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Política

Após 'BBB', CPI da Covid vira paixão nacional

20 mai 2021 - 13h17
(atualizado às 14h28)
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O enredo é trágico, os personagens vestem o figurino indicado (com papéis bem definidos), há periodicidade na apresentação dos capítulos e o final pode ser surpreendente. Com o fim do programa Big Brother Brasil, da TV Globo, a CPI da Covid virou o novo reality show dos brasileiros. E com recordes de audiência. O canal criado pelo Senado no YouTube para informar sobre o andamento da comissão soma mais de 3 milhões de acessos em menos de um mês. Juntos, os vídeos sobre a investigação só perdem em visualização para a sessão do impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016.

Com a "apresentação" de oito depoimentos, a CPI criada para investigar ações e omissões do governo Jair Bolsonaro ao longo da pandemia caiu na boca do povo e cenas dos próximos capítulos são aguardadas com expectativa pelo público. Na quarta-feira, 19, a fala do ex-ministro Eduardo Pazuello foi vista mais de 853 mil vezes. Nos intervalos ainda foi possível acompanhar coberturas cheias de humor.

O comediante Marcelo Adnet, por exemplo, narrou parte do depoimento do ex-chanceler Ernesto Araújo, na terça-feira, como se fosse uma partida de futebol apresentada por Galvão Bueno e comentada pelo ex-jogador Casagrande. "Ele vai enrolando, ela vai gaguejando, não sabe o que é o que. Parece inebriado pelo álcool em gel, suas palavras não fazem mais sentido, vai dando voltas com a bola em campo", brincou.

Um dia depois, os vídeos postados por Adnet já somavam mais de 1,1 milhão de acessos e eram comentados até mesmo por deputados federais. "No meio de tantas tragédias e tantas mentiras, ainda bem que temos a genialidade do Adnet", disse Ivan Valente (PSOL-SP).

Na quarta, a "cobertura" continuou com a fala de Pazuello.

Interatividade

O interesse pela CPI é tanto entre eleitores e apoiadores de integrantes da comissão que senadores têm checado suas redes sociais em pleno interrogatório e até feito perguntas enviadas por internautas aos depoentes - caso do relator, Renan Calheiros (MDB-AL), que pede sugestões a seus seguidores nas redes sociais e publica vídeos editados com seus "melhores momentos".

Durante a fala do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, um vídeo postado nas redes sociais chegou a ser apresentado pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE) para desmentir declaração dada por ele minutos antes.

O ex-chefe da Secom disse que havia ficado 26 dias afastado de suas funções em março de 2020 por ter contraído covid-19. No vídeo gravado ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), no entanto, Wajngarten afirmava estar ótimo e trabalhando normalmente. Até aqui, o depoimento dele foi o mais assistido no canal do Senado, com mais de 642 mil acessos.

Já a senadora Kátia Abreu (PP-GO) alterna suas estratégias. Na terça, por exemplo, publicou um vídeo antes mesmo de a sessão começar, desejando que "Deus tivesse piedade da alma de Araújo". Sua participação incisiva rendeu depois uma série de memes nas redes.

'Bons personagens'

Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP, são vários os motivos que explicam esse interesse pela CPI da Covid. "Primeiro, o assunto, que é impactante e tem a ver com a vida de muitas pessoas. Depois, os personagens são bons e travam duelos retóricos dignos de um espetáculo. E, por fim, o assunto não é técnico. Diferentemente da CPI da Petrobras, por exemplo, que era chamada de a CPI do engenheiro, os temas tratados agora são de domínio público, ou seja, não exigem conhecimento técnico."

Teixeira ainda destacou que a comissão tem potencial de explicar à população de fato quais políticas ou ausências de políticas colaboraram para a tragédia humana que a crise sanitária representa no Brasil, com mais de 430 mil mortos. "Esse é o lado mais dramático da CPI, cujo material é o sofrimento."

No Telegram, que teve participação massiva no BBB 21, a diversão atual dos grupos é seguir os bate-bocas que se desenrolam no Senado. Só o Canal Espiadinha já soma quase 150 mil inscritos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Estadão
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