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Política

Crivella: 'se houver uma catástrofe posso apoiar Campos'

19 mai 2014 - 07h48
(atualizado às 12h11)
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<p>Senador na casa alugada para a campanha na capital fluminense, no Alto da Boa Vista</p>
Senador na casa alugada para a campanha na capital fluminense, no Alto da Boa Vista
Foto: Daniel Ramalho / Terra

Diz o ditado que não há dois sem três. No caso do senador do PRB Marcelo Crivella não há quatro sem cinco. Pela quinta vez ele tenta se eleger a algum cargo executivo no Rio de Janeiro. Crivella é pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro nas eleições de outubro. Ele tentará chegar ao Palácio da Guanabara pela terceira vez. Na primeira tentativa alcançou segundo lugar e na segunda ficou com a terceira maior votação. Tentou também ser prefeito do Rio. Ficou em segundo lugar nas duas disputas. O fato de ser ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, criada pelo tio dele, Edir Macedo, sempre deu a Crivella um alto índice de rejeição. “Hoje tenho menos rejeição que a presidenta Dilma”, afirma.

Crivella recebeu o Terra em uma casa alugada com cenário paradisíaco no Alto da Boa Vista, entre as zonas Norte e Oeste do Rio. “É aqui que vou gravar meus programas políticos e conceder entrevistas”, explicou o Senador. 

Na entrevista, Crivella pela primeira vez fala abertamente de sua ligação com a Igreja Universal, que segundo ele "presta um grande serviço à sociedade”. O senador cometou também dos planos que tem para enfrentar os problemas de segurança pública do Estado e se defende dos ataques dos adversários contra seu projeto de lei antiterrorista. Crivella ainda se declara “dilmista” de primeira linha, mas admite que, em caso de catástrofe eleitoral, pode apoiar Eduardo Campos.

Terra -  Por que o senhor quer ser governador do Rio?

Marcelo Crivella -  Para ser o melhor governador que o Rio já teve. Para colocar a casa em ordem.

Terra - O que o senhor considera colocar a casa em ordem?

Crivella - Voltar os investimentos necessários em saúde, educação e segurança, coisas básicas; habitação também, que hoje o cidadão fluminense não tem. 

Terra -  As últimas pesquisas divulgadas apontam o senhor empatado tecnicamente na intenção de votos para o governo do Rio de Janeiro, tendo muito próximo o deputado Anthony Garotinho (PR) e o senador Lindbergh Farias (PT), e o atual governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) um pouco mais distante. Isso quer dizer que as eleições vão ser muito disputadas este ano no Rio?

Crivella - Eu acho que sim. Mas estas pesquisas estão defasadas. A última pesquisa do Ibope tem Garotinho com 19%, Crivella 18% e Lindbergh com 10%. A última, publicada pelo jornal O Dia, deu Crivella com 18% e Garotinho com 13% e Lindbergh com 8%. Acredito que existam dois times: Crivella e Garotinho, mais ou menos empatados em 20% e em torno de 10%, um pouquinho abaixo outro grupo, com o Pezão em torno de 5%.

Terra - É muito cedo para se definir um quadro eleitoral para este ano?

Crivella - Se você tirar o tempo que vamos ter de Copa do Mundo, não é tão cedo não. Sobretudo na questão da rejeição. Já disputei seis eleições e o mais difícil não é conquistar o voto, mas vencer a rejeição. E nesse aspecto o tempo que os candidatos têm para vencer isso é muito pouco.

Terra - O senhor definiria o deputado Anthony Garotinho como seu principal adversário?

Crivella -  Meus principais adversários são todos. Não vou escolher adversário. Tendo em vista a impressão que as pessoas, hoje, têm da política e dos políticos, talvez o maior adversário de nós todos seja o que vai anular o voto, o que vai se abster ou vai votar branco.

Crivella: “Tenho menos rejeição que a presidenta Dilma”:
Terra - Como o senhor vê a situação da presidente Dilma, que tem quatro palanques para subir no Rio? Ela já manifestou a preferência pelo candidato do PMDB, o governador Pezão, tem o candidato do partido dela, o senador Lindbergh Farias, o senhor, o deputado Garotinho, que pretende liberar o partido para votar em quem quiser para presidente.

