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Uma eleição pulverizada e sem favorito

6 ago 2018 - 17h18
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Treze candidatos disputam a Presidência, e desfecho é imprevisível. Mas articulações bem-sucedidas de PT e PSDB para isolar adversários ampliam espaço para que segundo turno seja mais uma vez dominado por ambos.Com o fim da fase de convenções partidárias, o leque de candidatos à Presidência finalmente ganhou contornos finais. Ao todo, 13 candidatos foram confirmados na disputa pelo Planalto. É o maior número desde 1989, quando 22 se apresentaram. O fim do período pré-eleitoral aponta por enquanto para uma eleição pulverizada e sem um favorito claro. Há incerteza até mesmo sobre quem vai conseguir passar para o segundo turno.

Lula (PT), que domina o topo nas pesquisas com até 30% das intenções de voto, está preso e virtualmente inelegível. Seu partido já sinalizou que o plano B deve ser a candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad, mas o provável substituto ainda tem desempenho insignificante nas pesquisas.

Jair Bolsonaro (PSL), com até 19% dependendo do cenário, parece por enquanto garantir uma vaga no segundo turno, mas sofre com o isolamento e a falta de estrutura de campanha e o pouco tempo de televisão.

Escassez de recursos e apoios também marcam as campanhas de Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), que ocupam o terceiro e quarto lugar nas pesquisas.

Já Geraldo Alckmin (PSDB) ainda patina nos levantamentos. Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos), por sua vez, ainda estão confinados ao fundo das intenções de voto. E, sem Lula na disputa, os votos em branco ou nulo alcançam 28%, segundo pesquisa Datafolha.

O cenário não poderia ser mais contrastante com as eleições de 2014, quando a dois meses do pleito apenas três candidatos - Dilma Rousseff, Aécio Neves e Marina Silva - dominavam o topo das pesquisas e um deles (Marina) já começava a exibir sinais de declínio, afunilando ainda mais a disputa.

Se por um lado as perceptivas sobre os candidatos desta vez parecem nebulosas, a fase de convenções também mostrou que tucanos e petistas ainda continuam a predominar no jogo da formação de alianças partidárias, apesar do enfraquecimento das duas siglas junto ao eleitorado nos últimos três anos.

Mesmo com tantas candidaturas, a distribuição de recursos e de apoios nos campos da esquerda e da direita continuam concentradas em torno do PT e do PSDB, partidos que dominaram as últimas seis eleições presidenciais.

A jogada de Alckmin

Neste ano, o PSDB está sendo obrigado a disputar o eleitorado de direita e de centro-direita com novos concorrentes, como Jair Bolsonaro, Alvaro Dias e Meirelles. Os dois primeiros já conseguiram atrair parte do eleitorado conservador que votou no PSDB nas últimas eleições em contraponto ao PT.

Na disputa por alianças, no entanto, Alckmin saiu na frente ao conseguir isolar Bolsonaro e Dias ao atrair o apoio das siglas do chamado "centrão", como PSD, PP, PR e DEM.

No final, Bolsonaro só conseguiu o apoio do nanico PRTB, a sigla comandada pelo folclórico Levy Fidelix, que deve agregar a sua candidatura 4 segundos de tempo de TV. A escolha de um general desse partido minúsculo como vice também ficou distante dos planos iniciais de Bolsonaro, que em diversos momentos tentou ampliar seu apelo atraindo um companheiro de um partido maior, ou ainda do segmento evangélico ou do sexo feminino.

Dessa forma, Bolsonaro chegou ao final da fase de convenções como entrou: ainda com um percentual de intenções de votos robusto para a atual fase eleitoral, mas isolado e sem palanques regionais e espaço na televisão. Diante desse quadro, ele deve continuar a insistir em promover sua candidatura pela internet. Já Alvaro Dias só conseguiu apoio do PTC, do PSC e do PRP, siglas com pouca expressão. Meirelles, por sua vez, só agregou o apoio do nanico PHS e segue tentando convencer que sua candidatura é mesmo viável, apesar de mal aparecer nas pesquisas.

Se considerados apenas os apoios, Alckmin saiu com um saldo positivo da fase de convenções. A aliança com o centrão garantiu ao tucano 44% do tempo de propaganda eleitoral reservado para os candidatos à Presidência.

As alianças também garantem que o tucano vai contar com amplo leque de palanques regionais. A escolha da conservadora senadora Ana Amélia (PP-RS) como vice também aponta que Alckmin quer avançar no eleitorado de Bolsonaro e fortalecer sua posição no Sul.

Por outro lado, o tucano continua patinando nas pesquisas. O último levantamento Datafolha aponta que ele tem apenas 7% de apoio. Resta saber se toda a máquina montada por Alckmin será capaz de alavancar a candidatura nos próximos dois meses.

A estratégia do PT

O PT chegou ao fim da fase de convenções com uma coligação raquítica em comparação ao pleito de quatro anos atrás, quando Dilma Rousseff atraiu oito partidos. A incerteza sobre a viabilidade da candidatura de Lula acabou afastando vários partidos do centrão que se aliaram com o PT em 2014. Nesta eleição, a chapa petista só conta com o apoio de uma sigla relevante (PCdoB) e de duas de pouca ou nenhuma expressão (Pros e PCO).

Mas ainda assim o PT, a exemplo do PSDB, conseguiu conter em parte a fragmentação do seu campo ao isolar seus rivais na esquerda.

Na semana passada, os esforços de Ciro Gomes para fechar uma aliança com o PSB foram por água abaixo quando os socialistas fecharam um acordo regional com o PT em Pernambuco e decidiram permanecer neutros na corrida nacional. Antes disso, Ciro já havia visto suas chances de formar alianças relevantes reduzidas quando os partidos do centrão se aliaram com Alckmin.

No final, Ciro só conseguiu apoio do nanico Avante (antigo PTdoB) e teve que escolher uma vice do seu próprio partido. A campanha de Marina também penou para fechar alianças e no final teve que se contentar com um vice do pequeno PV.

Os petistas conseguiram ainda atrair na reta final das convenções o apoio do PCdoB, que ensaiava nesta eleição ter pela primeira vez uma candidatura própria à Presidência com Manuela D'ávila.

Neste final de semana, o PT também sinalizou que Haddad deve ser mesmo o plano B do partido ao indicar o ex-prefeito como vice de Lula, que corre o risco de ser barrado. O prazo final para troca de candidato acaba em 17 de setembro.

Assim como ocorre com Alckmin, a dúvida é se Haddad tem capacidade de crescer. Lula já foi bem-sucedido em transferir votos para Dilma em 2010. Só que na prisão, o ex-presidente deve ver sua influência eleitoral reduzida. Haddad só registrou 1% na última pesquisa Datafolha.

Assim, tanto o PT e PSDB chegam à reta final do período pré-eleitoral vitoriosos em suas estratégias de esvaziar os adversários, mas sem candidatos que indiquem ter chances claras de chegar ao segundo turno. Bolsonaro, Marina e Ciro e Alvaro, por sua vez, entram na nova fase tentando contornar a falta de apoio de outras siglas.

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