É enganoso dizer que todas reféns mulheres do Hamas morreram; ao menos 66 foram devolvidas
'VERIFICA' IDENTIFICOU QUE PELO MENOS OITO MULHERES SEQUESTRADAS TERIAM SIDO MORTAS EM GAZA; OUTRAS DUAS TERIAM SIDO VÍTIMAS DE AÇÕES MILITARES ISRAELENSES
O que estão compartilhando: postagem afirma que todos os reféns israelenses devolvidos pelo Hamas recentemente eram homens; não há nenhuma mulher "porque todas já morreram".
O Estadão Verifica checou e concluiu que: é enganoso. A maioria das mulheres e crianças sequestradas pelo Hamas no 7 de outubro de 2023 havia sido devolvida em trocas de reféns e negociações ocorridas ao longo do conflito. A partir da lista publicada pela associação de familiares de reféns israelenses, o Verifica identificou ao menos 66 mulheres e meninas que foram libertadas entre novembro de 2023 e janeiro de 2025.
Pelo menos oito sequestradas teriam sido mortas no cativeiro em Gaza, de acordo com informações publicadas pela imprensa internacional. Há registros de que outras duas teriam sido mortas durante ações militares de Israel.
Saiba mais: Em 7 de outubro de 2023, no ataque terrorista do Hamas ao sul de Israel, cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas, sendo 278 mulheres, de acordo com relatório feito pela organização britânica Action on Armed Violence (ou Ação Contra a Violência Armada, em português). Além disso, 251 pessoas foram sequestradas na ocasião, segundo publicação da Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres em abril de 2024.
A ONU cita que aproximadamente 65 das sequestradas eram mulheres - mas o número está subestimado, já que o Verifica contabilizou pelo menos 66 mulheres libertadas na lista de reféns disponibilizada pela associação de familiares.
A agência Associated Press estimou nesta quarta-feira, 15, que, durante todo o conflito, 160 pessoas vivas foram devolvidas a Israel desde o início da guerra. De acordo com a agência, 15 corpos foram liberados em negociações e outros 51 foram recuperados por forças israelenses nos últimos dois anos.
Mulheres reféns do Hamas
O Verifica não encontrou um número consolidado de reféns assassinadas ou libertadas, mas buscou por notícias na imprensa profissional e na lista de associação de familiares de reféns para compilar as informações.
A partir de uma busca no site da associação de familiares dos reféns israelenses Bring Them Home Now (Traga-os para a casa agora, em português), acessamos a lista de pessoas que foram relatadas como reféns do grupo terrorista. A página é atualizada a partir da notificação de pessoas localizadas e identificadas por Israel.
Usando a ferramenta WayBack Machine, que salva o conteúdo de páginas da internet a partir do pedido de usuários, a reportagem acessou a lista de reféns publicada pela associação de familiares desde 14 de outubro de 2023 - primeira gravação disponível da página (aqui).
O Verifica buscou pelo nome de cada uma das mulheres que estavam desaparecidas na data e, por meio de notícias da imprensa profissional, identificou que ao menos 66 delas foram libertadas pelo Hamas nos últimos dois anos. O primeiro grupo que retornou a Israel foi composto por quatro mulheres, entre 20 e 29 de outubro de 2023.
A BBC noticiou que 81 reféns foram libertados durante a trégua temporária entre Hamas e Israel na última semana de novembro de 2023. Por meio da lista da associação de familiares, o Verifica identificou que, ao menos, 52 eram mulheres e meninas.
Já no ano de 2024, a jovem Noa Argamani foi recuperada com vida, junto a outros três homens reféns, em uma operação militar no centro de Gaza pelas Forças israelenses. Ela estava há 246 dias em cativeiro.
Outras nove mulheres foram libertadas com vida pelo Hamas em uma negociação de cessar-fogo em janeiro de 2025. Três reféns retornaram para Israel em 19 de janeiro; outras quatro militares foram liberadas juntas no dia 25 do mesmo mês. No dia 30, duas mulheres também foram devolvidas pelo Hamas.
