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Política

Senador Kajuru usa assessores para gerir canal no YouTube

"Desde que eu nunca use um centavo da cota parlamentar, não vejo nada de imoral", diz Jorge Kajuru. O senador faturou R$ 48 mil com o canal

15 jul 2020 - 17h47
(atualizado às 18h19)
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O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) em vídeo no seu canal no YouTube
O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) em vídeo no seu canal no YouTube
Foto: Reprodução/YouTube / Estadão Conteúdo

BRASÍLIA - Estreante no Senado, Jorge Kajuru (Cidadania-GO) usa assessores pagos pela Casa para gerir um canal no YouTube que devolve lucros para o parlamentar. Os vídeos na plataforma arrecadaram um total de R$ 48.339,72 desde que Kajuru assumiu o mandato em 2019, conforme informou ao Estadão/Broadcast. A prática, porém, é questionada por especialistas e pelo Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU).

Conforme o Estadão revelou no último domingo, sete deputados federais youtubers transformaram a divulgação da atividade parlamentar no Congresso em um negócio privado.

Kajuru e os demais senadores não usam recursos da cota parlamentar - paga pelo Senado para despesas do gabinete - na gestão dos canais no YouTube. O senador do Cidadania, porém, admitiu que assessores do gabinete, também pagos pela Casa, cuidam da plataforma e produzem vídeos para as redes sociais, inclusive a plataforma de vídeos. O senador tem 273 mil seguidores inscritos em seu canal no site.

"Para mim, desde que eu nunca use um centavo da cota parlamentar, não vejo nada de imoral na manutenção da parceria que tenho há mais de 10 anos com o YouTube, a plataforma que me remunera de acordo com a visualizações dos meus vídeos. Fiz antes de ser eleito senador e seguirei fazendo assim que encerrar meu mandato, em 2026, pois não continuarei na política, mas continuarei ativo nas redes sociais", escreveu o senador em resposta aos questionamentos da reportagem.

A monetização dos canais, com o pagamento de recursos de acordo com as visualizações dos vídeos em troca da veiculação de anúncios do YouTube, só é feita para quem se inscreveu no programa de parceiros do site, conforme as regras da plataforma. Ou seja, se não houve a solicitação, não há inserção de anúncios nem a arrecadação de recursos.

Kajuru declarou à reportagem que o dinheiro arrecadado no YouTube é usado para pagar funcionários, doações a instituições e também na compra de equipamentos desde que a monetização começou no canal, em 2017. "Primeiro, eu não pago empresa. Segundo, o trabalho de divulgação das redes sociais é uma das várias tarefas exercidas por minha assessoria. Não tenho assessor exclusivo para redes sociais."

Após o Estadão revelar a prática, que vem sendo chamada de "toma lá, dá cá", o subprocurador-geral do Ministério Público junto ao TCU Lucas Rocha Furtado ingressou com uma representação para investigar a prática. De acordo com ele, no caso dos deputados federais, "a finalidade concreta de parte dos recursos públicos da verba de gabinete está sendo utilizada para interesse pessoal dos parlamentares, especialmente, provendo renda extra em seus patrimônios pessoais indo de encontro ao interesse público que deve ser o fim primordial a ser atingido com todas despesas públicas a ensejar, possível, conflito de interesse".

Outros senadores

Filho do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) também monetiza no YouTube, tendo lucro com as publicações. A gestão do canal é feita desde 2018 pela empresa MK, cujo dono é o senador Arolde de Oliveira (PSD-RJ), aliado do Palácio do Planalto. Flávio Bolsonaro não respondeu se usa verba pública para contratar a empresas. Nas notas fiscais apresentadas por ele ao Senado não há pedido de reembolso para essa empresa pela cota parlamentar.

A MK, por sua vez, afirmou que é responsável pela gestão tecnológica de canais no YoutTube e que não produz nenhum tipo de conteúdo para publicação. A empresa não comentou sobre a página de Flávio Bolsonaro. Em vídeo publicado nas redes sociais em 2018, é possível ver Flávio e Arolde assinando o contrato de gestão e destacando que a comunicação no futuro será "horizontal", ou seja, feita diretamente entre políticos e a população.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Fake News, em funcionamento no Congresso, identificou 2 milhões de anúncios publicitários do governo federal em canais que apresentam "conteúdo inadequado". Um deles foi o canal do senador Flávio Bolsonaro, que teria veiculado os anúncios e ao mesmo tempo lucrado com a monetização na plataforma.

O senador Arolde de Oliveira negou que use a estrutura do Senado ou cota parlamentar para produzir o conteúdo que posta no YouTube. "A conta é operada somente por mim de forma orgânica", afirmou. O senador afirmou que pediu monetização para seu canal a partir de 18 de setembro de 2019, quando já estava no mandato, tendo recebido US$ 78,93 desde que iniciou a operação.

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) também remunera seus vídeos. Segundo ele, 14 foram publicados em seu canal a partir de 2019, quando assumiu o mandato no Senado, o que lhe rendeu uma receita privada de US$ 12,68. O parlamentar alegou que ele próprio administra sua conta no YouTube e nunca utilizou recursos da cota parlamentar ou dinheiro público para pagar serviços relacionados ao canal. Também com registros de monetização no YouTube, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) não respondeu à reportagem.

Estadão
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