Netanyahu não afirmou em entrevista à Fox News que país do Ocidente entregou urânio ao Irã
PRIMEIRO-MINISTRO ISRAELENSE FALOU SOBRE AMEAÇAS DO PAÍS PERSA, MAS NÃO MENCIONOU FORNECIMENTO DE MATERIAL RADIOATIVO POR NAÇÃO OCIDENTAL
O que estão compartilhando: um vídeo da entrevista do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, à emissora norte-americana Fox News, em que ele afirmaria que um país ocidental teria fornecido urânio ao Irã. A partir disso, outras postagens passaram a especular que o Brasil seria esse país mencionado.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. Em nenhum momento da entrevista concedida no dia 15 de junho de 2025 para a emissora Fox News Netanyahu comentou sobre a possibilidade de um país do ocidente ter fornecido urânio ao Irã. Com ajuda de uma ferramenta de transcrição de áudio, a reportagem notou que a palavra "Ocidente" não foi sequer mencionada durante o vídeo. Com 32 minutos de duração, a gravação da entrevista está disponível nos canais oficiais da emissora norte-americana e teve mais de 4 milhões de visualizações no YouTube.
Saiba mais: Com o auxílio da ferramenta de transcrição de áudio NotebookLM, a reportagem verificou que o primeiro-ministro de Israel sequer mencionou a palavra "Ocidente" durante a gravação.
Na entrevista em questão, Netanyahu voltou a defender a necessidade urgente de ações militares contra o Irã, classificando o regime islâmico como uma "ameaça existencial dupla e iminente".
Segundo ele, a preocupação está centrada no avanço do programa de enriquecimento de urânio com fins bélicos e no crescimento do arsenal de mísseis balísticos, que teriam alcance suficiente para atingir cidades israelenses e até mesmo a costa leste dos Estados Unidos.
Com base em informações da inteligência israelense, compartilhadas com os Estados Unidos, o premiê afirmou que há um plano secreto iraniano para militarizar o urânio.
Netanyahu acusou o Irã de tentar assassinar o presidente dos Estados Unidos Donald Trump em duas ocasiões, alegando que o republicano é considerado o "inimigo número um" do regime por sua postura firme contra o programa nuclear. Disse ainda ter sido alvo de ameaças semelhantes e se definiu como um "parceiro júnior" de Trump nesse cenário.
O primeiro-ministro israelense responsabilizou o Irã por ataques a militares americanos e pela suposta intenção de repassar armas nucleares a grupos como os Houthis, classificando esse movimento como "terrorismo nuclear em escala global".
Após a entrevista, postagens com um trecho da fala de Netanyahu passaram a circular com a afirmação de que ele teria acusado um "país do Ocidente" de fornecer urânio ao Irã. Publicações nas redes começaram a especular que o país "citado" por Netanyahu seria o Brasil. As publicações fazem referência à visita de navios de guerra iranianos que ficaram ancorados no Rio de Janeiro em 2023.
Entre os que compartilharam essa afirmação falsa está o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que publicou uma matéria do site Diário do Brasil. O texto atribuía a Netanyahu a declaração de que um país ocidental teria fornecido urânio ao Irã. Depois, o site publicou uma errata reconhecendo que o primeiro-ministro israelense não disse isso. Além disso, o ex-presidente apagou a publicação no X (antigo Twitter).
Em nota ao Verifica, a Comissão Nacional de Energia Nuclear do Brasil afirmou que não houve aprovação de exportação de Urânio para o Irã.
A reportagem entrou em contato com a Embaixada de Israel, a Secretaria de Comunicação Social e o Ministério da Defesa, mas não obteve retorno até o fechamento desta verificação.
