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Cientistas renomados explicam por que são fãs de 'The Big Bang Theory'

4 abr 2016 - 10h38
(atualizado às 11h11)
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O pesquisador Fernando Roig diz que série 'desmistifica' a Ciência
O pesquisador Fernando Roig diz que série 'desmistifica' a Ciência
Foto: BBC / BBC News Brasil

Se a série The Big Bang Theory tivesse um fã-clube aqui no Brasil, um de seus fundadores seria o astrônomo Fernando Roig. O pesquisador do Observatório Nacional é daqueles que não perde um episódio sequer.

Se por acaso acredita que não vai chegar em casa a tempo de assisti-lo na segunda à noite, deixa gravando. Quando a série é lançada em DVD, compra a temporada completa para rever tudo de uma vez – no melhor estilobinge watching , como é chamado o costume de assistir a vários episódios de uma só vez.

Não satisfeito, Fernando ainda gosta de colecionar itens relacionados à produção da Warner. Como a camiseta com o bordão "Bazinga!" do personagem Sheldon Cooper e uma estatueta em resina dele.

"O legal da série é que ela tira a aura de seriedade que costuma pairar sobre os cientistas e ajuda a desmistificar a ideia de que a ciência é uma coisa chata", acredita.

Se a ciência não é chata, The Big Bang Theory (TBBT, para os íntimos) muito menos. Em poucas palavras, narra as aventuras acadêmico-científicas de dois físicos – um teórico, Sheldon Cooper (Jim Parsons), e outro experimental, Leonard Hofstadter (Johnny Galecki).

Os dois trabalham no Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e dividem um apartamento em Pasadena, na Califórnia. Integram a trupe a aspirante a atriz Penny (Kaley Cuoco), o engenheiro aeroespacial Howard Wolowitz (Simon Helberg) e o astrofísico Rajesh Koothrappali (Kunal Nayyar).

No fã-clube imaginário fundado por Roig, o astrônomo Alexandre Cherman, da Fundação Planetário, seria forte candidato a presidente. Admirador confesso de Sheldon, Leonard & cia, diz que, graças a eles, virou "cool" ser cientista. E credita boa parte do sucesso de TBBT ao seu rigor científico.

"Para uma série de comédia, é bem mais precisa do que muito filme sério de ficção, como Interestelar, de Christopher Nolan, e Gravidade, de Alfonso Cuarón. Mas, claro, licenças poéticas são necessárias e até bem-vindas. Se não, deixa de ser entretenimento e vira aula", pondera.

Rigor científico

Para o astrônomo Alexandre Cherman, graças ao seriado, ser cientista hoje é 'cool'
Para o astrônomo Alexandre Cherman, graças ao seriado, ser cientista hoje é 'cool'
Foto: BBC / BBC News Brasil

Se TBBT é uma série "cientificamente precisa", o mérito é do físico americano David Saltzberg, da Universidade da Califórnia (UCLA). É ele que, entre outras tarefas, revisa as falas dos personagens, propõe discussões científicas e formula as equações na lousa de Sheldon Cooper.

Apesar de toda a consultoria, TBBT não está livre de eventuais "incorreções". O físico Cláudio Furukawa, da Universidade de São Paulo (USP), aponta uma delas.

No episódio The Vengeance Formulation, o nono da terceira temporada, Barry Kripke (John Ross Bowie) solta gás hélio na sala de Sheldon, que fica com a voz fina durante entrevista a uma rádio.

"Para Sheldon ficar com a voz aguda daquele jeito, seria necessário que houvesse gás hélio na sala inteira. Bem, se isso acontecesse de verdade, não haveria oxigênio para respirar e Sheldon teria ficado asfixiado", explica.

Nada que, convenhamos, abale o prestígio da série junto à comunidade científica brasileira. Muito pelo contrário. O fascínio é tanto que, depois de descobrir uma espécie rara de abelha em 2012, o biólogo André Nemésio, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), decidiu batizá-la de Euglossa bazinga – em alusão ao bordão repetido por Sheldon.

O queridinho dos nerds

Dos protagonistas da série, Sheldon Cooper é, sem dúvida alguma, o mais popular. "Eu me identifico muito com o Sheldon", admite Cherman, do Planetário.

"Não tenho todas aquelas manias, nem tampouco sou um sociopata. Mas sua crença na Física como o caminho para as grandes respostas do mundo me agrada bastante", esclarece.

Outro que admite soltar umas boas risadas de vez em quando com as idiossincrasias de Sheldon Cooper é Luiz Pinguelli Rosa. O físico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ressalva que não chega a se identificar com o personagem, mas diz que conhece alguns cientistas que têm um perfil parecido com o dele.

"Sheldon Cooper é o típico gênio incompreendido. É muito orgulhoso de si e vive tratando os colegas com certo desprezo, por se dedicarem a assuntos menos quentes da Física", analisa.

Na hora de eleger seu personagem favorito, a astrônoma Duília de Mello, do Goddard Space Flight Center (GSFC), um dos mais importantes centros de estudo da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), não pensa duas vezes: a neurocientista Amy Farrah Fowler (Mayim Bialik) e a microbiologista Bernardette Rostenkowski-Wolowitz (Melissa Rauch).

Um detalhe curioso é que Mayim não é neurocientista só na ficção. Fora dela, é PhD pela UCLA. "As duas são excelentes fontes de inspiração para as meninas que querem fazer ciência quando crescer", justifica.

Por falar em inspiração, Duília elogia a iniciativa dos produtores de convidar cientistas famosos, como Stephen Hawking, Brian Greene e Neil deGrasse Tyson, entre outras mentes brilhantes, para fazer participações especiais.

"Além de despertar no público adolescente o gosto pelo conhecimento científico, ajuda a reduzir o preconceito contra os CDFs - alunos considerados pelos colegas como excessivamente dedicados aos estudos -, vítimas constantes de bullying nas escolas", complementa Furukawa, da USP.

Caricatura de cientista

Série está em sua nona temporada nos Estados Unidos
Série está em sua nona temporada nos Estados Unidos
Foto: Divulgação

O físico e astrônomo Marcelo Gleiser, do Dartmouth College (EUA), é outro assíduo espectador da série. "No espectro entre invenção completa e precisão científica, eu diria que The Big Bang Theory está mais próxima da precisão científica, com alguns exageros e eventuais distorções", analisa.

Gleiser só teme que Sheldon, Hofstadter, Howard e Raj reforcem o estereótipo do cientista como um nerd socialmente inepto, incapaz de ter relacionamentos saudáveis com o sexo oposto.

"A caricatura é engraçada. Espero apenas que o público não acredite que todos os cientistas são assim. De nerds, Brian Greene e Neil deGrasse Tyson, que conheço bem, não têm nada. E eu também não!", enfatiza.

Fernando Roig até concorda que a série recorra a estereótipos muito acentuados, mas pondera que, sem eles,The Big Bang Theory não faria tanto sucesso.

"A maioria das pessoas enxerga o mundo da ciência como algo estranho, misterioso ou até bizarro. Não se pode negar que todo cientista tem, lá no fundo, certo grau de loucura ou mania", entrega. Bazinga!

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