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Política

Nome do Judiciário seria mais bem aceito pela população em eleições diretas ou indiretas, diz analista

18 mai 2017 - 16h34
(atualizado às 17h35)
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Caso as denúncias envolvendo o presidente Michel Temer, divulgadas na quarta-feira pelo jornal O Globo, afetem a permanência dele no cargo, um nome do Judiciário seria o mais bem aceito pela população para assumir a Presidência - seja no caso de eleições diretas ou indiretas.

A análise é de Danilo Cersosimo, diretor à frente da Ipsos Public Affairs, consultoria que realiza pesquisas na área política e responsável pelo Barômetro Político, que avalia a popularidade de figuras públicas.

"Pensando na opinião pública, um nome vindo do Judiciário seria muito bem aceito em ambos os casos, especialmente nesse mais provável cenário de eleição indireta. De todos os nomes que a gente avalia, o índice de rejeição é muito mais baixo entre membros do Judiciário do que da classe política."

Michel Temer nega as acusações e afirmou que defende as investigações de denúncias divulgadas pela imprensa.

"Nunca comprei o silêncio de ninguém", disse ele em pronunciamento feito na tarde desta quinta-feira, referindo-se às acusações de que teria dado aval ao pagamento, pela JBS, de propina ao deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba.

"Não renunciarei", declarou, exaltado, o presidente.

No levantamento mais recente da Ipsos, de abril, nomes como Sergio Moro e Joaquim Barbosa aparecem com os maiores índices de aprovação - 63% e 51% , muito à frente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o terceiro com a maior aprovação e o mais bem avaliado entre os políticos.

Ainda nesse espectro, a atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, também tem avaliação positiva de 26%, à frente de políticos como Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Marina Silva (todos com 23%).

"Só o fato de a personalidade carregar a grife do Judiciário a faz sair na frente nesse cenário de crise."

Eleições indiretas

Rodrigo Maia assumiria interinamente em caso de saída de Temer
Rodrigo Maia assumiria interinamente em caso de saída de Temer
Foto: Agência Brasil / BBC News Brasil

Ainda de acordo com Cersosimo, uma eleição indireta - que seria o caminho constitucional caso o presidente renuncie ou tenha seu mandato cassado - não acalmaria os ânimos da população.

"Só o fato de uma eleição indireta manteria a inconformidade e de falta de confiança do brasileiro em relação ao rumo do país. O Congresso não goza de nenhum prestígio junto a sociedade e a maioria dos principais líderes e figuras mais proeminentes, é mal avaliada ou desconhecida. Essa opção não seria bem aceita."

Segundo o analista, a Ipsos vem testando algumas perguntas sobre a eventual saída de Temer desde o ano passado, após o impeachment.

O instituto estava incluindo esses questionamentos à população por causa do processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral, que pede a cassação da chapa Dilma-Temer por eventuais irregularidades na campanha presidencial de 2014.

"Nós notamos que, desde o impeachment, neste último ano, o que o brasileiro mais queria eram novas eleições. Não era Temer a opção preferida, nem somente a saída da Dilma, mas uma nova eleição, o novo."

No caso de uma eventual eleição indireta, o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assumiria interinamente até que o pleito fosse realizado.

Mas as pesquisas recentes apontam que ele também não atende aos anseios da população por renovação.

"Rodrigo Maia é desconhecido por metade da população e rejeitado pela outra metade, não tem nenhuma imagem positiva. Além disso, ele já carrega o nome denunciado na Lava Jato", diz o diretor da Ipsos.

"É difícil pensar em um nome no Congresso que consiga conduzir o Brasil no caso de uma eleição indireta."

Gestão Temer

O analista afirma ainda que esse cenário demonstra que o governo Temer nunca gozou de verdadeira popularidade, ou apoio da opinião pública.

"Em nenhum momento a gestão Temer gerou expectativas positivas ou foi bem avaliada. Na verdade ela só piorou nesse último ano. Em todos os momentos, os entrevistados demonstravam a preferência por novas eleições. Porque no fundo o que o brasileiro quer é 'algo diferente de tudo o que está aí'", diz.

"Por isso, entendo que uma eleição indireta geraria insatisfação generalizada porque, na percepção da opinião pública, não há nada novo no Congresso."

Além da insatisfação com relação aos rumos da política atual, as pesquisas recentes também mostram a impopularidade do presidente Michel Temer - com índices de reprovação superiores ao de Dilma Rousseff antes do impeachment.

"O único personagem político que tem a popularidade pior que o Temer é Eduardo Cunha - eles têm índices de rejeição muito altos."

Diretas

O coordenador da Ipsos Public Affairs destaca ainda o que mostram as pesquisas recentes caso as eleições sejam diretas - em curto ou longo prazo.

Para ele, a polarização deve continuar, com alguns nomes novos na política se destacando no pleito.

"Pensar em cenário de eleição direta é muito complicado porque não sabemos quem vai poder concorrer, já que a Lava Jato pode ter novas implicações. Mas duas coisas vão importar: um certo discurso personalista que vai pesar muito, do tipo (João) Dória e (Jair) Bolsonaro, que trabalham em cima de uma agenda, ocupam um território e vão trabalhar nisso."

Além disso, Cersosimo afirma que tentar trazer nomes distantes da política tradicional para coalizões pode ser um fator decisivo.

"Quem conseguir formar uma coalizão com nomes do Judiciário ou do empresariado tende a ganhar muitos pontos porque minimiza o traço político. E nesse sentido me refiro à Marina Silva, que poderia articular esse tipo de coalizão."

A ex-ministra aparece com 23% de aprovação na última edição do Barômetro Político, de abril.

Segundo ele, Lula apareceria como forte candidato, assim como FHC seria o nome mais forte do PSDB.

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