Crivella -  A presidenta Dilma tem um projeto importantíssimo para colocar avante, que é esse de redenção daquele governo passado, governo tucano, quando o BNDES, por exemplo, só emprestava dinheiro para privatização; época de arrocho salarial, onde não se tinha projeto de habitação para o país, como Minha Casa Minha Vida, um déficit da balança comercial gigantesco. A única coisa de bom era a estabilidade, que está mantida, com estabilidade de preços e inflação dentro da meta. Mas nós não queremos voltar àquele tempo de arrocho salarial, alto desemprego, privatização das empresas. Nós queremos continuar crescendo, se desenvolvendo, gerando empregos e subindo renda. Esse projeto é fundamental. Aqui no Rio há vários candidatos querendo colaborar com ela. Eu não tenho nenhum problema de que a presidenta venha ao meu palanque (ela jamais disse que deixaria de vir) e vá a outros palanques. Entendo a situação dela e a importância do projeto nacional, comparado ao projeto de governo de qualquer Estado.    

Terra - Dizem que o senhor estaria em entendimento com o pré-candidato ao governo pelo PSB, o ex-governador Eduardo Campos. Isso pode ser possível?

Crivella -  Não. O Crivella é Dilma, os que me acompanham são Dilma, o meu partido é Dilma. Se houvesse uma catástrofe e a presidenta Dilma ficasse fora do segundo turno, por uma razão que fugisse do cenário atual, meu partido apoiaria Eduardo Campos, que tem uma linha bem próxima à do PT, mais à esquerda. Mas acho essa hipótese é remota, embora veja com simpatia e com bons olhos a candidatura de Eduardo Campos.

Terra - Chegou-se a falar da possibilidade do ex-presidente Lula vir candidato. O que o senhor pensa disso?

Crivella - Acho que na política as coisas podem se compor. Se a presidenta Dilma achasse que não teria condições políticas favoráveis para vencer as eleições e manter o projeto que estamos realizando no Brasil há 12 anos, ela mesmo tomaria a iniciativa de ceder seu lugar. Mas se ela sentir que está preparada, e está preparada, e que tem apoio popular, não vejo razão para o presidente Lula voltar. 

Terra - Os analistas políticos dizem que o senhor tem um teto máximo de votos, que ficaria aí em torno de 18% e daí nunca passa em uma eleição majoritária.  O senhor já foi segundo colocado ao governo do estado uma vez, terceiro em outra e duas vezes segundo colocado na corrida à prefeitura, sempre por conta da rejeição. Por que o senhor acha que isso acontece?

Crivella -  Acontecia. Durante os 12 anos de vida pública, minha rejeição era muito alta. Mas isso acabou. Se você olhar as pesquisas, e eu queria estar vivo para ver isso acontecer, minha rejeição hoje no Rio é a menor de todos os políticos. Até a presidenta Dilma tem rejeição maior que a minha. A Marina tem rejeição maior que a minha. Devo isso ao trabalho, às pessoas e à misericórdia de Deus. Porque durante esses 12 anos, minha rejeição se baseava em uma coisa: Crivella mistura política com religião. E minha resposta era sempre a mesma: dê-me um exemplo, um discurso, um projeto, uma verba que tenha sido destinada à minha igreja, ou para o meu seguimento exclusivamente. Sempre trabalhei em função do interesse público. Hoje tenho essa alegria: não de estar entre os primeiros na intenção de voto, mas estar em último, disparado, na rejeição.

Terra - O senhor se sente discriminado por se declarar evangélico?

Crivella -  Não. O que as pessoas discriminavam eram a hipótese de você unir política com religião. Como sempre fiz a separação: estado de um lado, igreja do outro; política de um lado, religião do outro, acho que não. Acho até que os evangélicos são muito bem aceitos na sociedade. São consideradas pessoas sérias, cumpridoras de compromissos, pontuais (ri, em relação ao atraso de nossa equipe).

Terra - O senhor evita ter seu nome ligado à Igreja Universal?

