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CPI do Cachoeira

Em evento com Cabral, Garotinho cobra investigação de elo com Delta

17 jan 2013 - 13h41
(atualizado às 13h46)
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O deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) roubou a cena na posse do novo procurador-geral do município do Rio de Janeiro, Marfan Vieira. Sentado na mesa principal ao lado do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, Garotinho fez o governador Sérgio Cabral (PMDB) fazer cara de poucos amigos quando foi anunciado pelo cerimonial. Durante o evento, o ex-governador do Rio voltou a cobrar a investigação das relações entre Cabral e o empresário Fernando Cavendish, ex-presidente da construtora Delta, envolvida no esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

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Garotinho direcionou suas críticas ao Ministério Público, que no ano passado deixou de investigar as relações entre Cabral e Cavendish. "Todas as minhas críticas ao MP estão no meu blog. Creio que não só a investigação da Delta tem que ser levada em consideração, mas outras ligadas à área de saúde que são gravíssimas", disse Garotinho, que foi quem denunciou a relação íntima entre Cabral e Cavendish, no episódio que ficou conhecido como a "Gangue do Guardanapo". Em fotos divulgadas no blog de Garotinho, Cabral e Cavendish aparecem em momentos de descontração durante viagem a Paris. Em uma das imagens, Cavendish e membros do governo fluminense estão com guardanapos amarrados na cabeça.

Garotinho disse que fez um relatório com mais de 3 mil páginas a respeito das supostas irregularidades no governo Cabral e o entregou à Polícia Federal. "Tem superfaturamento de UPA (unidade de pronto-atendimento), compra de remédios em paraíso fiscal, caso Toesa e muitos outros. Entreguei às autoridades competentes e agora é com eles" disse, sem querer opinar sobre se o MP do Rio deve voltar a investigar o governador, que saiu do evento sem falar com a imprensa.

Apesar da rivalidade política, o ex-governador do Rio negou qualquer constrangimento em participar do evento ao lado de Cabral. "Fui convidado pelo novo procurador, como representante da Câmara Federal. Não tem constrangimento nenhum, pelo menos da minha parte", disse Garotinho, lembrando que Marfan foi procurador quando sua mulher, Rosinha Garotinho, era governadora.

O ex-governador do Rio disse que não fala com o atual governador desde o 10º dia do governo Cabral. "Sou eu que não falo com ele. Um grande amigo dele, Eduardo Cunha, não fala comigo. Amigo dele e de Fernando Cavendish", disparou, dizendo que se sente à vontade em cerimônias como essas. "Mais de 90% do governo dele é do governo anterior. Antes não prestavam, e agora prestam? Todos os que estavam aqui vieram me cumprimentar", disse Garotinho, que deixou em aberto a possibilidade de reabrir o diálogo com o governador no futuro. "Como cristão, tenho que perdoar. Mas primeiro tenho que esquecer, e ainda não esqueci" disse, sorrindo.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

Em 21 de novembro, após 265 dias preso, Carlinhos Cachoeira, deixou a penitenciária da Papuda, em Brasília. No mesmo dia, o contraventor foi condenado pela 5ª Vara Criminal do Distrito Federal a uma pena de 5 anos de prisão por tráfico de influência e formação de quadrilha. Como a sentença é inferior a 8 anos, a juíza Ana Claudia Barreto decidiu soltar Cachoeira, que cumpriria a pena em regime semiaberto.

No dia seguinte, o Ministério Público Federal (MPF) de Goiás pediu nova prisão do bicheiro, com base em uma segunda denúncia contra ele e outras 16 pessoas, todos suspeitos de participar de uma intensificação de ações criminosas em Brasília. O pedido foi negado pela Justiça.

No dia 7 de dezembro, Cachoeira voltou a ser preso. O juiz Alderico Rocha Santos, da 11ª Vara Federal de Goiás, condenou o bicheiro a 39 anos, 8 meses e 10 dias de reclusão por diversos crimes relativos à Operação Monte Carlo e determinou sua prisão preventiva. A defesa recorreu e, quatro dias depois, o juiz federal Tourinho Neto, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) concedeu novo habeas-corpus e Cachoeira foi libertado.

Fonte: Terra
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