rússia ou China.

O que se sabe sobre o relatório?

Em agosto de 2020, o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, criou a Força-Tarefa de Fenômenos Aéreos Não Identificados com o objetivo de examinar o aparecimento de aeronaves desconhecidas.

Basicamente, o trabalho do grupo consistia em "detectar, analisar e catalogar" esses eventos, bem como "obter uma visão" da "natureza e origens" dos óvnis, afirmou o Pentágono.

Uma versão confidencial do relatório feito pela força-tarefa foi fornecida a membros do Congresso no início deste mês.

Porta-vozes que não quiseram se identificar disseram a veículos de imprensa dos Estados Unidos que o relatório não encontrou nenhuma evidência de atividade alienígena, mas também não descartou essa possibilidade.

A força-tarefa também teria estabelecido que os supostos óvnis observados não advinham de uma tecnologia militar secreta de origem americana.

As autoridades examinaram mais de 120 incidentes e observações relatados nas últimas duas décadas, incluindo três vídeos que o Pentágono liberou no ano passado com "fenômenos aéreos inexplicáveis".

Embora nenhuma revelação bombástica seja esperada, a existência de um relatório do governo sobre uma questão tão ridicularizada nas últimas décadas mostra como os óvnis se espalharam do reino da cultura pop e da ficção científica para o mundo da segurança nacional dos Estados Unidos.

Por que esse tema ganhou importância?

A pressão pública para que os Estados Unidos liberem o que sabem sobre alienígenas vem crescendo há décadas, enquanto grupos civis coordenados por supostos ufólogos (especialistas em óvnis) argumentam que evidências sobre o assunto foram "escondidas" pelo governo.

O Pentágono vem coletando dados de forma discreta desde 2007, como parte do pouco conhecido "Programa de Identificação Avançada de Ameaças Aeroespaciais".

O dinheiro para o programa veio a pedido do senador Harry Reid, do Partido Democrata. Ele representa o Estado de Nevada, onde se localiza a famosa Área 51 — a base militar onde os teóricos da conspiração acreditam que os restos coletados de um acidente alienígena na cidade de Roswell foram estudados desde 1947.

Objetos no céu fotografados em Massachusetts em 1952
Objetos no céu fotografados em Massachusetts em 1952
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Ex-funcionários de alto escalão e até ex-presidentes recentemente deram declarações sobre o tema.

John Podesta, gerente de campanha de Hillary Clinton e ex-chefe de gabinete no governo de Bill Clinton (1993-2001), há muito um seguidor das teorias de óvnis, prometeu durante a campanha presidencial de 2016 que seriam divulgados relatórios confidenciais do governo, caso Hillary fosse eleita.

Em uma entrevista no ano passado, o então presidente Donald Trump disse que não revelaria — nem mesmo para sua família — o que havia aprendido sobre alienígenas.

"Não vou falar com você sobre o que sei sobre isso, mas é muito interessante", afirmou à época.

O ex-presidente Barack Obama foi mais objetivo em maio, quando disse ao apresentador de TV James Corden: "Quando assumi o cargo, perguntei: existe um laboratório em algum lugar onde estamos mantendo os espécimes alienígenas e as naves espaciais? Eles pesquisaram um pouco e a resposta foi não."

"O que é verdade, e estou falando sério aqui, é que existem filmagens e registros de objetos nos céus que não sabemos exatamente o que são", continuou Obama.

"Não podemos explicar como eles se moveram, sua trajetória... Então acho que as pessoas ainda levam a sério tentar investigar e descobrir o que é isso."

O esforço para divulgar o que se sabe oficialmente sobre os óvnis também encontrou apoiadores no Congresso, tanto entre republicanos quanto entre democratas: eles argumentam que o relatório acabará com estigmas entre militares, que podem se sentir inibidos em relatar possíveis encontros com objetos não identificados para seus superiores.

Qual a evidência disponível até agora?

Militares e funcionários da área de inteligência dos Estados Unidos detalharam os avistamentos estranhos, com alguns dos relatos mais confiáveis vindos de pilotos que observaram pessoalmente óvnis próximos de equipamentos e instalações de treinamento militar.

Em março, o ex-diretor de inteligência nacional de Trump, John Ratcliffe — que anteriormente supervisionou todas as 18 agências de inteligência dos Estados Unidos — resumiu o fenômeno dizendo à emissora Fox News: "Francamente, acontecem muito mais avistamentos do que aqueles que foram divulgados".

"Estamos falando de objetos que foram vistos por pilotos da Marinha ou da Força Aérea, ou captados por imagens de satélite, que francamente são difíceis de explicar."

Em um episódio do programa 60 Minutes, que foi ao ar mês passado na emissora CBS, dois ex-pilotos da Marinha discutiram ter visto um objeto no Oceano Pacífico que parecia refletir seus movimentos.

Um piloto o descreveu como um "pequeno objeto branco com aparência de Tic-Tac", referindo-se às famosas balinhas brancas.

"E era exatamente o que parecia, exceto que estava viajando muito rápido e de forma muito errática. Não podíamos antecipar para que lado ele iria virar ou como manobraria da maneira que estava, ou o sistema de propulsão", conta a ex-pilota da Marinha, Alex Dietrich, à BBC News.

"Não tinha nenhum rastro de fumaça ou propulsão aparente. Não tinha nenhuma superfície de controle de voo para manobrar da maneira que estava acontecendo."

Como outros países lidam com possíveis óvnis?

O ex-senador Reid defendeu os US$ 22 milhões (R$ 180 milhões) que obteve para o programa do Pentágono, dizendo que outros países também estavam estudando o assunto.

"Sabemos que a China está fazendo isso", disse ele ao canal de TV e rádio Nevada Newsmakers em 2019.

"Sabemos que a Rússia, que é liderada por alguém que passou pela KGB (antiga agência de inteligência do país), está fazendo isso também, então é melhor dar uma olhada."

Uma pesquisa feita pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos "mostrou que não duas, quatro, seis ou 20 pessoas, mas centenas e centenas de indivíduos viram essas coisas no céu, às vezes várias ao mesmo tempo", argumentou.

Avistamentos de óvnis têm sido um assunto de fascínio nos Estados Unidos
Avistamentos de óvnis têm sido um assunto de fascínio nos Estados Unidos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Em dezembro passado, o ex-chefe da Diretoria Espacial do Ministério da Defesa de Israel disse a um jornal local que Trump estava "prestes a revelar" a existência de um tratado intergaláctico, mas recuou por medo de incitar uma "histeria em massa".

"Há um acordo entre o governo dos Estados Unidos e os alienígenas", disse Haim Eshed ao jornal Yediot Aharonot. "Eles assinaram um contrato conosco para fazer experimentos aqui."

A declaração não foi confirmada — nem por homens, nem por marcianos.

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