Crivella - Não, de jeito nenhum. Tenho pela Igreja Universal o maior apreço, o maior carinho. É um trabalho de 37 anos, que participo desde o princípio. E que hoje está em 180 países. O Brasil tem embaixadas em 112 e a igreja Universal está em 180. Eu mesmo servi na África por dez anos: Malaui, Zâmbia, Uganda, Quênia, Madagascar, Lesoto, Suazilândia, Namíbia. Botswana, África do Sul, Costa do Marfim e devo ter esquecido algum. Passei dez anos com a família lá e tenho o maior orgulho. Acho que a igreja pode ser mal compreendida, mas presta um enorme serviço à sociedade brasileira e ao mundo.

Terra - O senhor divide votos evangélicos com o deputado Anthony Garotinho. Seria melhor que um dos dois desistisse da disputa? Chegaram a dizer que o senhor teria espalhado que o Garotinho desistiria para ser candidato ao Senado. Isso é verdade?

Crivella - Olha, dividir o voto evangélico é possível que eu, ele e outros candidatos dividam esse voto, porque há uma afinidade. Não são todos, mas muitos votam em candidatos que representam seu pensamento. Quem me conhece sabe que já sofri muitas calúnias. Mas, mesmo no vértice das minhas agonias, nunca revidei. Muita gente já falou mal de mim, mas nunca espalhei nada. Desejo que ele tenha uma boa candidatura, espero debater com ele sobre os assuntos do Rio de Janeiro. Ouço dizer que ele poderia amanhã ou depois optar por ser candidato a deputado Federal ou Senador, porque na última eleição foi assim. Então, por causa desse episódio é que dizem isso. Mas não fui eu que disse, são as pessoas. Eu desejo a ele sorte para o cargo que for.

Terra - O senhor tem opiniões consideradas polêmicas e bem definidas sobre aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo. É possível ainda assim apoiar um governo, como o da presidente Dilma, que defende todas essas coisas?

Crivella - Não defende. Quando foi candidata, a presidenta Dilma assumiu um compromisso com os evangélicos de que não entraria nesses casos, que deveria ser decidido pelo Congresso. O debate está no Congresso e ela cumpriu a promessa. Não fez nenhum esforço, não pediu nada à base aliada. Ela deixou que a discussão ficasse restrita à sociedade. Liberação de drogas, questão do aborto e união de pessoas do mesmo sexo, mudando a Constituição para que o casamento seja de pessoas do mesmo sexo, está sendo discutido no Congresso. Ela cumpriu o acordo e por isso mantemos o apoio a ela. 

Terra - O Rio está sendo bastante pelo Comitê Olímpico Internacional pelos atrasos nas obras para os Jogos Olímpicos. Se o senhor for eleito qual o seu compromisso com a Rio 2016?

Crivella - Total. Dar todo apoio ao Eduardo Paes e trabalharmos em conjunto. Estava com ele na Dinamarca, quando choramos muito e comemoramos muito quando abriram o envelope e anunciaram o nome do Rio. Nós batemos Tóquio, Chicago e Madri. Pela primeira vez a Olimpíada será realizada na América do Sul e terá todo meu apoio para a realização da melhor edição de Jogos Olímpicos.

Terra - O estrangeiro tem menos tolerância com nossos atrasos?

Crivella - Acho que sim. O estrangeiro que imigrou para o Brasil é o português, o ibérico, mestiçado. E a Península Ibérica foi por muitos anos a esquina do mundo, por onde passaram pessoas de todos os lados. Já o saxão, o alemão, suíço, austríaco, inglês, e por consequência o americano, tem uma maneira de ver o mundo diferente da nossa. Nós somos a junção do sangue vermelho do índio, do negro africano e do branco ibérico. De maneira que temos uma capacidade enorme de superar obstáculos. Nossa civilização foi construída o tempo todo com suor pingando nos olhos. Nós enfrentamos todas as gripes, febres tropicais; o tempo todo com vírus e bactérias que crescem muito em climas úmidos, que eles não têm lá, comendo as unhas dos dedos dos nossos pés, nossas unhas, o branco dos olhos, nossas virilhas. Nós somos o Brasil, uma terra de bravos. Sabemos superar todas as dificuldades. E isso eles não conseguem entender. Eles são homens de cronograma. Se por acaso o cronograma atrasa, temos mil maneiras de fazer avançar. Não tenho dúvida nenhuma, e falo isso como engenheiro que tem 84 obras registradas no Confea: nossa força de trabalho (pedreiro, carpinteiro, servente, armador, ferreiro, nossos empreiteiros, nosso engenheiros e arquitetos) têm uma capacidade de se superar incrível. Vai ficar tudo muito bonito.

