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As opções do PT sem Lula

Construção de uma alternativa parece depender de um gesto do próprio ex-presidente.

9 abr 2018 - 11h56
(atualizado às 14h45)
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Mesmo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atrás das grades, o PT ainda resiste a avaliar publicamente um plano B para as eleições deste ano. Por enquanto, os esforços do partido seguem concentrados em demonstrar apoio a Lula e pressionar pela sua saída da cadeia.

Antes da prisão, mesmo com seus problemas na Justiça, o petista era o candidato com o maior apoio entre o eleitorado. Segundo pesquisa Datafolha, em janeiro, ele tinha 36% das intenções de voto e venceria qualquer adversário nos cenários de segundo turno.

Não parece fácil para o PT desistir de um candidato tão competitivo e considerar alternativas, mesmo que a candidatura esteja seriamente ameaçada pela Lei da Ficha Limpa. São poucos os petistas que ousam discutir publicamente quem poderia no partido substituir Lula ou se a sigla deveria apoiar candidato de outra legenda.

A influência avassaladora de Lula na sigla, que nos últimos se submeteu a iniciativas pessoais do ex-presidente de impôr os candidatos da sua preferência, também desestimula que outros filiados tomem a iniciativa e se afastem por ora do "lulismo". A construção de outra opção meses antes das eleições parece depender de um gesto do próprio Lula.

A insistência na candidatura

Mesmo preso e com a perspectiva de ter a candidatura barrada, Lula poderia registrar a candidatura. O prazo final é 15 de agosto. Esse cenário pode resultar em uma situação curiosa: Lula disputar as eleições da cadeia.

Pelo calendário eleitoral, a candidatura teria que ser analisada até 16 de setembro, mas o petista poderia, em tese, continuar a concorrer apoiado em uma liminar. Mas, diante dos seguidos reveses do petista na Justiça, é grande a chance de que sua candidatura seja mesmo barrada, antes ou depois das eleições.

De acordo com as regras, os partidos podem substituir seus candidatos até 20 dias antes do pleito. Há precedentes de outros ameaçados pela Ficha Limpa, como o ex-governador Joaquim Roriz, que indicou sua mulher pouco antes das eleições de 2010.

Alguns petistas vinham apostando nessa fórmula antes da prisão. Pelo plano, Lula permaneceria fazendo campanha e no último momento indicaria um substituto. Historicamente, ele sempre teve um bom desempenho em transferir votos para um candidato da sua escolha. Foi assim com Dilma Rousseff em 2010.

O problema é que o cálculo levava em conta que Lula estaria livre para fazer campanha pelo país. Atrás das grades, seu cacife como cabo eleitoral deve diminuir. Isso já era uma tendência. Segundo o instituto Datafolha, entre novembro e janeiro, o percentual do eleitorado que não pretende votar em um candidato indicado por Lula subiu de 48% para 53%.

No seu derradeiro discurso no sábado (07/04) antes da prisão, Lula abriu espaço no palanque para os esquerdistas Manuela D'ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), ambos pré-candidatos à Presidência. São nomes que despertam simpatia em nichos da esquerda
No seu derradeiro discurso no sábado (07/04) antes da prisão, Lula abriu espaço no palanque para os esquerdistas Manuela D'ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), ambos pré-candidatos à Presidência. São nomes que despertam simpatia em nichos da esquerda
Foto: RD1

As alternativas no partido

Abalado nos últimos dez anos por seguidas denúncias de corrupção, o PT viu constantemente seus quadros mais fortes perderem influência. Sem a máquina pública e não contando mais com doações generosas de empresas, também deve enfrentar dificuldades em promover candidatos sem estatura nacional.

Dentro da sigla, algumas alas apontam que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad ou o ex-governador Jaques Wagner são os nomes mais viáveis para substituir Lula. Só que Wagner, apesar de ser conhecido no Nordeste, poderia assombrar a campanha com mais suspeitas de corrupção. Ele foi recentemente envolvido na Lava Jato. A PF suspeita que ele recebeu 82 milhões de reais de empreiteiras.

