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Lula nega acordos ilícitos com Odebrecht e diz que Palocci mentiu

13 set 2017 - 20h49
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Em seu segundo depoimento ao juiz federal Sergio Moro, em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ter feito qualquer acordo ilícito com a Odebrecht e afirmou que seu ex-ministro Antonio Palocci mentiu ao envolvê-lo diretamente na compra de um terreno pela empreiteira para o Instituto Lula, em troca de manter um bom relacionamento com o governo.

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega à Justiça Federal em Curitiba para prestar depoimento
13/09/2017 REUTERS/Rodolfo Buhrer
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega à Justiça Federal em Curitiba para prestar depoimento 13/09/2017 REUTERS/Rodolfo Buhrer
Foto: Reuters

Demonstrando irritação em alguns momentos, Lula falou por cerca de duas horas nesta quarta-feira no processo em que é acusado de ter recebido vantagens ilícitas da Odebrecht, incluindo a compra de um imóvel para sediar seu instituto, em São Paulo.

"A única pessoa que falou comigo desse prédio foi o presidente do instituto, Paulo Okamoto. Nós já tínhamos visitado outros para alugar ou para fazer oferta de compra", disse o ex-presidente. "Fui uma única vez e disse na hora 'não me interessa, é inadequado'", afirmou.

Em depoimento na semana passada no mesmo processo, o ex-ministro afirmou que Lula havia negociado pessoalmente com Marcelo e Emílio Odebrecht um pacote de vantagens ilícitas em troca de manter um bom relacionamento com o governo de Dilma Rousseff, que costumava ser mais dura com a empresa.

O pacote, segundo Palocci, incluiria o imóvel para o instituto Lula, a compra do sítio em Atibaia e uma conta com 300 milhões de reais a ser usada pelo ex-presidente e o PT.

Em sua fala, Lula acusou Palocci de mentir para obter os benefícios da delação, de ser frio e calculista e que seu depoimento foi "cinematográfico", armado para que o ex-ministro dissesse o que o Ministério Público queria ouvir.

"Eu conheço o Palocci bem. O Palocci, se não fosse um ser humano ele seria um simulador. Ele é tão esperto que ele é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade. Ele é médico, calculista, é frio. Nada daquilo é verdadeiro. A única coisa que tem de verdade ali é ele dizer que está fazendo aquela delação porque ele quer o benefício da delação", disse o ex-presidente.

Lula, no entanto, disse não estar com raiva de Palocci.

"Muita gente achou que eu ia chegar com muita raiva do Palocci. Eu achei que o Palocci está preso há mais de um ano, o Palocci tem o direito de querer ser livre", disse. "O que não pode é se você não quer assumir a tua responsabilidade pelos fatos ilícitos que você fez, não jogue em cima dos outros."

O advogado de Palocci na negociação do processo de delação, Adriano Bretas, disse à Reuters que repudiava "com veemência" as declarações de Lula e que ele não tem condições de criticar quem opta pela colaboração.

"Eu devolvo para ele esses mesmos atributos. Dissimulado é o Lula, que nega tudo aquilo que o contraria, que quando falam alguma coisa contra ele é mentiroso, quando o documento é apresentado, é falso", disse.

Em entrevista coletiva concedida em um hotel de Curitiba também após o depoimento de Lula, o advogado Cristiano Zanin Martins, que representa o ex-presidente, afirmou que as declarações de Palocci "não merecem qualquer credibilidade" e disse que o ex-ministro, como réu no mesmo processo, não tem a obrigação de dizer a verdade em seu depoimento.

Zanin também centrou fogo em Moro e nos procuradores que atuam na Lava Jato.

"Embora a base da acusação seja os oito contratos da Petrobras, nem o juiz Moro, nem o Ministério Público fizeram qualquer pergunta sobre esses contratos", disse o advogado, argumentando que os procuradores não apresentaram provas da culpa de Lula, ao passo que, segundo ele, a defesa produziu provas da inocência do ex-presidente.

EMBATE

Como em seu primeiro depoimento, o encontro de Lula com Moro teve momentos de embate entre o ex-presidente e o juiz. Lula chegou a acusar o juiz de ser "desrespeitoso" e mostrou irritação ao ser questionado sobre atos de sua esposa, dona Marisa, morta no início deste ano.

De novo, o juiz pediu que o ex-presidente não fizesse campanha ou discurso e se ativesse às perguntas, sem sucesso.

Ao final do depoimento, Lula pediu para fazer uma pergunta a Moro. O ex-presidente disse que almoçaria na quinta com seus netos e com sua bisneta e indagou: "Eu posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que eu vim a Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?"

O magistrado então rebateu que não cabia a Lula fazer este tipo de questionamento, mas respondeu que sim. Lula então disse que este não foi o caso na ação sobre um apartamento tríplex no Guarujá na qual foi condenado por Moro, e foi repreendido pelo juiz.

"A minha convicção foi de que o senhor foi culpado. O senhor apresente as suas razões no tribunal", disse Moro.

Lula criticou fortemente a Lava Jato e o Ministério Público, e chegou a citar o caso da delação do empresário Joesley Batista.

"Estamos vendo o que está acontecendo com (Rodrigo) Janot, o que está acontecendo com (Marcelo) Miller. E a força-tarefa da Lava Jato está tratando de destruir o MP contando inverdades", afirmou.

"Eu poderia ficar zangado, nervoso, mas eu quero enfrentar o MP, sobretudo a força-tarefa, para provar minha inocência. Só quero que eles tenham a grandeza de um dia pedir desculpas."

Em discurso durante um ato em uma praça de Curitiba após prestar depoimento, Lula voltou a criticar a Lava Jato e disse que prefere morrer a passar para a história como "um mentiroso para o povo brasileiro".

"Se eles estão com medo de que eu volte a governar esse país, é bom eles terem medo mesmo", disse Lula. "Eu não sei se eles vão cansar. Eu não vou cansar. Quero lutar até os últimos dias da minha vida... Se querem me cassar, me prender, me condenar, achando que isso vai acabar com a luta, considero cada um de vocês um Lulinha."

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