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Política

Pai de ministro é indenizado por perseguição na ditadura

22 mai 2012 - 16h02
(atualizado às 16h25)
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Diogo Alcântara
Direto de Brasília

A Comissão de Anistia decidiu por unanimidade, nesta terça-feira, indenizar e oferecer um pedido formal de desculpas do Estado brasileiro a Anivaldo Padilha, pai do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Anivaldo é evangélico e foi delatado por membros da igreja que frequentava. Ele foi preso e torturado e, em seguida, exilou-se.

A Comissão da Verdade foi criada pela Presidência para esclarecer violações de direitos humanos durante a ditadura militar. Os sete integrantes foram convidados pessoalmente pela presidente Dilma Rousseff. Com a ajuda de 14 auxiliares, eles terão a missão de ouvir depoimentos em todo o País, requisitar e analisar documentos que ajudem a esclarecer os fatos da repressão militar. O prazo para o trabalho de investigação é de dois anos. Conheça cada um dos membros da comissão:
A Comissão da Verdade foi criada pela Presidência para esclarecer violações de direitos humanos durante a ditadura militar. Os sete integrantes foram convidados pessoalmente pela presidente Dilma Rousseff. Com a ajuda de 14 auxiliares, eles terão a missão de ouvir depoimentos em todo o País, requisitar e analisar documentos que ajudem a esclarecer os fatos da repressão militar. O prazo para o trabalho de investigação é de dois anos. Conheça cada um dos membros da comissão:
Foto: Terra

Segundo proposta da relatora Carolina de Campos Melo, a indenização será o pagamento de R$ 2.484, referente ao salário de um redator de jornal, cargo que Padilha ocupava quando foi preso em 1970. Além disso, ele receberá o pagamento de quase R$ 230 mil retroativo a 2005, quando entrou com o requerimento. Anivaldo Padilha é membro da igreja Metodista e era contratado pela instituição na publicação de uma revista.

Enquanto esteve preso, durante alguns meses em 1970, Padilha foi torturado. Entre o período em que foi solto e o início do exílio, em 1971, ele viveu em um período de clandestinidade com sua esposa. Foi quando ela ficou grávida de Alexandre Padilha, hoje ministro da Saúde.

"Foi uma dor o fato de ter sido privado de ter convivido com meu filho, Alexandre Padilha, durante a infância, importante período", disse Anivaldo em discurso emocionado durante a sessão de julgamento. Ele retornou ao Brasil apenas em 1979, quando Alexandre Padilha tinha oito anos.

"Minha saída do Brasil foi talvez muito mais dolorosa do que as torturas que eu sofri. No período da clandestinidade, minha companheira ficou grávida. Chegou um momento em que o cerco foi se fechando, havia uma possibilidade em que eu não só seria preso, mas talvez morto", relatou, em outro momento.

Anivaldo Padilha entrega nomes de torturadores à Comissão da Verdade

Anivaldo Padilha decidiu enviar os nomes de torturadores dos extintos Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e da Operação Bandeirantes (Oban) à Comissão da Verdade. Ele defende a reinterpretação da Lei de Anistia e deseja que seus algozes sejam submetidos a julgamento.

"Nós temos no Brasil uma tradição de impunidade (...). Se os crimes cometidos pelo Estado Novo tivessem sido investigados e os torturadores e assassinos, punidos, talvez o golpe de 64 não tivesse ocorrido", acredita Anivaldo.

Recém-instalada pela presidente Dilma Rousseff, a Comissão da Verdade terá dois anos para investigar crimes contra direitos humanos cometidos entre 1946 e 1988.

"Não é uma questão de punir pensando no passado, mas é punir pensando no futuro, porque os torturadores continuam nas prisões e delegacias de todo o País, pois sabem que podem ficar impunes", argumentou.

Padilha não se lembra do nome de todos os torturadores. Ele citou alguns pela forma como eram conhecidos: Capitão Albernaz (que teria falecido), Capitão Coutinho, Capitão Guimarães, Capitão Homero e delegado Baeta. "Isso é algo que, mesmo passados 40 anos, tenho certeza de que os reconheceria", garante.

Fonte: Terra
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