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Trabalho e orações se misturam no QG da Jornada da Juventude

24 mai 2013 - 04h49
(atualizado às 04h56)
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A grande sala repleta de estações de trabalho e computadores não difere em quase nada de outros escritórios localizados na região da Glória, bairro da Zona Sul próximo à região central do Rio de Janeiro. Pontualmente ao meio-dia, no entanto, um grupo de funcionários se dirige a um corredor, onde, sob a orientação de um frade franciscano, reza o Pai Nosso e a Ave Maria.

A rotina se repete todos os dias da semana na sede do Comitê Organizador Local (COL) da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), onde voluntários e funcionários brasileiros e estrangeiros preparam o evento que deve trazer ao Rio cerca de 2,5 milhões de fiéis, além do papa Francisco, entre os dias 23 e 28 de julho.

No total, 150 pessoas - 32 de outros países - atuam na organização do encontro. Cerca de 90% delas trabalham em regime voluntário, distribuídas em setores que vão de Administrativo e Financeiro a áreas dedicadas à comunicação e a inscrições.

Com a intensificação das tarefas por causa da aproximação do evento, foi inaugurado no início de maio um "COL 2" no 17º andar de um prédio no Largo da Carioca, centro do Rio, que passou a abrigar os setores de Voluntários, Atos Culturais e Tradução.

Daqui a exatamente dois meses, na semana da Jornada, no entanto, o número de pessoas trabalhando no evento vai dar um salto gigantesco: 60 mil voluntários vão auxiliar na organização, em funções que vão desde a distribuição de kits à orientação de peregrinos. Destes, 45 mil são do Estado do Rio de Janeiro e 5 mil são estrangeiros.

Orações e rede sociais

No lugar das fotos inspiradoras ou mensagens bem-humoradas tão usuais nos escritórios comuns, as estações de trabalho no Comitê Organizador Local da Jornada são decoradas com imagens da Virgem Maria, santos e do papa.

Mesmo assim, é incomum ver pessoas usando hábitos ou batinas e a maioria dos jovens que trabalha no local poderia facilmente ser encontrada em bancos universitários ou sedes de empresas.

As orações do Angelus, entoadas religiosamente ao meio-dia em um dos corredores do COL, são comandadas pelo brasiliense Lucas Nascimento, de 38 anos. Há 10 anos frade franciscano, Nascimento se dedica, entretanto, a uma atividade bem menos ortodoxa no resto do dia: ele é um dos responsáveis pelas redes sociais da JMJ.

Trabalhando como voluntário desde 2011 e há cerca de nove meses morando no Rio, o frade mostra intimidade com termos correntes em sites de relacionamentos e comemora o aumento no número de seguidores que a página da JMJ possui no Facebook.

"No início do ano, a nossa 'fan page' tinha 300 mil seguidores e hoje tem quase 1 milhão", diz o religioso, que já havia sido voluntário na Jornada Mundial de Madri, em 2011, e agora atua respondendo dúvidas dos peregrinos nas redes sociais.

As perguntas mais frequentes que tem que responder? Como se inscrever para a Jornada e como chegar ao Rio.

Dúvidas

Responder às dúvidas dos peregrinos é também a especialidade de Alexey Victor, de 19 anos, um dos mais jovens voluntários do COL.

Após não ter tido sucesso no vestibular para a faculdade de Recursos Humanos que prestou no ano passado, ele decidiu dedicar o primeiro semestre de 2013 a trabalhar na JMJ. Inicialmente atuando como voluntário em sua paróquia, no bairro da Penha, Zona Norte do Rio, em fevereiro ele se juntou ao COL.

"Caí meio de paraquedas. Vi na internet que estavam querendo voluntários, mandei email e me chamaram para trabalhar", diz Victor.

Ele atua respondendo às dúvidas por email na área conhecida como SAP (Setor de Atendimento ao Peregrino), que inaugurou esta semana também um serviço de tira-dúvidas pelo telefone (21 2122-8050).

Adaptação

Enquanto alguns jovens parecem ansiosos para sua primeira JMJ, outros já estão mais "acostumados" ao evento. É o caso do português Filipe Teixeira, de 28 anos, que participou como peregrino de cinco Jornadas e agora atua pela primeira vez como voluntário.

Ex-diretor de arte de uma revista gastronômica de Portugal, em novembro do ano passado ele desembarcou no Brasil para atuar na área de design do COL. Ele mora na casa de uma das famílias que vêm acolhendo os voluntários que não são do Rio.

"Chego (no COL) por volta das 9h da manhã e não tenho propriamente um horário para sair", brinca Teixeira, que se diverte contando que, em uma ocasião, enquanto trabalhava de madrugada, ficou às escuras depois de a administração do prédio ter apagado as luzes no final do expediente.

Em sua primeira grande temporada fora de Portugal, ele conta que está tendo que se adaptar a alguns "costumes" locais.

"Os brasileiros vão se chatear, mas os atrasos são impressionantes. Eu não sou das pessoas mais pontuais em meu país, mas perto disso sou o mais pontual. Dez, quinze minutos de atraso, tudo bem, mas uma hora, não há justificativa...", brinca.

Moradia

Atrasos, e não só de brasileiros, são um dos desafios que a organização da Jornada terá que enfrentar nos próximos meses. De acordo com o COL, na JMJ de Madri, cerca de 60% dos peregrinos se inscreveram no último mês antes do evento.

"A gente trabalha com um público jovem, ou seja, decidem na última hora", diz a irmã Graça Maria, diretora-executiva do setor de hospedagem.

A tarefa da religiosa é coordenar as equipes de buscas por locais onde peregrinos possam se instalar e dormir nos dias do evento. Segundo ela, até agora, cerca de 150 mil pessoas já solicitaram hospedagem, mesmo assim, 280 mil lugares em casas, escolas e clubes já foram assegurados.

"A gente continua correndo atrás. Embora a gente tenha um número de hospedagens consideravelmente bom em relação ao número de pessoas que se inscreveram solicitando, eu sei também que esse número pode aumentar daqui a um mês, um mês e meio, em se tratando de jovens que deixam para última hora", diz.

As famílias e instituições que desejam oferecer hospedagem aos peregrinos devem se inscrever junto à organização do evento, informando quantas pessoas podem receber. Depois disso, esses locais recebem visitas de avaliação.

Segundo a irmã Graça, o objetivo dessas visitas é esclarecer dúvidas e conferir o espaço para checar se não há potencial para abrigar mais peregrinos.

"Às vezes as pessoas pensam que, para receber, tem que ter cama, e na verdade não precisa, porque os peregrinos já trazem colchonetes e saco de dormir. Então, em uma visita destas, esse número (de peregrinos hospedados) aumenta", diz a irmã, que conta o caso de uma casa que havia se inscrito para receber quatro peregrinos, mas acabou aceitando hospedar 20 jovens.

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