Conheça as cidades com mais atentados contra políticos
Uma pesquisa realizada pela Unirio revelou que há relação entre municípios com alta violência política e queda nas candidaturas
Os municípios brasileiros que registraram mais casos de atentados e assassinatos de políticos enfrentaram uma queda acima da média nacional no número de candidaturas nas eleições municipais de 2024, comparado a 2020. Essa tendência preocupa pesquisadores e autoridades, que apontam a violência como um fator decisivo para a desistência de muitos candidatos.
Um estudo conduzido pelo Grupo de Investigação Eleitoral (Giel) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) revelou que Duque de Caxias (RJ), Rio de Janeiro e Manaus foram as cidades com mais casos de violência política na última legislatura, de 2021 a 2024. Esses municípios tiveram uma diminuição significativa no interesse por cargos políticos.
Nos últimos quatro anos, Duque de Caxias teve dez casos de atentados ou homicídios contra lideranças políticas com cargo. O Rio de Janeiro registrou cinco casos, enquanto Manaus viu quatro incidentes. Em 2021, três vereadores de Duque de Caxias foram assassinados.
A pesquisa monitorou reportagens sobre violência contra políticos nos estados, utilizando palavras-chave para identificar e checar os casos. Os incidentes foram classificados em ameaças, agressões físicas, sequestros, atentados e homicídios, proporcionando um panorama detalhado da violência política no Brasil.
Violência política assusta os candidatos
As eleições municipais de 2024 registraram 103 mil candidatos a menos que em 2020, uma redução de 18%. O Rio de Janeiro teve uma queda de 43% (1.816 candidatos em 2020 para 1.022 em 2024). Em Manaus, a queda foi de 41% (1.411 em 2020 para 829 em 2024). Duque de Caxias teve 31% menos candidatos (721 em 2020 para 495 em 2024).
O cientista político Pedro Bahia, pesquisador do Giel, afirmou que a Baixada Fluminense é a região mais vulnerável à violência eleitoral. "Não dá para falar de violência contra lideranças políticas nessa região sem mencionar o avanço de organizações criminosas, como tráfico de drogas e milicianos. Além de dominarem territórios, eles também passaram a entrar nas eleições", explicou.
O pesquisador também afirmou que para eles, os atentados são uma estratégia. "Usam essa violência ou para interferir no resultado, ou usam a violência para evitar o surgimento de outras lideranças que vão contra os seus interesses."
Impacto dos atendados contra políticos impacta campanhas
Políticos e dirigentes partidários em Duque de Caxias, Rio e Manaus confirmam que a violência fez muitas pessoas desistirem da campanha este ano. Relatos incluem organizações criminosas autorizando exclusivamente a campanha de determinados políticos, levando outros candidatos a abandonarem suas intenções de concorrer.
Um ex-candidato no Rio de Janeiro, entrevistado pela Folha de São Paulo, desistiu após ouvir de vizinhos que um grupo armado local já havia autorizado outro candidato. Em Duque de Caxias, um aspirante a político abandonou a ideia quando soube de um acordo entre grupos armados e candidatos locais.
A Polícia Civil do Rio de Janeiro também investiga milicianos que teriam removido material de campanha de portas de moradores em Nova Iguaçu. Em 2022, a campanha do então candidato a deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM) foi alvo de tiros. O caso não foi concluído pela Polícia Civil do Amazonas, mas Mandel reforçou sua segurança após o incidente.
A violência política também gera impacto econômico nas campanhas. Em Duque de Caxias, o então candidato a deputado estadual Wesley Teixeira (PSB) relatou ameaças que levaram seu partido a gastar mais em segurança. Candidatos passam a utilizar veículos blindados e seguranças particulares para se protegerem.
Em 2021, três vereadores com mandato em Duque de Caxias foram assassinados em um intervalo de sete meses. O vereador Danilo do Mercado foi morto a tiros junto com seu filho. Quinzé, vereador por três mandatos, e Sandro do Sindicato também foram vítimas de assassinatos brutais.