Não existe alerta sobre leite contaminado com metanol; vídeo usa IA de Renata Vasconcellos
AUTORIDADES INDICAM QUE CASOS DE INTOXICAÇÃO PELA SUBSTÂNCIA FORAM REGISTRADOS APÓS CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS; POSTAGEM FALSA SIMULOU VOZ E IMAGEM DE APRESENTADORA DO 'JORNAL NACIONAL'
O que estão compartilhando: que a jornalista Renata Vasconcellos teria noticiado que lotes de leite estariam contaminados com metanol em diferentes Estados do Brasil. Os casos de intoxicação teriam sido detectados em lotes de supermercados e estabelecimentos após erros de fabricação.
O Estadão Verifica checou e concluiu que: é falso. Comunicados divulgados por órgãos oficiais indicam que os casos registrados de intoxicação por metanol ocorreram após a ingestão de bebida alcoólica, como publicado neste domingo, 5, pelo Ministério da Saúde. Em nota, o Ministério da Justiça disse que não recebeu alerta de contaminação por metanol no leite, "somente em bebidas destiladas".
Ferramentas detectaram uso de inteligência artificial para a geração do vídeo viral, que simula a voz e a imagem de Renata. Não há qualquer registro de que o Jornal Nacional, do qual ela é apresentadora, tenha noticiado contaminação de leite por metanol.
Saiba mais: Informações divulgadas pelas autoridades de saúde e imprensa indicam que os casos de intoxicação por metanol registrados ocorreram após o consumo de bebidas alcoólicas, e não de leite, diferentemente do que alegam postagens virais nas redes sociais.
Por meio da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), o Ministério da Justiça informou que "não recebeu nenhum alerta sobre indícios de contaminação por metanol em bebidas como leite". Segundo a pasta, as investigações indicam que a contaminação ocorreu em destilados, já que a substância pode se passar por outro alcoólico comum.
O boletim do Ministério da Saúde publicado neste domingo, 5, indica que os 225 casos de intoxicação registrados no País, entre confirmados e em investigação, ocorreram após ingestão de bebida alcoólica.
Por nota, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse que "por ora, não temos conhecimento" sobre as alegações de bebidas não alcoólicas contaminadas pela substância.
Em São Paulo, os primeiros registros de intoxicação ocorreram após o consumo de destilados, como gim, vodca e uísque. Como noticiou o Estadão, especialistas alertam que o metanol também pode ser usado para adulterar cerveja e vinho.
A substância é incolor e tem cheiro de álcool comum, porém é altamente tóxico para a saúde das pessoas, podendo levar à cegueira permanente e até à morte.
Vídeo simula voz e imagem de jornalista
O conteúdo viral usa a técnica de deepfake, copiando a imagem e a voz de Renata. A ferramenta de detecção de inteligência artificial Hive Moderation apontou 92,8% de probabilidade do conteúdo ter sido gerado digitalmente. A pontuação agrega uma verificação feita no vídeo e áudio, analisados segundo a segundo.
O Verifica também fez uma busca e não encontrou notícia do Jornal Nacional, do qual Renata é apresentadora, sobre uma contaminação no leite por metanol.
O vídeo com a alegação falsa acumulou mais de 1,6 milhão de visualizações no TikTok, mas foi retirado da plataforma.
Investigação sobre casos ainda está em andamento
Autoridades ainda investigam as circunstâncias que teriam levado às intoxicações pela substância. Como noticiou o Estadão, uma das principais linhas de apuração da Polícia Civil de São Paulo é de que a contaminação em bebidas alcoólicas pode ter acontecido no momento da limpeza de vasilhames usando o metanol.
A investigação também apura contaminação das bebidas no início da cadeia de produção. Entre as possibilidades, estão destilarias "de fundo de quintal" ou desvio da indústria química.
O metanol é usado como matéria-prima para a produção de combustível e ainda pode ser obtido no processo de destilação de bebidas alcoólicas provenientes da fermentação, como explica uma nota do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). De acordo com os especialistas, a substância deve ser descartada na primeira fração desse processo, a fim de evitar contaminação da bebida final.
Nos últimos dias, uma força-tarefa das autoridades em São Paulo tem mirado fábricas clandestinas, além de interditar bares e adegas com suspeita de venda de produtos adulterados. A Polícia Federal também abriu um inquérito para investigar os casos.
Brasil tem 225 registros de intoxicação por metanol
O Ministério da Saúde informou que houve 225 registros de intoxicações por metanol após o consumo de bebidas alcoólicas até o domingo, 5. Ao todo, são 16 casos confirmados e outros 209 que estão sob investigação em 13 Estados do País. Os números são consolidados pelo Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde Nacional (CIEVS).
Foram registrados 15 óbitos, com duas mortes confirmadas no Estado de São Paulo. Também estão sendo investigadas mortes em Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Paraíba e Ceará.
Como lidar com posts do tipo: Em meio aos casos de intoxicação por metanol no País, circulam nas redes sociais peças de desinformação sobre o tema. Nesse caso, um vídeo gerado por IA simula uma notícia que gera pânico entre as pessoas. Antes de acreditar, pesquise pelas informações na imprensa profissional ou em comunicados oficiais a fim de checar se são verdadeiras. O Verifica esclareceu, por exemplo, que água ficou rosa em Itu não por contaminação por metanol, e sim por falha em estação de tratamento.