O Verifica não encontrou dados confirmados sobre o número de mulheres assassinadas em cativeiro pelo grupo terrorista. A partir da lista da associação de familiares, foi possível identificar os nomes de, ao menos, 8 mulheres que foram mortas e que estavam listadas como reféns:
Louk Shani - Morte anunciada em 30 de outubro de 2023; Israel afirma que ela foi sequestrada e torturada em Gaza pelo Hamas;Noa Marciano - A morte da militar foi confirmada em 15 de novembro de 2023, após ter sido feita de refém;Carmela Dan - Israel afirmou que a idosa de 80 anos foi encontrada morta em 20 de outubro de 2023, após ser refém;Noya Dan - Adolescente de 13 anos identificada por Israel em 20 de outubro de 2023, após sequestro do Hamas;Tchelet Fishbein-Zaarur - O corpo foi encontrado na fronteira com Gaza em outubro de 2023; ela estava desaparecida desde 7 de outubro de 2023; Carmel Gat - O corpo dela foi recuperado pelas Forças israelenses em setembro de 2024; à BBC, o Fórum de familiares afirmou que ela ficou 11 meses em cativeiro;Éden Yerushalmi - O corpo foi recuperado por Israel em setembro de 2024; à BBC, o Fórum de familiares afirmou que ela ficou 11 meses em cativeiro;Shiri Bibas - O corpo foi entregue à família em fevereiro de 2025; família diz que ela morreu no cativeiro em Gaza junto aos dois filhos.
A reportagem ainda encontrou registros de, ao menos, duas mulheres listadas como reféns que foram mortas em ações israelenses. Em janeiro, o Exército de Israel disse que é provável que soldados tenham matado Dikla Arava durante o confronto em outubro de 2023.
Outra israelense, Efrat Katz, provavelmente foi morta, segundo o Exército, durante um ataque a um veículo conduzido pelo Hamas. Ela teria sido capturada pelo grupo terrorista no dia 7 de outubro em Nir Oz, no sul de Israel.
Em novembro de 2024, o Hamas acusou as forças israelenses de terem matado uma terceira refém no norte de Gaza. A informação não foi confirmada por Israel e não houve detalhes sobre a identidade da possível vítima.
Na última atualização da lista de reféns divulgada pela associação de familiares, a única mulher que ainda não havia sido encontrada (aqui) com ou sem vida era Inbar Hayman, de 27 anos. Nesta quinta, 16, o Estadão noticiou que os restos mortais da artista sequestrada foram devolvidos e identificados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF). De acordo com a reportagem, ela foi morta durante os ataques do dia 7 de outubro.
Verificações de fatos sobre conteúdos semelhantes também foram publicados pelo veículo de imprensa português RTP e pelo Aos Fatos.
Cessar-fogo inclui libertação de israelenses e palestinos presos
O cessar-fogo que interrompeu o conflito em Gaza entrou em vigor após uma mediação internacional e uma proposta feita pelos Estados Unidos.
Na última segunda-feira, 13, os últimos 20 homens que eram mantidos em cativeiro, por dois anos, em Gaza foram entregues às autoridades israelenses. O acordo de cessar-fogo ainda prevê a devolução de 28 corpos, sendo que nove foram entregues pelo grupo terrorista até esta quinta-feira. Um deles não corresponde a nenhum dos reféns, segundo o Exército de Israel.
Além da devolução de reféns israelenses, o plano também acordou a libertação de palestinos, incluindo presos políticos e pessoas desaparecidas. Jornais da imprensa internacional noticiaram que todos os palestinos, cerca de 1.968 pessoas, foram libertadas por Israel na segunda.
De acordo com o veículo árabe Al Jazeera e a CNN, o número total de palestinos inclui 250 detentos que cumpriam penas longas e 1.718 pessoas sem nenhuma acusação formal e considerados desaparecidos à força pela Organização das Nações Unidas (ONU). A lista inclui cinco crianças menores de 18 anos e duas mulheres.
Em setembro, a ONU publicou um relatório afirmando que Israel cometeu genocídio contra o povo palestino em Gaza. Citando dados do Ministério da Saúde, controlado pelo Hamas, a organização afirma que, até 8 de outubro, 67.183 palestinos haviam sido mortos, sendo 20.179 crianças e 10.427 mulheres.
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