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Crítico do MBL, Alexandre Frota agora se diz o 'verdadeiro' dono da logomarca do grupo de direita

Pessoas ligadas ao ator registraram uma associação com o mesmo nome do movimento liberal e anti-petista; objetivo seria "tomar" a marca e o nome. Mais tarde, Kim Kataguiri seria 'desmascarado' em debate ao vivo.

29 set 2017 - 19h52
(atualizado em 30/9/2017 às 09h38)
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pessoas usando roubas amarelas em protesto em frente ao Congresso, em Brasília
pessoas usando roubas amarelas em protesto em frente ao Congresso, em Brasília
Foto: BBC News Brasil

O Movimento Brasil Livre está perto de completar três anos de idade. Surgiu na cena política em meados de 2014, com protestos contra a corrupção e o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). No fim de 2014, a página no Facebook já passava de 140 mil seguidores. Mas no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o CNPJ, a "história" do grupo é outra. Lá a Associação Movimento Brasil Livre, registrada no fim de agosto deste ano, seria dirigida pelo ator Alexandre Frota.

Na vida real, Alexandre Frota nunca fez parte do MBL. Ele inclusive já publicou vídeos no YouTube criticando o movimento, classificado por ele de "eleitoreiro". Em uma gravação de março deste ano, ele chama um dos líderes do grupo, Kim Kataguiri, de "filhote de Jaspion". "Quem está ali falando é o 'movimento das bichinhas livres'", diz ele.

A associação da qual Frota é diretor é presidida por Vinicius Carvalho de Aquino, assessor de um deputado federal pelo Tocantins. Desde o impeachment de Dilma Rousseff, o ator vem ganhando proeminência entre os ativistas de movimentos de direita, sobretudo nas redes sociais.

Não se trata de uma simples disputa por uma logomarca, e sim pelo protagonismo da onda conservadora no Brasil, especialmente entre os jovens. O MBL de Kim Kataguiri e do vereador paulistano Fernando Holiday (DEM) é hoje o principal porta-voz deste campo político, espcialmente nas redes sociais.

Alexandre Frota em manifestação na avenida Paulista
Alexandre Frota em manifestação na avenida Paulista
Foto: BBC News Brasil

O movimento deu uma demonstração de força recentemente - com o encerramento abreviado da exposição Queermuseu, em Porto Alegre.

Segundo os dirigentes do MBL, o intento do grupo de Frota era "roubar" a marca e o nome do movimento, com o objetivo de desmoralizá-lo.

Para a turma de Kim Kataguiri, a ideia não tem amparo jurídico: eles solicitaram o registro formal do nome e da logomarca no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI) em três ocasiões. Nas duas primeiras tentativas, em 2015, o pedido foi negado. A última tentativa, em junho deste ano, ainda está em andamento.

O mesmo foi feito depois por Vinicius de Aquino, mas o pedido dele é mais recente (dia 19 de setembro deste ano).

Já Aquino alega que o grupo de Renan Santos e Kim Kataguiri "roubou" a marca, que teria sido criada por uma agência de publicidade de Alagoas. A partir daí, o grupo teria passado a utilizar o MBL como fonte de renda e com finalidades eleitorais.

"O gran-finale (do plano de Aquino e Frota) seria justamente com eles chamando o Kim Kataguiri para um debate ao vivo, com transmissão online, onde ele seria 'desmascarado', seria esculachado diante de todo mundo", disse à BBC Brasil Renan Santos, um dos líderes do movimento.

"É muito bisonho, nem sei como comentar. É simplesmente o Alexandre Frota, da (atração televisiva) Casa dos Artistas, dizendo que é o dono do MBL. Não tem cabimento. É muito psicodélico", diz Santos. A reportagem chegou a trocar mensagens de texto com Frota no começo da tarde de hoje, mas não conseguiu respostas dele aos questionamentos.

Para fins administrativos, o MBL verdadeiro usa um outro CNPJ, registrado em 2015 e com o nome fantasia de "Renovação Liberal". Santos diz ainda que um dos responsáveis pela criação da "Associação MBL" é um advogado que trabalhou com o movimento nas eleições de 2016.

O advogado, com o qual a BBC Brasil não conseguiu contato, teria percebido uma possível brecha legal para ficar com a marca e a propriedade intelectual do movimento. O CNPJ da "Renovação Liberal" tem como sócios familiares de Renan.

'Eles vendem algo que não têm'

Já Vinicius Carvalho de Aquino sustenta ter autorização dos verdadeiros criadores do nome e da logomarca original do MBL - mudada recentemente. A ideia teria surgido em outubro de 2014, em Alagoas.

"Quem criou este nome e esta marca foi uma empresa chamada Agencia P, do meu amigo Paulo Gusmão. Decidiram o nome e a marca. Se você consultar o Facebook, até pouco tempo estava lá o 'MRL', Movimento Renovação Liberal, que era o movimento dos senhores Kim Kataguiri e Renan Santos", diz ele.

A BBC Brasil tentou contato com a agência mencionada por Aquino no começo da noite desta sexta-feira, mas não obteve resposta.

Reprodução de transmissão ao vivo na página do MRL no Facebook, com Fernando Holliday
Reprodução de transmissão ao vivo na página do MRL no Facebook, com Fernando Holliday
Foto: BBC News Brasil

"O Alexandre Frota é o vice-presidente da associação. É alguém que está a tempos nas ruas, nas manifestações, que conhece e representa o movimento", diz Aquino. "Na verdade, quando você se filia ao MBL do Kim Kataguiri, eles estão vendendo algo que não têm. O que pertence a eles é o 'MRL'", diz ele à BBC Brasil.

O grupo de Renan Santos disse ter ficado sabendo do caso por meio de uma pessoa que participou da constituição da associação.

Santos e um irmão dele, Alexandre, dizem ter recebido mensagens com insultos nas redes sociais, enviadas por de uma pessoa que trabalha com Frota em um programa de rádio, e que também participaria da iniciativa.

Renan Santos disse que foi "pego de surpresa" pela iniciativa do grupo de Frota, mas que levará o caso à Justiça em breve.

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