Terra - O senhor disse que é engenheiro e eu pergunto: o senhor não fica assustado de alguns estádios não estarem prontos e menos de 30 dias para a Copa do Mundo?

Crivella -  Isso são negociações que envolveram problemas salarias. Nosso operário ganha muito pouco. Você vende aqui no Rio de Janeiro o metro quadrado a R$ 10 mil, R$ 12 mil e não é possível um pedreiro, mestre-de-obras, pedreiro, ganhar tão pouco. Mas, acertado valores, a técnica e a tecnologia e os materiais, rapidamente, retomamos o atraso. Vai ser uma Copa do Mundo muito bonita.

Terra - Quando assumiu o cargo de Ministro da Pesca, o senhor disse que jamais havia pescado na vida. O senhor não acha que para certos cargos seria melhor ter um técnico ao invés de um político?

Crivella -  Nunca coloquei isca em um anzol. Mas acho que não. Você precisa ter técnico em todos os cargos, mas na direção é preciso ter um homem capaz de conciliar esse dilúvio de ódios e paixões que é o homem moderno. Hoje, com muitas informações à disposição, você é capaz de ver a árvore e não ver a floresta. Então é preciso um humanista, um político. Isso não se aprende na escola, não se herda dos pais e nem se compra no comércio. É um dom natural. É aquela capacidade de motivar a todos, de ouvir a todos, de propor o que é possível. Aquilo que é viável dentro da sociedade. Os técnicos são importantíssimos e formam uma equipe. Lá no Ministério da Pesca, por exemplo, tomamos três medidas fundamentais. A primeira foi a desburocratização do licenciamento ambiental. Eram precisas três licenças para montar uma gaiola para criar peixes. Para montar um chiqueiro, um galinheiro, um curral, não é preciso nenhuma. Imagina só nos lagos das hidrelétricas, usando 5% das áreas, podemos produzir 20 milhões de toneladas de peixe, o que a R$ 5 o quilo, dá uma conta de R$ 100 bilhões por ano de maneira sustentável. Se dobrarmos, vamos ser o segundo maior produtor de peixes do mundo. Depois colocamos o peixe na cesta básica do brasileiro, tiramos impostos. Terceiro: o plano safra de pesca e aquicultura com R$ 4 bilhões em investimento. Para fazer isso eu tinha que ser político, para poder conversar com o meio ambiente, com o planejamento, e conversar com todos os setores da sociedade e articular isso. Por isso é que é importante ter um político.

Terra - O Brasil e principalmente o Rio foram sacudidos pelos protestos populares ano passado durante a Copa das Confederações. Qual é sua opinião sobre esses movimentos sociais?

Crivella - Naturais, democráticos, da vida pública. Sofri por parte dos meus adversários, e do Garotinho que está mais próximo, um processo de difamação. Diziam que minha lei Antiterrorista era para prender manifestantes. O que não é verdade. Minha lei, que tem aplauso do Ministério Público, do Conselho Nacional do MP, da OAB, disseram que o projeto era excelente. Meu projeto é contra o terrorismo. E o que é terrorismo, por exemplo? Colocar bomba num estádio. Em Chicago, colocaram uma panela de pressão com explosivos em baixo da arquibancada na linha de chegada (da maratona). É só mandar um anúncio ao mundo que não vamos tolerar meninos e meninas, seja lá de onde forem, colocando panelas de pressão em estádios para matar pessoas. É uma lei específica para isso, que nós não tínhamos e ainda não temos. Os adversários disseram que eu queria 30 anos de prisão para quem faz manifestação na rua, pichação, coisa que é da democracia, que precisamos entender e fazer políticas públicas que possam suprir essas demandas.

Terra - A polícia errou a mão para conter os protestos?

