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Política

Protestos se espalham pelo país; Rio reúne 100 mil no Centro

17 jun 2013 - 23h25
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As manifestações que começaram na semana passada em São Paulo contra o reajuste das tarifas do transporte público ganharam novas reivindicações, principalmente em relação aos gastos com as obras para a Copa do Mundo, e se espalharam nesta segunda-feira a pelo menos 20 cidades.

A maior manifestação aconteceu no Rio de Janeiro, onde 100 mil pessoas marcharam pela Avenida Rio Branco, no Centro, mas outras milhares fizeram o mesmo em diferentes ruas de São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Belém, Vitoria e Curitiba, entre outras grandes capitais.

No Rio, a manifestação transcorreu de forma pacífica até por volta das 20h, mas acabou protagonizada por depredações e confrontos entre um grupo de participantes e a polícia.

Os distúrbios começaram em frente à Assembleia Legislativa, na Rua Primeiro de Março. Policiais militares tentaram dispersar manifestantes que teriam tentado invadi-la e estes reagiram com fogos de artifício e jogando pedras.

Acuados no local e em menor número, os policiais então usaram balas de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta. Houve tumulto e correria na região da Assembleia, e alguns manifestantes quebraram vidraças de lojas e agências bancárias, enquanto outros picharam as pilastras do Palácio Tiradentes, sede do Legislativo estadual.

Na lateral do prédio, um carro foi incendiado. O Largo do Paço Imperial, que fica próximo, também foi palco de enfrentamentos.

Os lemas e palavras de ordem do protesto eram "Vem para a rua" e "O Brasil acordou". Os gritos dos manifestantes mostravam insatisfação com o prefeito da cidade, Eduardo Paes, o governador Sérgio Cabral, e com a Copa do Mundo no Brasil.

A presidente Dilma Rousseff, Cabral, Paes, o deputado federal Marcos Feliciano, o mensalão, os altos gastos públicos com megaeventos esportivos no Brasil e a ação violenta da polícia também foram alvo de críticas.

Quando levantadas em meio aos participantes presentes na Rio Branco, bandeiras de partidos políticos foram vaiadas, e logo surgiu um coro de que "a única bandeira é do Brasil".

Muitas pessoas levaram flores contra a violência e narizes de palhaço contra a hipocrisia. Houve quem fosse fantasiado, como o caso de um rapaz vestido de "bolha imobiliária".

Uma das cerca de 100 mil pessoas presentes ao ato - segundo a Polícia Militar e especialistas da Coppe/UFRJ -, a estudante Mariana Godois, de 19 anos, disse acreditar que o movimento transcende a insatisfação pelo aumento do preço do transporte público.

"Lutamos contra esse absurdo de dinheiro que foi gasto em estádios para se exibir para quem está lá fora, sendo que o que o país precisa é saúde e educação. Os 'vinte centavos' (do aumento da passagem de ônibus) foram a gota d'água pra gente lutar pelo que acredita", disse a jovem à Agência Efe.

De terno escuro bem alinhado e gravata vermelha, o advogado João Tancredo, de 56 anos, aguardava imóvel enquanto um jovem pintava seu rosto com tinta verde.

Ele negou a ideia de que este é um protesto de jovens e estudantes: "não é uma questão de idade, é uma questão de cidadania. A polícia não precisa repreender, as pessoas sabem se organizar", declarou à Efe, acrescentando que "a repressão violenta que uniu o Brasil dessa forma".

Em Brasília, os manifestantes atravessaram os cordões de isolamento montados pela polícia para que os protestos não se aproximassem do Congresso e ocuparam o telhado do histórico edifício projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

Os participantes dos protestos aproveitaram a ordem do governo de Brasília para que os policiais não reprimissem os manifestantes e se espalharam por todo o telhado do Congresso, para onde levaram grandes cartazes com suas reivindicações.

Os participantes da ação permaneceram cerca de meia hora nessa área e depois desceram de forma pacífica após um diálogo com as autoridades.

Os manifestantes inicialmente tentaram aproximar-se das portas da sede do Legislativo, mas foram contidos pela polícia e entraram no espelho d'água para não serem alcançados pelos agentes.

Já em São Paulo, no fim da tarde, cerca de 30 mil pessoas, de acordo com estimativa da Polícia Militar, participavam do quinto grande ato na cidade.

Divididos em três frentes em um certo momento, os manifestantes chegaram a fechar trechos de importantes vias, como a Marginal Pinheiros e avenida Faria Lima, mas nenhum incidente grave foi registrado até então.

Alvo da crítica de alguns manifestantes, Dilma qualificou como "legítimas" as manifestações que reuniram milhares de pessoas em diferentes cidades do país.

"A presidente Dilma Rousseff considera que as manifestações pacíficas são legítimas e próprias da democracia", afirmou a ministra da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Helena Chagas.

Por sua parte, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em seu perfil no Facebook, que "ninguém em sã consciência pode ser contra manifestações da sociedade civil porque a democracia não é um pacto de silêncio".

"Não existe problema que não tenha solução. A única certeza é que o movimento social e as reivindicações não são coisa de polícia, mas sim de mesa de negociação", acrescentou Lula.

EFE   
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