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China tentou influenciar governo alemão em meio à pandemia

26 abr 2020 - 13h46
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Governo Merkel aponta que diplomatas chineses fizeram lobby para tentar obter declarações positivas de autoridades alemãs em relação às medidas de Pequim contra covid-19.O governo alemão confirmou neste domingo (26/04) que diplomatas chineses fizeram lobby para que autoridades do país europeu divulgassem comentários positivos sobre a forma com que a China tem lidado com a pandemia.

Chineses em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim
Chineses em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim
Foto: DW / Deutsche Welle

"O governo alemão está ciente dos contatos individuais feitos diplomatas chineses com o objetivo de obter declarações positivas sobre a gestão do coronavírus pela República Popular da China", declarou o Ministério do Interior, em uma carta enviada a uma deputada do Partido Verde, que questionou o governo da chanceler federal Angela Merkel sobre o tema.

O governo afirmou ainda que "não atendeu aos pedidos" e disse que do ponto de "vista do governo federal alemão, a transparência tem um papel chave na luta contra a pandemia". "Deixamos isso claro à República Popular da China", diz a resposta do governo.

A existência do lobby foi revelada inicialmente pelo jornal Welt am Sonntag. O jornal procurou a embaixada chinesa em Berlim para comentar o assunto, mas a representação diplomática rejeitou a alegação e classificou as informações do jornal como "irresponsáveis". No entanto, a carta divulgada pelo governo alemão acabou por desmentir os chineses, aponta o jornal.

Por outro lado, o governo alemão também evitou antagonizar com os chineses. Na mesma carta, destacou os esforços de Pequim na luta contra o novo coronavírus e assinalou que, dentro de uma relação estratégica, há contatos permanentes entre Berlim e a China em tornos de diversos assuntos, entre eles a pandemia. O governo alemão também não deixou claro se considera que a China não tem sido transparente e evitou detalhar quando teriam ocorrido as tentativas de influência dos diplomatas chineses.

A destinatária da carta, a deputada Margarete Bause, que atua como porta-voz para direitos humanos do Partido Verde alemão, disse que ficou decepcionada com a reação do governo alemão. "A resposta do Ministério do Interior mostra o silêncio do governo federal em relação à China. O governo não está nem mesmo disposto a tomar uma posição clara contra as tentativas de influência de Pequim", disse Bause ao Welt am Sonntag.

Relatório europeu teve tom amenizado

Na sexta-feira, a agência Reuters revelou que membros do governo chinês tentaram barrar a publicação de um relatório da União Europeia que destacava que Pequim vem promovendo desinformação sobre a pandemia.

Segundo a agência, diplomatas chineses souberam do conteúdo crítico previamente e afirmaram aos europeus que "se o relatório fosse mesmo como o descrito e caso fosse publicado naquela data, seria muito ruim para a cooperação". De acordo com agência, o documento deveria ter sido publicado na última terça-feira, mas o material foi só liberado na sexta.

Ainda de acordo com agência, os europeus acabaram cedendo em parte à pressão. O relatório que acabou sendo publicado difere do material original ao qual a Reuters e o jornal americano The New York Times afirmam terem tido acesso no início da semana. Parte do tom crítico aos chineses foi suprimido.

Logo no início, segundo a Reuters, o documento original apontava que a "China continuou a organizar uma campanha global de desinformação para evitar de ser responsabilizada pela disseminação do vírus e para melhorar a sua imagem internacional".

No entanto, o resumo da versão final atribui a campanha de desinformação a "fontes" apoiadas por "diversos governos, incluindo a Rússia e, em menor grau, a China".

De acordo com o NYT, o documento original apontava, por exemplo, que Pequim realizou esforços para reduzir menções à origem do vírus, em parte culpando os Estados Unidos por espalhar a doença internacionalmente.

O documento também apontava que Pequim criticou a França como lenta em responder à pandemia e que os chineses espalharam falsas acusações de que os políticos franceses usavam insultos racistas contra o chefe da Organização Mundial da Saúde. No entanto, vários desses trechos acabaram sendo suprimidos ou seu tom crítico foi atenuado, segundo o jornal.

JPS/rt/dpa/ots

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