Após "ponto final" de Bolsonaro, Carlos ataca Mourão 8 vezes
Tuites incluem compartilhamento de vídeo que fala em conspiração do vice e afirma que Carlos não faz nada sem aval de Bolsonaro
Desde que o presidente Jair Bolsonaro (PSL), através de seu porta-voz, disse que queria colocar um “ponto final” na crise causada por ataques de Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), seu filho, ao vice presidente e general Hamilton Mourão (PRTB), Carlos desferiu oito novos tuites contra o vice até a conclusão deste texto.
O número não inclui uma postagem publicada às 19h10 desta terça-feira (23), mais ou menos concomitante com o pronunciamento da Presidência.
Logo em seguida o político publicou “nunca foi por briga e sim pela verdade!”, referindo-se ao desentendimento com o vice-presidente da República.
Nunca foi por briga e sim pela verdade!
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 23 de abril de 2019
A publicação seguinte, às 22h54 de terça-feira, foi a única desde o “ponto final” que não ataca Mourão. Trata-se de uma arte comemorativa ao número de seguidores de Carlos Bolsonaro na rede social, que passou de 1,1 milhão.
👍🏻👉🏻👉🏻 pic.twitter.com/Uu5i6gc4nZ
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 24 de abril de 2019
Em outras duas publicações, o vereador do Rio de Janeiro tenta associar o general Hamilton Mourão ao PT.
Primeiro, compartilhou uma notícia com fala do vice sobre a redução na pena do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Decisão do Judiciário a gente não comenta”, disse o general. “Tirem suas conclusões”, comentou Carlos Bolsonaro sobre a declaração.
Tirem suas conclusões.... de novo e de novo e de novo e de novo: https://t.co/suk3kLJ5yN
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 24 de abril de 2019
Em seguida, Carlos Bolsonaro compartilhou uma print de outra notícia. “Mourão critica ‘despetização’ de Onyx”, diz o título. A referência é a uma exoneração coletiva que o ministro fez de nomeados para cargos de confiança supostamente ligados aos governos do PT.
Vale lembrar que o STF sentiu a pressão da internet e ruas ao analisar estranho caso de liberdade de expressão. Decisão se cumpre, mas também se comenta. Qualquer outra interpretação mais uma vez demonstra a paixão camuflada! pic.twitter.com/dLLcGnmMoP
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 24 de abril de 2019
O vereador também citou o maior desafeto do bolsonarismo, o ex-deputado Jean Wyllys em seus ataques a Mourão. Ainda lembrou que seu desentendimento com o general é antigo.
Caiu no colo de Mourão algo que jamais plantou. Estranhíssimo seu alinhamento com políticos que detestam o Presidente. Qualquer um sabe que Jean Willians não saiu do Brasil por perseguição, mas por uma esperta jogada política cultural. Com a palavra, o culto: pic.twitter.com/8baawxnBzf
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 24 de abril de 2019
Lembro que não estou reclamando do vice só agora e tals.... são apenas informações! Não ataco ninguém, são apenas fatos que já aconteceram e gostaria de continuar compartilhando com os amigos! Um bom dia a todos!
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 24 de abril de 2019
Chamam a atenção ainda três vídeos retuitados pelo filho do presidente. Em um deles, uma análise política de um youtuber, fala-se de uma suposta conspiração capitaneada pelo vice. O ex-presidente Michel Temer (MDB), que subiu ao poder após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), é citado.
O vídeo que Carlos Bolsonaro ajudou a divulgar diz, ainda, que nada na comunicação do governo Bolsonaro acontece por acaso:
“Lembrem do caso Bebianno. Como o Carlos Bolsonaro também se expôs, mas com o aval do presidente. Tanto é que depois o Bebianno foi demitido. Nada que o Carlos Bolsonaro faz é sem autorização do presidente da República”, diz o locutor do vídeo.
Curiosa opinião dos organizadores do canal do youtube “Vista Pátria” sobre ocorrido hoje. Assista sua colocação. https://t.co/ghmcDIR5Kf
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 23 de abril de 2019
A penúltima tuitada do vereador tem um vídeo em que se fala de uma suposta “ambição presidencial” do general e vice presidente.
Atenção ao comentário: fontes no palácio do planalto disseram que poucas vezes detectaram tanta ambição presidencial em alguém como no vice-presidente Mourão. pic.twitter.com/rqAS1NXaFx
— Doc Holliday (@Luiz1003L) 24 de abril de 2019
Por fim (ou pelo menos por enquanto), o vereador acusa o vice de contrariar os atuais ministros do governo e a agenda que elegou o presidente.
Vice contraria Ministros e agenda que elegeu Bolsonaro Presidente. Por @bernardopkuster : vamos acabar com essa controvérsia e entender qual é a do tal Mourão. https://t.co/FKYS4ADoWM
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 24 de abril de 2019
A crise
O vereador do Rio de Janeiro tem atacado Mourão sistematicamente. Em entrevista publicada nesta quarta-feira, 24, pelo jornal O Estado de S. Paulo, outro filho do presidente (Eduardo, deputado federal) corrobora com a campanha do irmão.
Parte do alto escalão do Planalto tenta baixar a temperatura. Na terça-feira, 23, o porta voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, deu a declaração em que se falou em “ponto final” no caso Mourão-Carlos.
“Declarações individuais, publicadas nas mais diversas mídias, são de exclusiva responsabilidade daquele que as emite”. O pronunciamento, porém, não desautorizou o conteúdo do que tem sido dito pelo vereador nas redes sociais.
Notas publicadas por jornais falam que se suspeita que o próprio presidente Jair Bolsonaro concorda com campanha anti-Mourão de Carlos. O apoio de Eduardo dá força à tese. Um dos vídeos compartilhados pelo vereador, o que fala que Carlos não faz nada sem o aval do pai, pode ser entendido como mais um indício de concordância do presidente com a fritura do vice.
A crise começou no fim de semana, quando um vídeo com críticas aos militares integrantes do governo foi publicado inclusive na conta de Bolsonaro no Youtube. Posteriormente, o material foi removido.
O que incomoda os filhos do presidente é o protagonismo tomado pelo vice, muitas vezes consertando declarações desastradas de Bolsonaro. No fim do mês passado, ele se aproximou de alguns dos principais empresários do Brasil.
Essa não é a primeira escaramuça entre Carlos Bolsonaro e um membro importante do governo federal. O ex-ministro Gustavo Bebianno também era desafeto do filho do presidente. Bebianno atribuiu sua demissão a Carlos. Como vice, Mourão não pode ser demitido.