Crivella - Acho que sim. Tenho um projeto, que tramita no Congresso há dez anos, proibindo cassetetes. Acho isso desumano. Tenho outro projeto, chamada “Câmera, Polícia, Ação”, para que os policiais levem uma câmera com um pen drive acoplado para que todas as ações deles em manifestações sejam filmadas. Para ele saber que o que ele faz, o que ele fala está sendo gravado. Alguns países já adotam esse modelo para reduzir a violência policial. Nossa polícia é militarizada, é hierarquizada, e às vezes se excede em violência. Pesaram muito a mão, e isso desautoriza o governador e precisa ser evitada a todo custo.

Terra - Sendo eleito, qual seria sua posição sobre o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora do seu antecessor, Sergio Cabral. Seu governo pretende dar continuidade a esse projeto?

Crivella -  Não tenho alternativa. Ele precisa ser mantido. Mas se você fizer uma pesquisa no Rio, 70% não gosta da UPP. Mas por quê? Porque veem na UPP uma estratégia do governo do Estado e dos ricos de, como não podem resolver o problema da violência, fazem policiamento maciço na zona Sul do Rio, um pouquinho na Zona Norte, e varrem os bandidos para a Baixada Fluminense e para o interior. UPP tem que ser política de segurança do Estado. Nós não podemos só guardar a zona Sul do Rio ou zona Norte, mas em todos os lugares onde o tráfico toma conta do território. Não pode colocar UPP nesses containers. A última que visitei, no Tuiuti, tinha mesa quebrada, cadeira quebrada e em cima da mesa um micro-ondas pago por um solado para esquentar a comida. Só funcionava o ar condicionado, mas no geral eram péssimas as condições para policiais que ficam ali 24 horas. É desumano. A UPP precisa ter modernização, total apoio porque a população não quer viver sob o jugo de traficantes. Mas temos que levar isso à Baixada, ao interior. Priorizar onde tem mais renda, como Macaé e Cabo Frio, onde na semana passada morreram cinco pessoas; em Cabo Frio o papelote está sendo vendido a R$ 25, R$ 30 e o tráfico faz R$ 500 mil por fim de semana. É uma coisa impressionante. Temos equipar melhor e ter mais soldados. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, para ter paz em uma cidade você precisa ter um policial para cada 250 habitantes. Na zona Sul do Rio você tem um para 100 por causa dos 700 policiais da Rocinha; na zona Norte você tem um para 500, na Baixada um para 1250 e no interior um para dois mil, três mil. Não é possível ter uma política de segurança pública que traga cizânia para a população. O governador tem que unir e não dividir seu Estado. Tenho um projeto de lei há oito anos, que está na reta final, que é dar autoridade ao governador para chamar os últimos cinco contingentes da polícia militar, os que se aposentaram, para voltarem à tropa apenas para ocupar a parte burocrática. Setor de pessoal, administrativo, de manutenção. E fazer voltar PMs que estão cedidos a gabinetes de prefeitos, deputados, desembargadores. A PM do Rio hoje tem 44 mil homens e 20 mil estão na parte burocrática. Por ano, são três mil que se aposentam. Não precisam uniformizar eles, não. Mas assim vamos ter mais policiais nas ruas para as atividades fins, ampliar as UPPs, sem gastar muitos recursos. Quem está na reserva já recebe salário, já tem plano de saúde, já são atendidos nos hospitais e sem necessidade de concurso. Espero que esse projeto seja aprovado logo.

Terra - A que o senhor credita o aumento da sensação de violência por parte do carioca nos últimos meses? É um fracasso do processo da UPP ou é preciso reformular o projeto?

