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Política

Jornadas de junho deram início a período de contestação política

7 out 2018 - 09h07
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Em junho de 2013, Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) - hoje rivais na disputa presidencial - negociavam o congelamento da tarifa de ônibus e metrô em São Paulo. Jair Bolsonaro (PSL) ainda era um deputado do baixo clero da Câmara, conhecido apenas pelas declarações polêmicas.

Na época, analistas diziam que as chamadas "jornadas de junho" marcavam uma nova era na relação da população com os políticos. Em São Paulo e outras capitais do País, os gritos de "sem partido" tomaram os atos. Nos dias que se seguiram, a pauta das manifestações cresceu e passou a incluir a demanda por melhores serviços públicos, como saúde e educação.

Analistas veem nas reivindicações um sintoma de que a parcela da população que ascendeu socialmente nos governos do PT deixaria de ter seus anseios atendidos. "Naquelas manifestações, ficou claro que uma parte importante da sociedade - jovens, a classe média urbana e a nova classe média - ficou prostrada pela perda de algumas vantagens", afirmou o cientista político Marco Aurélio Nogueira, da Unesp. "Tudo isso formou uma espécie de bolo cuja liga foi dada pela ideia de contestação dos políticos."

Agora, a grande questão que será colocada a partir de janeiro, seja quem for o vencedor da eleição, é a reconstrução da política. "É o fim de uma época: PSDB deverá sumir e o PT não vai sair bem", disse Nogueira. "Os partidos mais fortes foram os que perderam mais e a derrota deles foi um pouco diferente."

O cientista político Rodrigo Prando, do Mackenzie, concorda. "O PT foi o grande prejudicado (desde 2013). Mas claro que sobrou para os outros partidos. O PSDB não encontra facilidade que acreditava que teria."

No ano seguinte, a então presidente Dilma Rousseff ainda se reelegeria numa disputa apertada com o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Apesar de a petista ter prometido, durante a campanha, manter conquistas como o desemprego baixo e o aumento da renda, 2015 foi um ano de ajustes econômicos e recessão. Ao mesmo tempo, a Operação Lava Jato ganhou força nos anos seguintes, prendendo políticos e empresários.

Mobilização

Grupos à direita criados em meio as manifestações de 2013, como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL) passaram a liderar protestos anticorrupção em todo País pedindo a saída da presidente. Ali, as primeiras faixas com pedidos por intervenção militar começaram a aparecer.

"Essa onda de ordem e autoridade tem a ver mais com a Lava Jato, que desnudou a corrupção de uma maneira tão ostensiva que acabou por sensibilizar muita gente", disse Nogueira. "Isso criou um sentimento de 'quero mais', de levar essa onda até o limite, defendendo mais rigor e mais autoridade."

Em 2016, Dilma foi afastada do cargo após um processo de impeachment. Temer, com o partido envolvido em várias denúncias na Lava Jato, assumiu com a promessa de reformas para amenizar a profunda crise econômica. O novo presidente conseguiu aprovar a reforma trabalhista e a regra do teto de gastos, mas também sofreu com suspeitas de corrupção.

Para analistas, é nesse cenário que Bolsonaro encontra o espaço para se estabelecer e chegar à disputa de hoje como favorito. Por um lado, com a direita mobilizada nas redes e nas ruas, a esquerda passou à defensiva. Por outro, os partidos tradicionais perdem o monopólio do antipetismo para um discurso ainda mais polarizador.

"Esses personagens surgem dentro de uma dinâmica de redes sociais e começam a ganhar terreno com o discurso do antipetismo, antilulismo e antiesquerda", disse Prando. "E aí ele começa a capitalizar em cima deste movimento contra o politicamente correto. Esse terreno importantíssimo que ele ganhou está evidente agora." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Estadão
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