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Política

Em São Paulo, candidatos miram voto feminino, um desafio especial para Pablo Marçal

Concorrentes à vaga de prefeito da maior cidade do País intensificam estratégias para atrair mulheres, maioria do eleitorado e mais indecisas que os homens nas pesquisas espontâneas

12 set 2024 - 09h40
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O voto feminino tornou-se estratégico na eleição municipal de São Paulo, sendo prioridade para alguns candidatos e motivo de preocupação para outros. Compondo 54% do eleitorado paulistano, as mulheres também são mais indecisas que os homens nas pesquisas espontâneas, em que o eleitor revela sua intenção de voto sem o auxílio de uma lista de candidatos — um dado que reforça o peso desse segmento para definir os rumos da disputa na capital paulista.

Para se ter ideia, na última pesquisa Datafolha, 47% das mulheres disseram não saber em quem votar para prefeito de São Paulo na pesquisa espontânea. Esse índice é significativamente menor entre os homens, com apenas 28% deles se declarando indecisos.

Candidatos que disputam a Prefeitura de São Paulo participarão de série de entrevistas na Rádio Eldorado. Na montagem: Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB), Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL)
Candidatos que disputam a Prefeitura de São Paulo participarão de série de entrevistas na Rádio Eldorado. Na montagem: Pablo Marçal (PRTB), Tabata Amaral (PSB), Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL)
Foto: Daniel Teixeira/Estadão / Estadão

Já na pesquisa estimulada, em que os entrevistados têm acesso à lista de candidatos, o voto feminino se divide entre o deputado federal Guilherme Boulos (23%), do PSOL, e o atual prefeito da cidade, Ricardo Nunes (22%), do MDB. O ex-coach Pablo Marçal (PRTB) aparece com 16%, seguido pela deputada federal Tabata Amaral (PSB), com 11%.

Tecnicamente empatado com Marçal e Nunes, Boulos aposta no crescimento de sua candidatura entre as mulheres para se descolar dos adversários nas pesquisas. A estratégia segue os passos de seu principal cabo eleitoral, o presidente Lula (PT), que, em 2022, se beneficiou da alta rejeição de Jair Bolsonaro (PL) entre as mulheres para se consolidar como favorito neste segmento do eleitorado.

Para conquistar essa parcela de eleitores, o candidato do PSOL incluiu sua mãe e avó nas inserções do horário eleitoral, com uma delas falando sobre a relação dele com as filhas. Ele também priorizou depoimentos de mulheres sobre sua atuação no movimento sem-teto e destacou a presença de Marta Suplicy (PT) em sua chapa. O deputado federal apresentou propostas específicas para atrair esse eleitorado, incluindo a criação de Centros de Cuidados para as Mulheres e a ampliação da Patrulha Maria da Penha, e se comprometeu a ter um secretariado paritário.

Nas redes sociais, Boulos jogou luz sobre polêmicas de seus adversários que podem causar desgaste com o eleitorado feminino. Entre elas, vídeos de Marçal afirmando que "mulher tem que servir" e "a maioria das famílias não está prestando porque não tem um homem para servir lá dentro", além de trechos de Nunes respondendo a perguntas de jornalistas sobre o boletim de ocorrência registrado por sua esposa por violência doméstica e ameaça. Ele sempre negou as agressões. O psolista tenta vincular tanto Marçal quanto Nunes a Bolsonaro, conhecido por suas declarações controversas sobre as mulheres.

Nunes também produziu materiais específicos voltados para o público feminino. Nesta segunda-feira, 9, ele compartilhou em seu Instagram um vídeo com depoimentos de mulheres afirmando que ele valoriza a liderança feminina e que, em sua gestão, mais de metade dos cargos de liderança são ocupados por mulheres.

Na descrição do vídeo, Nunes diz que "para cuidar bem de São Paulo, é preciso ouvir as mulheres que fazem nossa cidade acontecer todos os dias". Outra peça publicada na rede social do prefeito ressalta que "Nunes respeita as mulheres negras". Em seus discursos, o prefeito tem citado o investimento da gestão em programas de combate à violência contra a mulher.

De olho em conquistar o eleitorado feminino, Nunes tem destacado que a fila da creche em São Paulo foi zerada durante sua gestão com o ex-prefeito Bruno Covas. Mais recentemente, passou a divulgar a proposta de criar, caso reeleito, o programa "Mamãe Tarifa Zero", para dar transporte gratuito nos ônibus da capital às mães inscritas no CadÚnico que precisam levar e buscar seus filhos nas creches municipais.