Além disso, o próprio Wagner não parece interessado em assumir a vaga. A interlocutores ele vem afirmando que prefere ajudar na campanha atuando em palanques no Nordeste. Ainda popular na Bahia, ele deve ser um dos favoritos para ganhar uma vaga no Senado.

Haddad, por sua vez, até agora não virou um alvo da Lava Jato. No entanto, ele é pouco conhecido no Norte e Nordeste do país. Sua própria vitória em São Paulo em 2012 também só vingou com o empurrão pessoal de Lula e a injeção de dezenas de milhões de reais. Sem dinheiro de doações e com a possibilidade de Lula permanecer na cadeia até o pleito, a candidatura tende a não repetir o sucesso de 2012.

Apoio a outro partido

Desistir do protagonismo nas eleições presidenciais seria algo inédito na história do PT. Desde a sua fundação, o partido sempre buscou a hegemonia entre a esquerda no Brasil. Desde a volta das eleições diretas, o partido sempre lançou um candidato como cabeça da chapa, concedendo no máximo a posição de vice a um membro de outro partido, como José Paulo Bisol, do PSB, em 1989; Leonel Brizola, do PDT, em 1998; ou ainda Michel Temer, do atual MDB, em 2010 e 2014.

No seu derradeiro discurso no sábado (07/04) antes da prisão, Lula abriu espaço no palanque para os esquerdistas Manuela D'ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), ambos pré-candidatos à Presidência. São nomes que despertam simpatia em nichos da esquerda, mas que por enquanto não decolaram nas pesquisas. O espaço concedido por Lula parece ter sido mais um gesto para unir as esquerdas em torno da sua própria candidatura do que para apresentar duas alternativas viáveis.

Segundo o Datafolha, em janeiro, Boulos nem chegou a pontuar na maior parte dos cenários. D'ávila apareceu com no máximo 2%. Mesmo nos cenários sem Lula ambos só devem herdar por enquanto uma fatia mínima dos votos.

Uma possível alternativa de apoio para o PT seria o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que pontua 7% nas pesquisas e seria o principal beneficiado pela saída do petista, passando para até 13%. O governador da Bahia, Rui Costa (PT), levantou em março essa possibilidade.

"Não podemos ficar nessa marra de que, se não há um nome natural do PT e se o Lula não puder ser (candidato), por que não pode ser de outro partido?", disse em entrevista ao portal UOL.

O apoio a Ciro, no entanto, colocaria o PT em uma situação similar a enfrentada por Brizola em 1998, quando o caudilho se tornou um coadjuvante. O nome do Ciro também provoca resistência entre alguns setores do PT. O próprio Ciro disse em em fevereiro não acreditar em uma aliança formal.

A falta do cabo eleitoral

Nas eleições de 2016, o PT perdeu 60% das prefeituras que havia conquistado em 2012. Foram derrotas humilhantes. Todos os sete candidatos do partido que chegaram ao 2° turno perderam.

Assim, o partido chega as eleições bastante fragilizado em um elemento considerado fundamental por analistas para um partido manter a influência: a capilaridade. "A presença nos estados e municípios ainda são fundamentais em uma disputa nacional", afirma o cientista político Oliver Stuenkel, da FGV-SP,.

No Senado, o PT ainda conta com nove senadores e 58 deputados - ainda é a maior bancada da Câmara, mas já chegou a contar com 91 deputados em 2002. Se ainda quiser manter suas largas fatia do fundo partidário e do recentemente criado fundo de campanhas, o PT deverá investir em manter essa bancada. Do contrário, arrisca se tornar uma sigla média.

Dentro do PT, se esperava que a candidatura de Lula ajudasse a impulsionar postulantes do partido que buscam à reeleição. Dos nove senadores, sete vão encerrar o mandato no final do ano. Até agora, só dois parecem ter uma reeleição segura. Sem Lula, os candidatos perdem um cabo eleitoral importante.

Para piorar, a insistência em Lula pode dificultar coligações com outros partidos, um elemento central da votação proporcional para conquistar vagas na Câmara, já que apenas algumas dezenas dos 531 deputados são normalmente eleitos com votos próprios.

"Ao insistir em Lula até as últimas consequências, sem garantia de que ele será candidato, o PT sabota a chance de formar alianças, que são decisivas em uma eleição", aponta o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio.

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