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Militares e pesquisadores divergem sobre dia do golpe

31 mar 2014 - 10h41
(atualizado às 11h00)
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O golpe militar de 1964 foi, durante muitos anos, estudado nos livros de história do Brasil como revolução militar. Defensores do regime que derrubou o governo do presidente João Goulart também o chamavam de contrarrevolução de 1964. O nome, no entanto, não é a única divergência sobre esse momento histórico. Militares, historiadores e pesquisadores discordam também sobre a data em que o golpe foi consumado.

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"Os vencedores sempre escolhem como contar a história e, por isso, durante décadas, se comemorou no país, em 31 de março, o dia da revolução militar de 1964", explica o professor da Universidade de Brasília (UnB) Virgílio Arraes, doutor em história das relações internacionais. Para ele, lembrar a data no dia 1º de abril - ­ "Dia da Mentira no Brasil e Dia dos Bobos nos Estados Unidos" - ­ poderia ser um sinal de descrédito, nacional e internacionalmente.

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No dia 31 de março, à noite, o general Olímpio Mourão Filho, com apoio do governador de Minas Gerais, José Magalhães Pinto, seguiu com suas tropas de Juiz de Fora (MG) para ocupar a cidade do Rio de Janeiro, a cerca de 200 quilômetros de distância, e depor o presidente João Goulart (Jango). Chefes militares de todo o país, além dos governadores do estado da Guanabara, Carlos Lacerda, e de São Paulo, Adhemar de Barros, aderem ao movimento, que, para muitos autores, se efetiva no dia 1º de abril, um dia depois da data estabelecida pelos conspiradores.

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No dia 1º, vários cidadãos são presos pelos militares, incluindo o então governador de Pernambuco, Miguel Arraes. Um dos marcos históricos da deposição de Jango, no entanto, é o discurso do senador Auro de Moura Andrade. Presidente do Congresso à época, ele declara, de forma inconstitucional, a vacância da Presidência da República.

O anúncio, apresentado nas primeiras horas da madrugada de 2 de abril, acrescenta mais uma data na história do golpe. Jango, que ainda estava no Brasil, não reagiu. O cargo foi assumido provisoriamente pelo então presidente da Câmara, Ranieri Mazilli, sob tutela de uma junta militar.

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"Não é uma coisa banal, porque tem uma importância simbólica. Não aceitar o dia 31 é uma forma de denunciar o golpe", avalia o professor Rodrigo Patto Sá Motta, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O historiador explica que os opositores ao golpe defendem a data de de 1º de abril como "uma estratégia de ridicularizar o movimento militar" que, desde o início, estabeleceu o 31 de março como Dia D.

"Do ponto de vista mais frio dessa história, a data que deveria ser lembrada é 31 de março ou 2 de abril, porque não há nenhum evento que justifique usar o 1º de abril como o dia do golpe", opina Motta. Segundo ele, o movimento militar que culminou com o golpe se iniciou no dia 31 de março e foi vitorioso no dia 2 de abril, com Goulart deixando Brasília rumo ao Sul do país e sendo decretada a vacância da Presidência. "O dia 1º de abril não tem nenhuma razão objetiva para ser usado como data, a não ser essa brincadeira, gozação contra a ditadura, como o dia da mentira, uma data pejorativa e que tem um sentido político."

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Filho do presidente deposto, João Vicente Goulart relata que seu pai esperou a posse de Mazzili para ter certeza do golpe e partiu para o Uruguai apenas no dia 4 de abril. "Para mim, a data é o dia 2 de abril, quando se empossa Mazzilli e o governo norte­americano, duas horas depois, reconhece o novo governo brasileiro, com o presidente eleito [Jango] ainda dentro país."

Visto como algo insignificante por alguns e como simbólico e nada ingênuo por outros, a polêmica sobre o data não influenciou a natureza do golpe, que levou o país a mais de duas décadas de regime militar. "É mais uma dessas coisas tipicamente brasileiras e não tem nada a ver, porque poderia ter sido em qualquer dia que não mudaria a substância da coisa, porque foi um golpe, a tomada pelo poder", avalia o historiador da UnB Pio Penna, que defende 1º de abril como a data do golpe.

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Agência Brasil Agência Brasil
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