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Não há ambiente para golpe no Brasil, diz Pacheco

Presidente do Senado afirma que país vive 'ambiente de tensão', mas que acredita que militares irão respeitar o resultado das eleições

20 mai 2022 - 14h53
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Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco afirmou que não há espaço para recusa dos resultados das eleições deste ano
Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco afirmou que não há espaço para recusa dos resultados das eleições deste ano
Foto: Pedro Gontigo/Agência Senado / BBC News Brasil

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse nesta sexta-feira (20/05) que não há ambiente para um golpe de Estado ou para a rejeição dos resultados das eleições presidenciais deste ano.

"Eu não vejo um mínimo ambiente para uma recusa do resultado eleitoral e muito menos de um golpe", disse Pacheco durante entrevista concedida a agências internacionais e à BBC News Brasil.

A entrevista foi realizada em meio às recentes tensões entre o presidente Jair Bolsonaro (PL), que é pré-candidato à reeleição, e o Poder Judiciário.

Nesta semana, Bolsonaro moveu uma notícia-crime contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, por suposto abuso de poder. O ministro é relator de inquéritos que investigam a suposta participação de Bolsonaro na disseminação de informações falsas e será o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante as eleições deste ano.

A ação contra Moraes, no entanto, foi rejeitada pelo ministro Dias Toffoli. Nesta semana, Bolsonaro ainda voltou a questionar a lisura do processo eleitoral do Brasil ao criticar a possibilidade de o país receber observadores internacionais durante as eleições.

Indagado sobre a possível vinda de observadores, Pacheco disse que a iniciativa é "bem-vinda".

"Todo movimento que busque se dar transparência ao processo eleitoral, para poder identificar o que para mim é muito claro, que é a lisura do processo eleitoral [...] toda iniciativa é bem-vinda", disse.

Pacheco está em seu primeiro mandato como senador e preside o Senado e o Congresso Nacional desde 2021.

Nessa função, sua atuação é vista por analistas como cautelosa. Se por um lado ele não confronta diretamente o presidente Bolsonaro, por outro, evita se posicionar demasiadamente próximo a ele.

'Nós temos uma democracia já assimilada pela sociedade. As urnas eletrônicas são motivo de orgulho para o povo brasileiro', declarou Pacheco
'Nós temos uma democracia já assimilada pela sociedade. As urnas eletrônicas são motivo de orgulho para o povo brasileiro', declarou Pacheco
Foto: TSE / BBC News Brasil

Nos últimos meses, Pacheco tem usado as redes sociais para rebater, ainda que sem confrontos diretos com Bolsonaro, alegações contra a segurança do sistema eleitoral.

Na entrevista, Pacheco afirmou esperar que o Brasil não seja palco de manifestações contrárias ao resultado das eleições como as que ocorreram nos Estados Unidos em janeiro de 2021, quando apoiadores do ex-presidente Donald Trump invadiram o Capitólio, sede do Legislativo americano.

"Eu, sinceramente, espero que não aconteça. Nós temos uma democracia já assimilada pela sociedade. As urnas eletrônicas são motivo de orgulho para o povo brasileiro. A despeito das críticas que elas vêm sofrendo nos últimos tempos, elas sempre foram tidas como eficientes. Repito: motivo de orgulho nacional", afirmou.

Militares e eleições

Questionado sobre seus contatos com a cúpula militar, Pacheco disse que as Forças Armadas deverão respeitar o resultado das eleições mesmo que Bolsonaro, que foi oficial do Exército, perca a disputa.

Atualmente, o presidente aparece em segundo lugar nas principais pesquisas de intenção de voto, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Eu considero que sim [que as Forças Armadas irão respeitar o resultado das eleições]. As Forças Armadas são instituições constitucionais presentes na vida dos brasileiros. Delas nós nos orgulhamos também pela disciplina e pelo profissionalismo. De modo que não tenho dúvidas da maturidade, do papel das Forças Armadas na busca também do consenso com respeito ao resultado eleitoral", afirmou o presidente do Senado.

O temor de que os militares possam não respeitar o resultado das eleições caso Bolsonaro perca surgiu após a série de questionamentos que o Exército fez à Comissão de Transparência das Eleições (CTE), criada pelo TSE no ano passado, sobre o funcionamento das urnas eletrônicas e do sistema de apuração e totalização dos votos.