Tabata Amaral (PSB), mulher numericamente mais bem colocada nas pesquisas em São Paulo, também tem apostado no público feminino. Como mostrou o Estadão, a deputada é a candidata que, proporcionalmente, mais investiu em impulsionamento de conteúdo direcionado especificamente ao eleitorado feminino. De acordo com dados da Meta, 36% do valor gasto pela socialista em impulsionamento foi destinado a mulheres usuárias de redes sociais em São Paulo. Ao todo, a candidata direcionou 21 publicações para o eleitorado feminino. Marina Helena (Novo), outra mulher na disputa, direcionou 22 anúncios ao público feminino, representando 5,4% de seus gastos. Assim como Tabata Amaral, a candidata do Novo tem investido em vídeos que destacam sua trajetória como mulher que construiu sua carreira na iniciativa privada.

Tabata costuma lembrar que tem a única chapa composta por duas mulheres na eleição — a professora Lúcia França (PSB) foi escolhida como sua vice após as negociações com José Luiz Datena (PSDB) não decolarem. Nesta quarta-feira, 10, ela publicou um vídeo em seu Instagram direcionado às mulheres, pedindo que elas coloquem "algum juízo" na cabeça do "marido, irmão e pai". Sem citar Marçal, que lidera entre os homens nas pesquisas, citou as "baixarias" dos debates e afirmou que "homens com esse perfil não estão preocupados com o que é prioridade: saúde, educação, assistência social", que são assuntos que "não viram corte" e são "chatos, práticos e sérios". Tabata ganhou de Marçal o apelido de "Chatabata".

A candidata do PSB tem uma gama de propostas voltadas para o público feminino, como a recriação da Secretaria Municipal da Mulher; a paridade de gênero nas secretarias e a reserva de 30% das vagas nos conselhos das empresas municipais; a criação da Rede de Apoio à Mãe Paulistana Atípica (Rampa), um programa voltado para o cuidado de mães de pessoas com deficiência; a implementação de carretas móveis de saúde da mulher para consultas, exames, diagnóstico inicial de doenças e orientações preventivas; a ampliação do efetivo da GCM exclusivamente para o Programa Guardiã Maria da Penha; a ampliação do valor do auxílio aluguel para mulheres vítimas de violência, entre outras iniciativas.

José Luiz Datena (PSDB) segue uma linha semelhante, com iniciativas que vão desde estender em duas horas o funcionamento das creches, para que as mães tenham mais tempo para buscar os filhos, até ampliar as Delegacias de Defesa da Mulher (DDMs) e o programa Guardiã Maria da Penha. Embora sua intenção de voto seja similar entre mulheres e homens (8% e 6%, segundo o Datafolha), integrantes da campanha de Datena dizem que as mulheres são mais receptivas com ele nos eventos de rua.

Marçal repete Bolsonaro e enfrenta resistência no eleitorado feminino

Nome que mais se aproxima do bolsonarismo na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Marçal tem enfrentado dificuldades para conquistar o apoio do eleitorado feminino, enquanto desfruta de maior popularidade entre os homens: na última pesquisa Datafolha, ele aparece com 22% no eleitorado geral, mas sobe para 29% entre o eleitorado masculino.

A rejeição entre as mulheres também foi um desafio enfrentado por Bolsonaro na eleição presidencial de 2022. Uma das estratégias de sua campanha foi dar mais visibilidade à então primeira-dama, Michelle Bolsonaro (PL).

Marçal tem repetido ser o único candidato com uma mulher negra como vice. A campanha conta com a iniciativa "#MulheresComMarçal", uma ação que envolve tanto as redes sociais quanto eventos presenciais com apoiadoras, buscando maior engajamento desse público. Um desses encontros aconteceu no domingo, 8, no Parque Ibirapuera, e contou com a presença de Antônia de Jesus (PRTB), sua candidata a vice.

O tom combativo de Marçal, bem como suas declarações apontadas por adversários como misóginas, estão entre as razões que afastam sua candidatura do eleitorado feminino. Na avaliação dos estrategistas da campanha, posicionamentos mais alinhados à direita tendem a ressoar com mais força entre o público masculino. No entanto, o eleitorado feminino é considerado crucial para a sua candidatura, pois além de as mulheres serem a base das famílias, muitas vezes elas exercem influência sobre outros integrantes na hora da decisão de voto.

Embora Marçal já tenha suavizado seu tom no campanha, algo que pode ajudá-lo a dirimir a rejeição entre o eleitorado feminino, a última pesquisa Datafolha mostrou que 37% das mulheres rejeitam votar nele, comparado a 31% em Boulos e 20% em Nunes. Uma das estratégias para atrair o voto feminino será destacar as propostas do candidato voltadas para a juventude, visando conquistar o apoio de mães que estão preocupadas com a falta de oportunidades no mercado de trabalho para seus filhos.

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