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Considerada nova época geológica, Antropoceno ganha força entre cientistas

8 set 2016 - 10h07
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A Terra superou, por volta de 1950, mais de 12 mil anos de Holoceno e entrou em uma nova época geológica, o Antropoceno, a primeira definida pela ação do homem e que apresenta desafios desconhecidos, dos quais sua viabilidade como espécie dependerá.

Esta é a tese exposta após anos de pesquisa por um grupo de especialistas de diversos países no recente Congresso Internacional de Geologia, realizado na Cidade do Cabo (África do Sul), e que ganha cada vez mais força entre a comunidade científica.

"Há um amplo consenso sobre o fato de que estão acontecendo coisas no sistema da Terra, em seus processos geológicos, sobretudo na superfície", disse à Agência Efe Jan Zalasiewicz, do Grupo de Trabalho sobre o Antropoceno (GTA), que propõe o reconhecimento formal da mudança de época.

"Desde o momento em que houve humanos, houve impacto humano no planeta. A novidade é que estamos tirando o planeta de sua variabilidade natural", explicou Alejandro Cearreta, cientista da Universidade do País Basco e membro do GTA.

Apesar da curta idade deste período, Zalasiewicz e seus colegas dizem ter identificado vários sinais, nos sedimentos da Terra, de uma mudança irreversível, cujo alcance e consequências são ainda impossíveis de prever.

"O início histórico desta época pode ser a explosão da bomba Trinity, no teste nuclear realizado em 1945 no deserto de Alamogordo, no Novo México", afirmou Cearreta.

As primeiras evidências de isótopos radioativos nos sedimentos - como consequência da explosão da bomba - datam de 1952, a segunda data que o GTA cogita para estabelecer o ponto de partida do Antropoceno.

Entre as alterações da nova época mais fáceis de serem percebidas destacam-se os deslocamentos de bilhões de toneladas de rochas, terra e areia pedra a construção de estradas, linhas férreas, hospitais, projetos imobiliários e aeroportos.

Estas superfícies relativamente novas criaram as chamadas camadas urbanas: "massas de tijolo, cimento, aço, vidro ou plástico" fossilizáveis que, com o passar do tempo, acabam se tornando parte da pele da Terra, afirmou Zalasiewicz.

Do mesmo modo, as alterações que o ser humano fez com animais e plantas, tanto em número, tamanho e estrutura como em sua localização geográfica, definirão o aspecto e a composição das últimas camadas do planeta quando seus restos mortais se petrificarem.

Zalasiewicz mencionou também as mudanças nos ciclos do carbono, do nitrogênio ou do fósforo provocadas pelo uso de pesticidas e outras substâncias químicas, que "em milhões de anos" terão repercussões na composição das camadas terrestres.

"Há aspectos positivos neste processo", afirmou o professor, se referindo a avanços tecnológicos "essenciais" para a melhora da qualidade da vida humana e para sustentar sua explosão demográfica.

No entanto, esta revolução também trouxe consigo "consequências não desejadas", como o aquecimento global, o crescimento do nível dos oceanos ou a enorme e crescente demanda de energia.

"As gerações futuras deverão se ocupar destes assuntos, e serão considerados problemas", acredita Zalasiewicz, que lembrou que em todas as grandes mudanças houve "ganhadores e perdedores", como ocorreu com os dinossauros.

Para ele e seus colegas do GTA, como Michael Wagreich, a declaração formal do Antropoceno contribuiria para atrair a atenção para os desafios enfrentados pelo homem e a lidar com a situação para evitar que a humanidade seja a perdedora da mudança, desta vez.

Enquanto tenta ganhar apoio em fóruns internacionais como o da Cidade do Cabo, o GTA continua juntando provas para poder apresentar, em dois ou três anos, uma proposição formal aos órgãos decisórios da comunidade científica de geólogos.

Embora estes processos estejam submetidos a uma rigorosa apuração e possam durar décadas, Wagreich se declara "otimista" sobre suas possibilidades, e enxerga na "crescente sensibilidade" sobre uma "mudança global" que "já pode ser vista nos registros geológicos" um fenômeno que não retroagirá.

"A aprovação formal representaria um respaldo a todas as pessoas e organizações ambientalistas que consideram que o impacto humano sobre o planeta é excessivo e que temos que modificar nosso comportamento como espécie", disse Cearreta.

EFE   
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