Em uma transmissão na internet, Bolsonaro chegou a sugerir que o TSE disponibilizasse um 'cabo' para que os votos também fossem totalizados por computadores das Forças Armadas
Em uma transmissão na internet, Bolsonaro chegou a sugerir que o TSE disponibilizasse um 'cabo' para que os votos também fossem totalizados por computadores das Forças Armadas
Foto: Reuters / BBC News Brasil

Em uma transmissão na internet, o presidente Bolsonaro chegou a sugerir que o TSE disponibilizasse um "cabo" para que os votos também fossem totalizados por computadores das Forças Armadas.

No mês passado, o ministro do STF, Luiz Roberto Barroso, disse que os militares estariam sendo usados para desacreditar o processo eleitoral. O Ministério da Defesa reagiu e publicou uma nota classificando a declaração como "irresponsável" e uma "grave ofensa".

Conhecido por seu perfil conciliador, Pacheco admitiu, no entanto, que o Brasil vive um ambiente de tensão.

"Hoje, há um ambiente de tensão no país. Eu não quero atribuir a motivação exclusivamente ao presidente da República, mas há um ambiente de tensão e que nós precisamos distensionar", disse Pacheco.

Questionado, Pacheco disse acreditar que este é o momento mais difícil pelo qual o Poder Judiciário do país passa em relação a ataques institucionais desde a redemocratização, em 1985.

"Eu considero que sim [que este é o momento mais difícil para o Judiciário desde a redemocratização]. Esse é um momento de muitos ataques ao Poder Judiciário e ataques ao Supremo Tribunal Federal. Naturalmente, é preciso se identificar os motivos desses ataques porque o STF se tornou alvo de ataques, inclusive, vindo de uma boa parte da camada da sociedade da população", diz o parlamentar.

Pacheco afirmou, no entanto, que é preciso que o próprio Judiciário avalie o que pode fazer para diminuir os pontos de tensão. Uma das alternativas, ele afirmou, seria rediscutir o papel das decisões monocráticas do STF.

Decisões monocráticas são aquelas tomadas por apenas um ministro ou ministra e que entram em vigor até serem avaliadas pelo plenário ou pelas turmas da Corte.

Orçamento secreto

Questionado pela BBC News Brasil sobre o chamado "orçamento secreto", Pacheco disse que não lhe caberia fazer "autocrítica" sobre o caso.

"Autocrítica não. Eu assumi a Presidência [do Senado] com uma realidade orçamentária e, uma vez tendo a decisão do STF, busquei aprimorar de fato a decisão [...] Foi uma decisão que serviu de uma advertência em relação a um ponto que até então não estava sendo considerado. Nós considerávamos nascia a partir da indicação do relator [...] O Supremo nos alertou para o ponto, mas porque o relator indica para todo o Brasil se ele é apenas de um Estado. E aí, de fato, foi o que nós corremos", afirmou o senador.

Pacheco admite que Brasil vive ambiente de tensão. 'Eu não quero atribuir a motivação exclusivamente ao presidente da República, mas há um ambiente de tensão e que nós precisamos distensionar', disse
Pacheco admite que Brasil vive ambiente de tensão. 'Eu não quero atribuir a motivação exclusivamente ao presidente da República, mas há um ambiente de tensão e que nós precisamos distensionar', disse
Foto: Pedro Gontijo/Senado Federal / BBC News Brasil

Orçamento secreto é como ficou conhecida a forma como bilhões de reais do orçamento federal vêm sendo distribuídas a partir das chamadas emendas de relator.

Entre 2020 e o início de 2022, parlamentares faziam indicações ao relator do orçamento sobre onde essas emendas deveriam ser aplicadas. O problema é que o mecanismo para saber sobre quem eram os verdadeiros responsáveis pelas indicações não era claro.

Analistas avaliam que esse mecanismo favoreceria o governo em troca de apoio no Parlamento.

Em novembro de 2021, a ministra do STF, Rosa Weber, mandou suspender a execução dessas emendas. Posteriormente, ela liberou a execução das emendas, mas determinou que fossem criados mecanismos para dar mais transparência à dinâmica de indicação das emendas.

Homeschooling

Pacheco também disse na entrevista que não deverá acelerar a tramitação do projeto de lei que regulamenta a educação domiciliar no país.

A matéria faz parte da chamada "pauta de costumes" ou "ideológica" apoiada pelo governo Bolsonaro. O projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados na quarta-feira (18/05), mas ainda precisa ser aprovada no Senado.

"Não haverá açodamento para essa apreciação [...] Existe uma comissão de Educação e não seria razoável subtrair dela um tema desses", disse Pacheco.

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