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Antártida, o continente branco que um dia foi verde

20 abr 2017 - 10h12
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A Antártida, o inóspito continente branco que conhecemos atualmente, foi um dia uma superfície coberta por frondosas florestas subtropicais repletas de palmeiras, samambaias e coníferas.

"O fato de a Antártida ter sido um dia verde é algo dado como certo entre os cientistas, mas ainda desconhecido para muitas pessoas", disse à Agência Efe o paleobiólogo Marcelo Leppe, pesquisador do departamento científico do Instituto Nacional Antártico Chileno (INACH).

O representante chileno no Comitê Científico para a Pesquisa na Antártida (SCAR, na sigla em inglês) dedicou sua vida à pesquisa de fósseis antárticos e patagônicos que permitam investigar a origem das plantas e dos animais que povoaram o "fim do mundo".

Em sua opinião, as florestas começaram a colonizar a Antártida há 298 milhões de anos, durante um período conhecido como Permiano, quando o clima ficou mais quente e os geleiras da Era do Gelo começaram a derreter.

Os cientistas encontraram evidências disso nos Montes Transantárticos, uma cadeia montanhosa que divide a Antártida oriental da ocidental, onde foram encontrados fósseis de folhas de Glossopteris, uma árvore extinta que dominou os ambientes periglaciais.

Em tempos mais próximos, outros fósseis revelaram a existência de frondosas florestas de samambaias e coníferas entre as quais caminhavam majestosos dinossauros como o Criolofossauro, de quase cinco metros de altura e oito de comprimento, e os gigantescos Saurópodes, herbívoros de pescoço comprido que podiam alcançar até 20 metros de altura.

No entanto, a "época dourada" das plantas modernas na Antártida se assentou no Cretáceo (entre 145 e 66 milhões de anos atrás), quando a Península Antártica era coberta por uma densa vegetação própria de climas tropicais, que servia de refúgio a diversas linhagens de dinossauros.

"Há 80 milhões anos, caminhar pela Antártida era como fazer isso em uma floresta tropical ou subtropical, algo parecido ao que poderíamos encontrar em algumas regiões do Chile e da Nova Zelândia", descreveu Leppe.

Estas florestas eram dominadas por coníferas, como grandes araucárias, faias, Nothofagus antarctica, Nothofagus dombeyi e arbustos pequenos, além de plantas com flores.

Um dos mistérios que os cientistas não puderam revelar é como estas florestas polares, parecidas com as que atualmente são encontradas em zonas temperadas, puderam sobreviver às condições de escuridão invernal.

Apesar de a temperatura variar consideravelmente, a latitude da Antártida não mudou, motivo pelo qual as plantas e os animais tiveram que se "adaptar" aos seis meses de quase completa escuridão no Continente Branco entre maio e setembro.

"Sabemos que alguns dinossauros migravam com a chegada do inverno, mas no caso das plantas o tema continua sendo um enigma", declarou o cientista.

Durante o período de verão, as plantas eram expostas a 20 ou 22 horas de luz diária; no entanto, "isso não quer dizer necessariamente que tivessem capacidade de fazer fotossíntese durante mais horas do que agora", porque esse processo se limita a uma fração de tempo determinado.

"Ainda é um mistério saber como algumas espécies arbóreas atingiram taxas de crescimentos similares aos da floresta valdiviana atual (Chile) com essa radiação".

Uma série de sucessivos esfriamentos do clima, somados ao impacto do meteorito em Yucatán, além das colossais erupções no Planalto de Deccan, na Índia, terminaram com o período "superaquecido" do Cretáceo.

A partir desse momento - há 47 milhões de anos -, a Antártida começou a esfriar de novo.

A tundra, a última remanescente das florestas antárticas, desapareceu há 15 milhões de anos, quando o continente se congelou por completo e adotou a aparência de deserto branco que conhecemos atualmente.

Mas essa aparência pode não durar para sempre, já que a mudança climática ameaça pintar de novo de verde a branca planície antártica.

"O fato de que espécies invasoras de outros lugares do mundo, como a grama comum ou a aveia selvagem, se sintam confortáveis nas áreas antárticas desprovidas de gelo, é um claro indício de que as condições climáticas estão ficando melhores para a vida vegetal", considerou o cientista.

O aquecimento global, a introdução de plantas invasoras produto da transferência de genes de uma espécie a outra e o retrocesso das geleiras estão criando as condições necessárias para que a Antártida volte a ser uma superfície coberta de frondosas florestas.

"É só uma questão de tempo", concluiu Leppe.

EFE   
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