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Política

Ciro quer disputar com PT liderança de oposição no País

Pedetista aposta no seu desempenho no primeiro turno das eleições,quando teve 12,5% dos votos, para ser opção de 'campo progressista'

28 out 2018 - 23h38
(atualizado em 29/10/2018 às 07h43)
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Terceiro colocado no primeiro turno das eleições presidenciais, Ciro Gomes (PDT) se prepara para uma nova campanha a partir do dia 1.º de janeiro. Ao frustrar as expectativas de petistas e não declarar apoio a Fernando Haddad (PT) no segundo turno, o pedetista tenta levar adiante o seu projeto de se consolidar como uma nova liderança do "campo progressista", que hoje tem o PT à frente, aproveitando o capital político conquistado neste ano. Ciro teve 13,3 milhões de votos, o equivalente a 12,5%.

O principal entusiasta desse projeto de já lançar Ciro para as eleições presidenciais de 2022 é o presidente do PDT, Carlos Lupi. A relação entre o candidato e a legenda é uma via de mão dupla: enquanto o ex-ministro pretende se consolidar como principal alternativa política no País, caso o novo presidente não consiga se manter no cargo, seu partido quer finalmente tomar a liderança de uma parcela do eleitorado que sempre esteve mais próxima ao PT - um antigo desejo do maior líder da legenda, o ex-governador Leonel Brizola.

O candidato derrotado à Presidência Ciro Gomes
O candidato derrotado à Presidência Ciro Gomes
Foto: Leonardo Benassatto / Reuters

Precisará, porém, contornar questões locais de líderes que flertam com o "bolsonarismo". Dos quatro governadores do partido que foram ao segundo turno, três declararam apoio a Bolsonaro - Juiz Odilon, em Mato Grosso do Sul; Carlos Eduardo, no Rio Grande do Norte; e Amazonino Mendes, no Amazonas. O quarto, Waldez Góes, no Amapá, manteve-se neutro, mas recebeu o apoio do PSL de Bolsonaro no segundo turno.

"Já falei para ele (Ciro) que estamos lançando o nome dele a partir de 1º. de janeiro (de 2019). Nós vamos, com o Ciro candidato à Presidência em 2022, preparar as nossas candidaturas em grandes cidades, com mais de 200 mil habitantes, e a partir da semana que vem faremos encontros com a presença do Ciro", disse ele. Por enquanto, o presidente do PDT não tem mostrado preocupação com o fato de Ciro já ter trocado de partido mais de sete vezes ao longo de sua carreira. "O Ciro quer (seguir na campanha), ele já colocou o nome à disposição."

Turbulência

Além de garantir que ambos não percam o capital político, a iniciativa do PDT em lançar, desde já, uma nova candidatura presidencial se baseia na previsão de turbulências no mundo político. Na leitura dos dirigentes do partido, não importa quem seja o próximo presidente, a governabilidade será um complicador. "É uma governabilidade muito difícil, na qual haverá muita radicalização. Nós queremos ser opção à radicalização. A partir de 1.º de janeiro, ele (Ciro) se colocará como tal", afirmou.

Outra razão para que Ciro não se afaste das atividades políticas é o exemplo de Marina Silva, que foi candidata à Presidência pela Rede Sustentabilidade. Ela quase chegou ao segundo turno em 2014 numa disputa apertada com Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), mas se distanciou do mundo político nos últimos quatro anos. Marina voltou a se candidatar neste ano, sua terceira vez, mas acabou com apenas 1% dos votos válidos.

Desafio

O principal desafio de Ciro Gomes e do PDT, no entanto, será se afastar do PT sem perder apoio do campo progressista, o que já tem causado rusgas para sua imagem. Para se distanciar do PT, Ciro ignorou os pedidos para participar da campanha de Haddad. A escolha de viajar com a família para Europa logo após o primeiro turno rendeu críticas entre seus eleitores. Pressionado a gravar uma declaração a favor do petista, disse que não estava neutro, mas que não declararia apoio ao petista por uma razão "muito prática", que não revelaria.

"Minha consciência me aponta a necessidade de preservar um caminho em que a população brasileira possa ter amanhã uma referência para enfrentar os dias terríveis que, imagino, estão se aproximando", disse em vídeo divulgado na véspera da votação.

Ontem, ao votar em Fortaleza, voltou a dizer que não faria campanha com o PT "nunca mais". Nesse contexto, a opção de se apresentar como centro-esquerda, termo usado por seu irmão Cid Gomes (PDT-CE), senador eleito, também está longe de ser uma unanimidade dentro do partido. Um integrante da campanha de Ciro avalia que o partido precisa pesar que esta é a terceira disputa presidencial dele e que, mais uma vez, não conseguiu superar a faixa de 12% dos votos. Isso seria um sinal de que Ciro precisa adotar o caminho do "centro", sem tender a inclinações para o campo da esquerda, que seria o responsável por uma espécie de rejeição à sua candidatura.

Para evitar a polêmica, Lupi e outras lideranças têm evitado falar de Ciro como uma nova alternativa ao PT ou à esquerda. "A gente quer trabalhar para ser uma nova via, uma opção diferente ao que os dois (Haddad e Jair Bolsonaro) representam", costuma repetir o presidente da sigla. Um dos principais aliados de Ciro, o deputado André Figueiredo (PDT-CE) também evitar falar em "centro-esquerda".

"O Ciro saiu realmente maior do que entrou (nessas eleições). As pessoas puderam ver como ele está preparado. Mas, infelizmente, o PT preferiu apostar na sua ida ao segundo turno, mesmo sabendo que perderia. Temos quatro anos para trabalhar um projeto diferente dos outros. Ele (Ciro) se configura como uma alternativa dentro do campo progressista. Não gosto de rotular como de esquerda ou de centro, gosto de colocar no campo democrático e progressista", disse Figueiredo.

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Estadão
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