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CPI do Cachoeira

MPF: seria melhor para a sociedade que Cachoeira ficasse preso

11 dez 2012 - 20h32
(atualizado às 23h19)
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O procurador do Ministério Público Federal (MPF) em Goiânia, Daniel de Rezende Salgado, um dos autores da denúncia que condenou os réus da operação Monte Carlo, comentou, na tarde desta terça-feira, a nova soltura do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Segundo ele, era melhor que a Justiça tivesse mantido a prisão preventiva do contraventor. “A decisão do juiz Alderico Rocha Santos é muito bem fundamentada e elenca mais de 20 itens que justificam a necessidade do encarceramento da principal pessoa dessa organização, seu líder”, disse, se referindo a Cachoeira.

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Segundo o ele, o juiz de primeiro grau entendeu que a liberdade de Cachoeira, por tudo o que fez no passado, pode gerar uma “potencial violação da ordem pública”. De acordo com o procurador, a organização criminosa comandada pelo contraventor não foi totalmente desarticulada e pode reincidir em seus crimes. O procurador cita a lei número 9034, em seu artigo 7º, que determina que aquelas pessoas que têm atuação forte ou intensa nas organizações criminosas não são beneficiadas com a liberdade provisória. 

Questionado sobre a decisão do desembargador Tourinho Neto, de conceder habeas-corpus a Cachoeira, Daniel Salgado procurou ser objetivo. “Nós tivemos o nosso trabalho de forma técnica. O MPF vai até onde consegue ir”, comentou. Segundo ele, a decisão que condenou o contraventor coroou o trabalho desenvolvido pelo MPF. “Creio, porém, que seria melhor para a sociedade que o senhor Carlos Augusto Ramos estivesse encarcerado.”

Para o procurador, a concessão do habeas-corpus foi uma opção que o desembargador Tourinho Neto fez. “O desembargador tem uma postura libertária”, resumiu. O procurador disse que ainda não sabe se o MPF vai entrar com um agravo regimental contra a decisão de Tourinho Neto.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

Em 21 de novembro, após 265 dias preso, Carlinhos Cachoeira, deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília. No mesmo dia, o contraventor foi condenado pela 5ª Vara Criminal do Distrito Federal a uma pena de 5 anos de prisão por tráfico de influência e formação de quadrilha. Como a sentença é inferior a 8 anos, a juíza Ana Claudia Barreto decidiu soltar Cachoeira, que cumpriria a pena em regime semiaberto.

No dia seguinte, o Ministério Público Federal (MPF) de Goiás pediu nova prisão do bicheiro, com base em uma segunda denúncia contra ele e outras 16 pessoas, todos suspeitos de participar de uma intensificação de ações criminosas em Brasília. O pedido foi negado pela Justiça.

No dia 7 de dezembro, Cachoeira voltou a ser preso. O juiz Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara Federal de Goiás, condenou o bicheiro a 39 anos, 8 meses e 10 dias de reclusão por diversos crimes relativos à Operação Monte Carlo e determinou sua prisão preventiva. A defesa ainda pode recorrer da decisão.

Fonte: Terra
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