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Nasa lança telescópio James Webb, que busca entender as origens do Universo

Equipamento de R$ 51 bilhões que decolou neste sábado ajudará a investigar o Big Bang

24 dez 2021 - 20h56
(atualizado em 25/12/2021 às 10h52)
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Mais de 30 anos depois do lançamento do telescópio espacial Hubble, que revolucionou nossa visão do Universo, a Nasa dá um novo salto crucial na compreensão do cosmos. Na manhã deste Dia de Natal, a agência espacial americana lançou o novo observatório James Webb. O observatório pretende detectar planetas capazes de abrigar vida, além de enxergar as primeiras luzes do Universo e a formação das primeiras estrelas e galáxias logo após o Big Bang - a explosão primordial que deu origem a tudo.

Desenvolvido pela Nasa, com a colaboração da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Espacial Canadense (CSA), o novo telescópio foi lançado pelo foguete europeu Ariane 5, a partir da base da ESA em Kouru, na Guiana Francesa. O lançamento foi um dos mais tensos da história da Nasa, depois de décadas de atraso e vários reajustes orçamentários. Esses recálculos levaram a missão a um custo final inédito: R$ 51 bilhões.

O projeto do telescópio, batizado com o nome de um antigo diretor da Nasa, já tem mais de 30 anos. Nesse tempo, enfrentou ameaças de cancelamento, adiamentos e obstáculos tecnológicos. Vários outros projetos científicos tiveram de ser cancelados para que a Nasa bancasse a construção do telescópio. Tanto assim que a Nature, uma das mais importantes revistas científicas do mundo, se referiu ao James Webb, em um texto de 2015, como "o telescópio que engoliu a astronomia".

"O James Webb começou a ser planejado ainda na década de 1990, como um projeto curto e barato", conta a astrônoma Duília de Mello, da Pontifícia Universidade Católica da América e colaboradora da Nasa. "Mas foi repensado, ganhou nova cara e bilhões de dólares a mais. Originalmente, deveria ter sido lançado em 2007."

Projetado para ser o substituto do telescópio Hubble - lançado em 1990 e ainda em funcionamento -, o James Webb é um instrumento bem maior, muito mais complexo e com metas mais ambiciosas. O novo telescópio não vai estudar a parte visível do espectro eletromagnético como fazem o Hubble e observatórios em operação na Terra. O JW captará a radiação em infravermelho.

"Há muitas razões para isso", explicou ao jornal britânico The Guardian Gillian Wright, diretor do Centro de Tecnologia Astronômica de Edimburgo, no Reino Unido, que faz parte do projeto. "Para começar, o infravermelho é a parte perfeita do espectro para olhar através da poeira e isso é importante porque estrelas e planetas se formam em regiões cheias de poeira. Para quem quer entender onde e como outros sistemas solares se formaram, o James Webb vai oferecer dados cruciais", afirmou.

Olhar no passado

Quanto mais distantes estão determinados objetos no espaço, suas luzes se tornam cada vez mais tênues e vermelhas, até que alcançam a parte infravermelha do espectro. Por isso, para estudar o primeiro capítulo da história do Universo - as primeiras estrelas a surgir -, é necessário um telescópio capaz de enxergar em infravermelho.

Importante lembrar que olhar para objetos muito distantes no espaço é mirar o passado. Por isso, o novo observatório funcionará como uma espécie de máquina do tempo.

Isso acontece porque, como a velocidade da luz no vácuo é de aproximadamente 300 mil quilômetros por segundo, ela precisa viajar durante bilhões de anos pelo espaço para chegar à Terra (ou, mais precisamente, até as lentes do telescópio que focá-la).

Ou seja, a imagem que o observatório nos mostra é um retrato da estrela bilhões de anos atrás. É por isso que quando olhamos para muito longe observamos o que já passou. E é por isso também que, a partir dessas imagens, podemos estudar como as galáxias surgiram e como o próprio Universo evoluiu.

"O que podemos esperar da missão principal é ver as primeiras galáxias; o Webb sempre teve essa função de ver além do que o Hubble vê", explica Duília de Mello. "Mas podemos esperar muito mais coisas, inclusive inesperadas, que é sempre mais legal."

Infravermelho

O telescópio vai olhar também para o presente, em busca de outros planetas que possam abrigar formas de vida. A presença de determinadas substâncias químicas na atmosfera de um planeta, como o metano, por exemplo, é um indicador importante de sua capacidade de abrigar alguma forma de vida. A visão em infravermelho é fundamental para este tipo de análise.

"O James Webb não tem como saber se há, de fato, vida em um planeta", explica Duília. "Mas ele consegue analisar a atmosfera dos planetas, buscar por composições químicas parecidas com a da Terra, se tem oxigênio, água, clorofila, substâncias que são sinônimos de vida em nosso planeta."

Alguns observatórios terrestres operam em infravermelho, mas para observações de maior qualidade o telescópio precisa estar acima da atmosfera, que bloqueia uma grande parte da radiação infravermelha. E o James Webb vai estar bem acima, a 1,5 milhão de quilômetros da Terra. O Hubble está muito mais próximo. Fica a pouco mais de 500 quilômetros do nosso planeta.

Sem conserto

O que pode ser uma vantagem do Webb pode ser também um grande problema. Por causa da distância, não estão previstas missões tripuladas de apoio ao observatório, como já aconteceu com o Hubble. Ou seja, se algo der errado, ninguém vai poder ir até lá para consertar. A hipótese de o observatório apresentar algum tipo de problema que exija conserto não é totalmente descabida. Já aconteceu com o Hubble.

Para chegar até esse ponto remoto e extremamente frio do espaço, o James Webb enfrentará uma jornada de grande risco. O Webb será "desdobrado" e montado em pleno voo. O processo será concluído em seis meses. Somente no fim desse período então os astrônomos vão descobrir se o James Webb será um grande triunfo da tecnologia ou o fracasso mais caro da história da agência espacial.

Estadão
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