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Trânsito

RJ: 'vi meus amigos cheios de sangue', diz vítima de acidente com ônibus

12 jun 2013 - 19h49
(atualizado às 20h02)
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'O Jefferson era um cara bem tranquilo. Era gente boa, gostava de jogar bola, e era flamenguista, como eu, lamentou João Marcos Frazão, 14 anos, uma das vítimas do acidente com o micro-ônibus, sobre a morte de Jefferson Batista da Silva, 15 anos
'O Jefferson era um cara bem tranquilo. Era gente boa, gostava de jogar bola, e era flamenguista, como eu, lamentou João Marcos Frazão, 14 anos, uma das vítimas do acidente com o micro-ônibus, sobre a morte de Jefferson Batista da Silva, 15 anos
Foto: Mauro Pimentel / Terra

Ainda assustados com o grave acidente de ônibus que matou dois adolescentes no município de Silva Jardim, no interior do Rio de Janeiro, na manhã desta quarta-feira, os primos João Marcos Frazão, 14 anos, e Wallace Frazão Xavier, 15, lembravam na tarde desta quarta-feira dos momentos de pânico que tinham vivido mais cedo. Eles contaram que o motorista do ônibus escolar, identificado como Carlos André Alves Guimarães, trafegava em alta velocidade quando teve que desviar de urubus que estavam no meio da rodovia RJ-140, acabou perdendo o controle do veículo e bateu de frente contra um caminhão que vinha na direção contrária, e atingiu, em seguida, de forma mais leve, um Siena.

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“A batida foi feia. Depois, tinha muita gente gritando, vi meus amigos cheios de sangue”, afirmou, já em casa, Wallace, estudante matriculado no colégio Adail Maria Tinoco.

Foi justamente Wallace quem tirou o primo João Marcos de dentro do veículo. Impactado com o acidente, João disse ter ficado em choque, sem conseguir esboçar reação, logo após o acidente. Além disso, o estudante sentia dores na clavícula. Ele está usando uma espécie de tipoia para descansar o braço e tentar minimizar as dores na região.

“Parecia que estava sonhando. Muita gente gritava, vi gente machucada”, observou.

'A batida foi feia. Depois, tinha muita gente gritando, vi meus amigos cheios de sangue', afirmou, já em casa, Wallace Frazão Xavier, 15 anos, estudante matriculado no colégio Adail Maria Tinoco
'A batida foi feia. Depois, tinha muita gente gritando, vi meus amigos cheios de sangue', afirmou, já em casa, Wallace Frazão Xavier, 15 anos, estudante matriculado no colégio Adail Maria Tinoco
Foto: Mauro Pimentel / Terra

João Marcos estava sentado duas cadeiras atrás do motorista. Logo à sua frente, estava Jefferson Batista da Silva, 15 anos, que acabou morrendo no acidente. Ele se recordou do amigo, com quem tinha estudado junto no ano passado.

“O Jefferson era um cara bem tranquilo. Era gente boa, gostava de jogar bola, e era flamenguista, como eu”, lamentou o garoto, que estuda no mesmo colégio do primo.

Ao lado de Wallace, a avó do garoto, Arlete Amaral Xavier, contava do susto que levou pela manhã, quando o ele chegou. Wallace saiu do local do acidente e foi para casa, e só foi medicado no hospital posteriormente. O adolescente tinha sofrido pequenos cortes na mão e na cabeça, e sentia dores no pé esquerdo.

“Ele chegou num desespero grande, dizendo que o colega dele tinha morrido. Estava socando a parede. Agora ele está mais calmo”, recordou Arlete.

Segundo jovens, motorista corria no momento da batida

João Marcos e Wallace relataram que o motorista corria no momento da batida, e que o ônibus estava cheio, com alguns alunos viajando em pé. Segundo eles, circular lotado é praxe para o ônibus escolar de Silva Jardim.

“Sempre está cheio, com gente em pé. E tem ônibus velho também”, salientou Wallace.

A avó dele não escondeu o temor com o fato de que o neto terá que embarcar no ônibus escolar da prefeitura novamente. Segundo ela, algumas mães e responsáveis já comentaram que, em protesto, não permitirão que os alunos peguem a condução.

O acidente deixou morto, além de Jefferson, o estudante Jonathan Quintanilha Venceslao, de 13 anos. Outras 17 crianças e adolescentes ficaram feridas, além de quatro adultos. A maior parte estudava no colégio Adail Maria Tinoco, que está fechado para obras. Eles estavam estudando temporariamente no Ciep Vera Lúcia Silva Jardim. A prefeitura da cidade decretou luto oficial de três dias. As aulas serão retomadas na semana que vem.

Mães protestam

Por conta do acidente, um grupo de aproximadamente 30 mães de alunos que utilizam o transporte de Silva Jardim protestou na tarde desta quarta-feira em frente à prefeitura da cidade. Revoltadas, elas pediam veículos em melhores condições para levar seus filhos. 

As mulheres reclamam principalmente da velocidade que os motoristas trafegam transportando os alunos. Segundo elas, os veículos escolares circulam correndo bastante, colocando a vida das crianças em risco. Elas alegam também que os motoristas contratados não são bem preparados.

“Eles estão sempre correndo. A maior parte deles foi mandada embora de outras empresas, e a prefeitura aproveita. Queremos segurança para nossos filhos”, afirmou a dona de casa Maria Mendonça, mãe de um garoto de 10 anos.

Outra reclamação recorrente é sobre a lotação dos ônibus. Segundo as mães, é comum os alunos viajarem em pé, e três deles dividirem um banco em que só cabem dois. Maria contou que outros dois acidentes com Kombis que transportavam alunos ocorreram na cidade nos últimos meses. Essas batidas tiveram menor gravidade que o acidente de hoje, e não deixaram vítimas fatais.

O acidente

O micro-ônibus escolar tinha saído da localidade conhecida como Boqueirão, e se dirigia à cidade de Silva Jardim. Na altura do Km 5,5 da RJ-140, colidiu de frente com um caminhão. O veículo que transportava as crianças pertencia à prefeitura, e, segundo relatos de testemunhas, bateu no caminhão depois de perder o controle ao desviar de animais que estavam na pista. Um carro de passeio também foi atingido pelo ônibus após a colisão com o caminhão.

As crianças que estavam no ônibus estudavam no Centro Educacional Adail Maria Tinoco, no bairro de Lucilândia. O prédio está em obras, devido a rachaduras, desde o início do ano, e os estudantes estavam temporariamente alocados em uma outra escola, no centro da cidade. O ônibus tinha sido disponibilizado justamente para levar as crianças da localidade original para a instalação temporária.

Fonte: Terra
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