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As razões do desaparecimento repentino de cachoeira de água azul no México

Pessoas que vivem perto de quedas no Estado de Chiapas dizem que nunca viram algo assim: a água da cachoeira La Golondrina parou de correr da noite para o dia; respostas para o fenômeno estão tanto na natureza como na ação do homem.

14 nov 2017 - 15h45
(atualizado às 16h13)
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Foto: iStock/Alfonso García
Foto: iStock/Alfonso García
Foto: BBC News Brasil

O paraíso chegou ao fim repentinamente - e ninguém entendeu o que estava acontecendo.

As pessoas que vivem perto das quedas de Água Azul, um dos balneários mais visitados do sudeste do México, ficaram chocados quando a água praticamente parou de jorrar.

"Nunca havia passado pela nossa cabeça a ideia de que algum dia a principal cachoeira poderia secar", disse Alberto López, integrante da administração do balneário ao jornal local La Jornada.

"Desde pequenos conhecemos esse rio, e ele sempre foi igual. Mas de repente vimos que as pedras começaram a aparecer mais", explicou.

Conhecida como La Golondrina, a principal cachoeira de Água Azul foi admirada por décadas devido à cor azul turquesa de suas águas. Cerca de 200 mil pessoas visitam o lugar por ano.

No entanto, na sexta-feira passada os moradores do município notaram que a água deixou de correr, como se alguém tivesse fechado uma torneira e só restasse um pequeno fluxo.

De repente, o nível da água caiu em 85% no rio que alimenta a cachoeira, disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, o diretor de Proteção Civil do Estado de Chiapas, Luis Manuel García.

Os turistas que viram o cartão postal dessa atração natural em seu esplendor máximo se depararam então com um lugar muito diferente.

'Tristeza'

A cor turquesa característica da água das quedas se deve a uma alta presença de minerais nas pedras calcárias sobre as quais corre o afluente do rio que as alimenta.

Nos meses anteriores, o caudal do afluente havia diminuído, mas não havia ocorrido uma falta de água como a que aconteceu na semana passada.

A situação gerou "tristeza e preocupação" entre os locais, já que o turismo é uma das principais fontes de renda da região.

"Em 41 anos de operação, nunca havia acontecido nada assim, nem em abril e maio, quando o nível da água diminui por falta de chuvas", disse Alberto López ao La Jornada.

Especialistas da Comissão Nacional da Água, da Comissão Nacional de Áreas Naturais Protegidas e da Proteção Civil estatal começaram a fazer investigações para descobrir o motivo da seca.

Dano natural

No último 7 de setembro, os Estados de Chiapas e Oaxaca sofreram as consequências do terremoto de magnitude 8,2, o mais forte já registrado no México nos últimos cem anos, que deixou dezenas de mortos e feridos, além de muitos danos materiais.

Agora, se sabe que ele também provocou estragos em Água Azul.

Em um trecho do rio Xanil, que alimenta as quedas, um desmoronamento de pedras aos poucos foi fechando a passagem de água que alimentava a cachoeira La Golondrina, a principal da região.

Isso foi a principal causa da ausência de água, mas também há outro motivo que não é de origem natural.

Cachoeira praticamente vazia
Cachoeira praticamente vazia
Foto: BBC News Brasil

Ação humana

A região das quedas de Água Azul está protegida pela Comissão Nacional de Áreas Naturais Protegidas.

Porém, a vários quilômetros dali, a riqueza florestal da selva de Lacandona está sendo explorada.

As autoridades de Chiapas descobriram um problema que já impactou a presença da água das quedas em uma das regiões que ainda não está sob proteção ecológica.

Autoridades explicam as causas da falta de água
Autoridades explicam as causas da falta de água
Foto: BBC News Brasil

"Catorze quilômetros acima, no rio, encontramos uma área de desmatamento avançado", disse Luis Manuel García, diretor de Proteção Civil de Chiapas à BBC Mundo.

O corte de árvores altera o ciclo da água com efeitos no caudal do rio Xanil e, como consequência, nas quedas de Água Azul.

"Temos que fazer o necessário para reflorestar e regenerar o ciclo de água", disse García.

O paraíso está em risco?

Entre o domingo e a segunda-feira, as autoridades realizaram serviços para recuperar o leito do rio que alimenta as cachoeiras de Água Azul.

Com isso, a água voltou a correr sobre a cachoeira de La Golondrina e outras piscinas naturais que se formam nas pedras.

Mas a recuperação total do ecossistema exige um estudo mais amplo, cujos primeiros resultados só estarão disponíveis no fim deste ano, segundo Juan Limón, da Comissão Nacional de Água do México.

"Isso não será uma solução imediata, é de médio a longo prazo", disse.

La Golondrina recupera suas águas
La Golondrina recupera suas águas
Foto: BBC News Brasil

Os turistas que chegaram à cachoeira nesta segunda-feira encontraram La Golondrina com um novo fluxo de água, mas não a cor turquesa característica.

"Ontem retiramos as pedras caídas e, com as chuvas causadas pela frente fria, hoje já aumentou a margem de água do lado direito, recuperando a cachoeira", disse Luis Manuel García.

A água mudou para uma cor mais escura por causa da chegada repentina de uma grande quantidade de água.

Mas as autoridades reconhecem que é uma primeira advertência de que esse paraíso natural pode ficar seriamente comprometido sem uma solução imediata.

"São efeitos de um processo de deterioração de anos, e levaremos tempo para resolvê-lo de maneira adequada", disse Juan Limón.

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