Crivella -  Acho que tem as duas coisas. A UPP levou muita esperança para o morro. Havia um economia naquele morro: você tinha um traficante e mais 50, 100 meninos que dependiam desse comércio. Entra a UPP, sai o traficante, a boca de fumo não sai, mas não dá mais emprego a quem vivia daquilo. Esses meninos, com acesso fácil à arma vão para os asfalto assaltar. Isso aumenta a sensação de violência. Uma senhora que anda na Conde Bonfim ou na Nossa Senhora de Copacabana e tem a bolsa arrancada. Uma pessoa que é assaltada no caixa eletrônico e é feita refém, isso repercute e ocorre de maneira corriqueira no Rio de Janeiro. É preciso policiamento. Não adianta colocar 700 homens na Rocinha, coibir o tráfico e essas pessoas desceram para assaltar. E nem migrar essa gente para a Baixada ou para o interior. Defendo a zona franca social. Fazer o que foi feito em Manaus: usar o poder estratégico de compras do Estado e tirar os impostos municipais, estaduais e até federais para que ali se instalem micro e pequenas empresas. Economia solidária, cooperativas. Podemos comprar toda a roupa de cama de hospitais públicos nas comunidades. Montas pequenas fábricas de placas de rua; consertar nossas viaturas em oficinas mecânicas instaladas lá. Vamos evitar trânsito de pessoas, essas pessoas vão ficar mais próximas dos filhos, vão cuidar das crianças. Não tem sentido tirar uma mãe pobre do morro do Cavalão, em Niterói, para ser balconista de farmácia em Copacabana, deixando seus filhos nas mãos do tráfico, até do consumo de drogras precoce. A segunda coisa, que comecei com recursos próprios e que já foi adotada pela prefeitura, que é o cimento social. Como engenheiro, e com tanto material à disposição não é possível que as pessoas morem em barraco. Em três dias, e tenho feito isso no Rio, você joga um barraco no chão e constrói uma casa de dois pavimentos com 60 metros quadrados, onde se pode morar com dignidade. Isso não custa mais que R$ 50, R$ 60 mil reais. Tenho certeza que tudo isso vai outra dimensão à questão de segurança pública do Rio.

Terra - O senhor já foi condenado pela Justiça Eleitoral pelo uso eleitoreiro do seu programa Cimento Social. Enquanto Ministro da Pesca o senhor veio ao Rio para promover o programa em uma comunidade.

Crivella -  Tive. Eles consideraram o programa eleitoreiro. Mas por culpa dos meus adversários. Mas foi uma determinação da presidência da República de que o exército garantisse que o projeto no Morro da Providência, no Rio. Meus adversários entraram na justiça e conseguiram embargar a obra. Mas a prefeitura encampou o projeto que está sendo feito na Mangueira e no Salgueiro.

Terra -  É verdade que o senhor passa bilhetes com mensagens evangélicas a seus?

Crivella -  Bilhetes? Costumo mandar muitas mensagens no Facebook. Aliás, tenho mais 1,3 milhão de seguidores, o que para um político, só acontece nos Estados Unidos. Mas costumo ligar para eles e mandar mensagens pela internet.

Terra - Vai ser uma campanha muito marcada pelo uso da internet?

Crivella -  Acho que sim. Facebook, Twitter, Instagram vão ter uma participação enorme. Mas, como em toda campanha do Rio, não vai dispensar gastar muita sola de sapato e apertar a mão do eleitor.

Terra - Além de ser político, o senhor é bispo licenciado da Igreja Universal, e cantor com 12 discos gravados. O senhor pretende compor seu jingle de campanha para este ano?

Crivella -  Não, são mais de 20 discos gravados. Mas, não. Há pessoas bem mais preparadas para compor jingles do que eu. Agora, chegando ao fim, quero dizer que sou candidato também em respeito a esse povo fluminense, que em sua imensa maioria são humildes, ordeiros, trabalhadores, modestos e honestos. Esse povo não merece os desmandos que acontecem no nosso Estado, e da falta de segurança que hoje atormenta o cotidiano dessa gente sofrida e valente. E tenho certeza que vamos chegar lá e fazer com a graça de Deus, o melhor governo que o Rio já teve.

Terra - Tem alguma música que o inspire antes de alguma atividade política? Pode cantar um trecho para nós?

Crivella -  Sim, chama-se Aleluia, a Luta Continua, que compus quando morava na África. De lá para cá uso essa música no Senado, no Ministério da Pesca, nas campanhas e dou graças a Deus de ter amigos ao meu lado para fazer o bem. A música diz: “Nessa hora de agonia, quanto a noite é tão fria. A tristeza invade a alma e não amanhece o dia.” Acho que todo político já passou noites acordados. “No momento de amargura, quando a vida é tão dura, aleluia, que a vida continua.”

Fonte: Terra
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