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Chimpanzés não precisaram do homem para aprender a guerrear

17 set 2014 - 15h12
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Os chimpanzés matam uns aos outros para eliminar rivais e obter melhor acesso ao território, às fêmeas e à comida e não devido ao impacto das atividades humanas que os teria tornado mais agressivos, asseguram os pesquisadores.

Os ataques mortais lançados por grupos de chimpanzés machos contra outros machos isolados não pertencentes à sua comunidade reflete uma "estratégia de evolução", de acordo com um estudo realizado por uma equipe de trinta pesquisadores de todo o mundo e publicado nesta quarta-feira na revista Nature.

Este trabalho é uma resposta a um número crescente de comentários afirmando que a violência dos chimpanzés seria resultado da presença humana, que provocou o desmatamento e a inclusão de alimentos artificiais à sua alimentação.

Os seres humanos e os chimpanzés são as únicas espécies do mundo a realizar ataques coordenados contra membros de sua própria espécie.

"Se usarmos os chimpanzés como modelos para compreender a violência do homem, precisamos saber o que realmente faz o chimpanzé violento", diz Michael Wilson, pesquisador da Universidade de Minnesota e autor principal do estudo.

"Os modelos de agressão mortais entre os chimpanzés mostram pouca correlação com os impactos humanos, mas são melhor explicados pela hipótese de adaptação. O assassinato é uma maneira de eliminar rivais quando o custo de agressão é baixo", concluem os pesquisadores.

Ao aumentar seu território, o acesso aos alimentos e às fêmeas, os chimpanzés aumentam suas chances de sobrevivência e reprodução, o que lhes permite transmitir seus genes às gerações futuras.

Os pesquisadores coletaram informações sobre 18 comunidades de chimpanzés (Pan troglodytes) na África, recolhidas ao longo dos últimos 50 anos. Eles identificaram 152 assassinatos.

Os cientistas também estudaram quatro comunidades de bonobos (Pan paniscus) no mesmo período. Eles descobriram apenas um caso suspeito de assassinato entre esses símios considerados pacíficos e que fazem parte das espécies ameaçadas de extinção.

Para estudar o impacto do homem, os pesquisadores levaram em conta três variáveis: os chimpanzés se alimentaram com produtos industrializados; qual espaço possuem; eles foram incomodados principalmente pelo desmatamento?

Para testar a hipótese da estratégia evolutiva, eles observaram de qual região os chimpanzés eram originários e o número de machos. Eles também estudaram a densidade (número de chimpanzés por quilômetro quadrado).

O estudo revela que os chimpanzés machos representavam 92% dos agressores, mas também 73% das vítimas. Os jovens não desmamados também são alvo de ataques mortais.

Dois terços das mortes ocorreu no contexto de ataques contra membros de outras comunidades, improváveis de fazer parte de uma mesma família.

Os agressores eram muito mais numerosos que as vítimas (em uma proporção de oito contra um), o que reduz o risco e, portanto, o "custo" do ataque, segundo os pesquisadores.

Os ataques de chimpanzés no leste africano, região menos afetada pela presença do homem, são mais numerosos do que oeste. Os cientistas citam o caso da Guiné, onde nenhuma morte foi registrada, enquanto que o local foi profundamente alterado pela presença humana.

O estudo permitiu estabelecer que os ataques mortais aumentavam em função do número de machos e a densidade da população. No entanto, nenhuma das variáveis utilizadas para avaliar o impacto do homem teve efeito convincente.

"Não é porque os chimpanzés matam, por vezes, os seus vizinhos, que os homens não são destinados a ser beligerantes", adverte Joan Silk, pesquisador da Escola de Evolução Humana e Mudanças Sociais do Arizona em um editorial publicado na revista Nature.

"Há uma variação considerável no número de assassinatos cometidos segundo as diferentes populações de chimpanzés. Assim, mesmo o assassinato entre os chimpanzés não é inevitável", indica John Mitani, antropólogo da Universidade de Michigan e um dos autores do estudo.

"E, claro, nós somos homens, não chimpanzés. Temos uma capacidade de moldar e modificar o nosso comportamento o que esses animais não conseguem. Nós poderíamos aliviar muito o sofrimento humano se utilizássemos esta capacidade", conclui.

AFP Todos os direitos de reprodução e representação reservados. 
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