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Política

Dodge diz que Pezão sucedeu Cabral em esquema criminoso

Em entrevista após prisão do governador do Rio, procuradora-geral da República afirmou que "infratores continuam praticando crimes"

29 nov 2018 - 10h55
(atualizado às 11h13)
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A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou, após a prisão do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), que ele sucedeu o ex-governador Sérgio Cabral no comando da organização criminosa envolvida em esquema de corrupção e lavagem de dinheiro dentro do governo estadual. Em uma rara entrevista à imprensa, ela enfatizou, nesta quinta-feira, 29, a necessidade de desmantelar organizações criminosas em todo o País e recuperar danos causados aos cofres públicos.

"Os fatos se iniciam em 2007 em sucessão de atos e participação de pessoas que incluem aquelas que são destinatárias da ordem de prisão de hoje. Há um indicativo de que houve sucessão de pessoas partícipes da organização criminosa mesmo depois das prisões já feitas. Infratores continuam praticando crimes, por isso, chegou-se à necessidade de requerer prisão preventiva para garantia da ordem pública", disse a procuradora-geral, na manhã desta quinta, na primeira entrevista coletiva que concedeu para falar de um caso específico de corrupção.

O governador do Estado do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), é escoltado pela Polícia Federal (PF) após ser preso preventivamente na manhã desta quinta- feira, 29
O governador do Estado do Rio, Luiz Fernando Pezão (MDB), é escoltado pela Polícia Federal (PF) após ser preso preventivamente na manhã desta quinta- feira, 29
Foto: MARCELO FONSECA / Estadão

A investigação da PGR descreve Pezão não só como sucessor de Cabral após a prisão do ex-governador, mas como alguém que tinha seu próprio esquema criminoso. Ele teria recebido R$ 25 milhões em valores históricos, segundo o procurador Leonardo de Freitas, do MPF do Rio. Os valores são oriundos, em parte, de uma mesada paga pelo operador de propinas de Sérgio Cabral e agora colaborador premiado, Carlos Miranda, e, em outra parte, de desvios de recursos públicos ligados ao setor de transporte.

'Dança das cadeiras'

Também presente à coletiva, Freitas afirmou que houve "uma dança das cadeiras espúria com uma sucessão de pessoas após a prisão do primeiro time", de Sérgio Cabral. "O senhor Carlos Wilson (ex-secretário de gestão de Cabral) foi sucedido pelo Affonso Monnerat (secretário de Governo de Pezão). Hudson Braga, ex-secretário de obras de Cabral, foi sucedido por José Hiran, preso na data de hoje", disse o procurador.

"Há certa de dois anos, quando da prisão do senhor Sérgio Cabral, na Operação Calicute, nos fizeram uma pergunta que foi: e o Pezão? Nós não esquecemos a pergunta de vocês e estamos aqui hoje para responder a pergunta", disse o procurador.

A procuradora geral, Raquel Dodge em sessão no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF)
A procuradora geral, Raquel Dodge em sessão no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF)
Foto: Fátima Meira / Futura Press

Raquel Dodge explicou que a operação desta quinta tem como objetivo também coletar provas da lavagem de dinheiro. Ela não deu detalhes sobre uma das abordagens da investigação, que é sobre o envio de dinheiro para o exterior, mas falou que a operação ajudará a trazer mais detalhes.

Sobre provas já encontradas, o procurador Freitas afirmou que há várias e elas não se resumem a acordos de colaboração. "Posso destacar os bilhetes apreendidos ainda no bojo da Operação Calicute que faziam menção de alguma forma a 'Pé', 'Pezão' ou 'P', com anotações de valores do lado. Esses bilhetes são provas documentais apreendidas há cerca de dois anos e, com as colaborações e depoimentos, vieram a ser corroborados e autenticados", disse o procurador.

O fato de se estar a um mês do fim do mandato foi dito como irrelevante para a deflagração da operação. "Os pedidos foram apresentados no primeiro momento possível. A coisa do mandato foi faltando um mês, poderia ser a menos, poderia ser a mais. Mas será um mês a menos em que essas pessoas poderão usar a máquina pública para operar", disse.

Autora dos pedidos de prisão e buscas e apreensões ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), Raquel Dodge destacou que é uma missão da PGR e uma diretriz combater organizações criminosas e buscar o ressarcimento do dano causado aos cofres públicos, daí o sequestro de R$ 39 milhões (valores atualizados) autorizado pelo ministro do STJ Felix Fischer.

"Tenho enfatizado a importância de recomposição do dano. O sequestro de bens é necessário para que haja em tempo oportuno ressarcimento de danos", disse Raquel Dodge.

"As organizações criminosas precisam ser desfeitas e desbaratadas no País", continuou. "A entrevista é uma oportunidade de comunicarmos à sociedade brasileira a gravidade dos crimes que estão sendo praticados contra o patrimônio público. A corrupção desvia os recursos do patrimônio público e coletivo e, por isso, esse crime deve ser combatido com ênfase necessária para fazer cessar atos de corrupção", disse.

'Medidas do Poder Judiciário são suficientes em si'

Dodge explicou que, diferentemente de parlamentares, o cargo de governador não exige uma ordem de prisão seja confirmada pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. "As medidas foram determinadas pelo Poder Judiciário e são suficientes em si", explicou.

Além de Pezão e dos secretários estaduais Affonso Monnerat e José Hiran, foram presos Luiz Carlos Vidal Barroso - servidor da secretaria da Casa Civil e Desenvolvimento Econômico; Marcelo Santos Amorim - sobrinho do governador; Cláudio Fernandes Vidal - sócio da J.R.O Pavimentação; Luiz Alberto Gomes Gonçalves - sócio da J.R.O Pavimentação; Luis Fernando Craveiro De Amorim - sócio da High Control Luis; e César Augusto Craveiro De Amorim - sócio da High Control Luis.

A operação foi batizada de Boca de Lobo - nome, como são chamados os dutos em vias públicas que receberem o escoamento das águas da chuva drenadas pelas sarjetas com destino às galerias pluviais. O nome da operação faz alusão aos desvios de recursos, revelados nas diversas fases da Operação Lava Jato, que causam a sensação na sociedade de que o dinheiro público vem escorrendo para o esgoto.

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